Dia da Toalha também é dia de Star Wars

Dia da Toalha também é dia de Star Wars

25 de maio é o famoso Dia da Toalha. Apesar do nome referir-se à série de livros do “Guia do Mochileiro das Galáxias”, de Douglas Adams, a data escolhida faz referência à estreia do primeiro filme da saga “Star Wars”, em 1977. Em 2021, completou 44 anos esse marco fundador da cultura nerd, que dominou o mundo. Até agora foram três trilogias e mais alguns caça-níqueis. Mas o que significa “Star Wars”, para além de ser uma máquina de fazer dinheiro.

O produtor e diretor norte-americano George Lucas escreveu o roteiro do primeiro filme da saga “Star Wars”, intitulado hoje “Episódio IV: Uma Nova Esperança”, inspirado pela leitura da obra de Joseph Campbell. Juntamente com a leitura do místico Carlos Castaneda, a concepção de arquétipos universais desenvolvida por Campbell norteou seu trabalho de vários anos no desenvolvimento da primeira sinopse até o roteiro final. A ligação entre o teórico acadêmico e o cineasta tornou-se tão estreita que o documentário “O Poder do Mito”, o célebre conjunto de entrevistas que Campbell concedeu ao jornalista Bill Moyers, pouco antes de falecer, em 1987, foi em grande parte filmada no rancho Skywalker, localizado nas colinas ao norte de São Francisco, na Califórnia.

No documentário “A Mitologia de Star Wars”, realizado no final dos anos de 1990, Bill Moyers voltou ao rancho para entrevistar seu proprietário. O jornalista inicia o diálogo observando que “Joseph Campbell disse que todos os grandes mitos, os mitos primitivos, as grandes histórias precisam ser recriadas, se elas querem ter algum impacto. E você fez isso com ‘Star Wars’. Você está consciente disso?”. George Lucas respondeu que: “Quando fiz ‘Star Wars’, conscientemente, eu comecei a recriar mitos e os temas mitológicos clássicos. E eu queria usar esses temas para falar de assuntos que existem hoje em dia”. Mais adiante, mostrando consciência do papel pedagógico dos mitos e do cinema enquanto elemento fomentador da formação das novas gerações, Lucas acrescentou que “quando faço filmes estou ciente do fato de estar ensinando numa escala maior”.

Não é por acaso que “Star Wars” se passa “há muito tempo, em uma galáxia distante”. A fronteira do tempo e do espaço, estabelecidos desde a cena de abertura, funciona como um elemento de recorrência à tradição, à Era de Ouro. O que se vai assistir é um conto de sabedoria vindo do passado.

Luke Skywalker, um arquetípico herói mítico, atravessa todas as seis etapas da formação heroica: a inocência, o chamado da aventura, iniciação, aliados, rompimento e celebração. Seu passado é misterioso e o espectador só vai descobrir seu verdadeiro papel no sangrento jogo de poder que acontece nessa galáxia muito distante ao longo do desenrolar da história. O jovem Skywalker, que parecia ser um mero peão, mostra-se uma peça muito mais importante. Algo que ele mesmo ignorava. Esse é o estado de inocência no qual o encontramos pela primeira vez.

No início de “Uma Nova Esperança”, de 1977, o herói mora com os tios no desértico planeta Tatooine, onde trabalha em uma fazenda. Apesar de reservado e obediente, é um jovem impetuoso. Seu sonho é se alistar como cadete na academia militar do Império, onde poderá tornar-se piloto da frota estelar. Por algum motivo que desconhece, para sua constante decepção, seu tio Owen Lars sempre consegue adiar sua partida. Luke Skywalker, cuja tradução do sobrenome seria algo como “caminhante do céu”, permanece preso a terra. Em dado momento, resmunga que “se existe um centro luminoso na galáxia, esse planeta é o ponto mais distante dele”.

O chamado da aventura acontece quando seu tio comprar de uma raça de diminutos vendedores de sucata dois droides encontrados perdidos no deserto: R2D2 e C-3PO. Enquanto limpa R2D2 da poeira do deserto, Skywalker acaba se deparando com parte de uma mensagem holográfica enviada pela bela Leia Organa, princesa do planeta Alderaan, a um eremita local, um velho misterioso chamado Ben Kenobi. A missão do droide é encontrar o destinatário. Juntos, o eremita e Skywalker descobrem que Leia foi capturada por Darth Vader e que R2D2 carrega em sua memória uma importantíssima mensagem secreta destinada aos rebeldes que lutam contra a opressão do Império: um ponto fraco na Estrela da Morte, uma estação de combate do tamanho de um planeta. O eremita, na verdade um general jedi chamado Obi-wan Kenobi, deve fazer com que a mensagem chegue aos revoltosos. Ele convoca Skywalker para ajudá-lo. Mesmo tentado, o jovem recuso. Precisa voltar para casa. Imagina que seus tios devem estar preocupados. Porém, quando volta descobre que a fazendo foi destruída pelas stormtroopers, as tropas imperiais, e sua família foi assassinada por soldados do Império que caçam os droides. Sem opção, sem nada que o prenda à Tatooine, o herói aceita seu destino, parte de sua zona de conforto, o mundo que conhece, e começa sua iniciação nos segredos da Força.

O primeiro filme da saga Star Wars foi o marco inicial da era nerd no cinema

O processo de iniciação heroica de Luke Skywalker é lento e doloroso. Ocupa os dois terços finais do “Episódio IV” e quase todo o “Episódio V — O Império Contra-Ataca”. Começa na viagem que realiza para resgatar Leia Organa, onde é apresentado aos rudimentos do controle da energia conhecida como A Força, que cerca tudo o que existe no universo. Logo perde seu mentor, testemunhando sua morte pelas mãos de Darth Vader em duelo. Na batalha em que destrói a Estrela da Morte, o herói descobre que seu mestre não o abandonaria, tornando-se uma presença mística que o acompanharia por toda a vida. Já como um guerreiro reconhecido, comandante da Aliança Rebelde, passa a treinar no planeta pantanoso de Dagobah com o centenário mestre Yoda. Ali ele trava um duelo “imaginário” com Darth Vader. Enfrentando seus fantasmas interiores, descobre que pode tornar-se igual ao terrível Vader. Não muito tempo depois, decide abandonar o treinamento, numa tentativa desesperada de salvar seus aliados.

Os aliados do herói são tipos simples que cumprem funções muito precisas na trama. Leia Organa é a princesa que precisa ser resgatada. Obi-wan Kenobi o mago sábio que se torna em figura paterna. Han Solo, piloto da Millennium Falcon, o rebelde lacônico que se torna amigo inseparável do herói. O copiloto da nave é Chewbacca, um gigantesco alienígena animalesco, faz eco à Enkidu, aliado de Gilgamesh. Os droides R2D2 e C-3PO, espécie de dupla de Sancho Panças, cumprem função de alívio cômico. Somam-se posteriormente outros aliados, como o mestre Yoda, muito poderoso apesar da estatura diminuta, e Lando Calrissian, o bom-malandro que busca redenção.  Personagens arquetípicos que o ajudam com conselhos, o resgatam em situações extremas ou mesmo forçam-no a agir e enfrentar seus temores mais secretos, para poder triunfar sobre eles.

O momento do rompimento acontece quando Luke Skywalker descobre que é filho de Darth Vader, na verdade o jedi traidor Anakin Skywalker. Em duelo, o pai decepa a mão do filho e tenta-o com promessas de glória e poder se aceitar converter-se para o Lado Negro da Força. Episódio que faz referência a dois mitos célebres: o primeiro é o mito do titã Saturno que devorou os filhos, o segundo a tentação que Fausto sofreu diante das promessas de Mefistófeles. Diferentemente de Fausto, Luke não cede ao pacto no qual perderia sua alma. Encurralado, decide saltar no nada. Poderia morrer, é um salto de sacrifical; mas, miraculosamente, consegue sobreviver, sendo resgatado por seus aliados. Mas não é mais o mesmo homem. Com a mão substituída por uma prótese mecânica, torna-se, assim como o pai, um homem soturno, com parte de sua humanidade destruída. O herói está transformado. Seu objetivo agora é aprimorar suas habilidades e, finalmente, confrontar Darth Vader de igual para igual. Deseja tornar-se um verdadeiro cavaleiro jedi.

A teoria do ciclo do herói serviu de Joseph Campbell serviu de base para narrativa de Star Wars

No último filme da primeira trilogia, “Capítulo VI – O Retorno do Jedi”, quando resgata Han Solo, enfrenta e derrota Darth Vader, ajuda a eliminar o Imperador e restaurar a liberdade na galáxia, Luke Skywalker deixou para trás sua aparência ingênua, solar, juvenil. Converteu-se em um cavaleiro permanentemente vestido de negro, porém sóbrio e de tranquilidade inabalável. Tornou-se um sábio. Um jedi invencível e poderoso, disposto a usar seus poderes para o bem da coletividade. Cumpriu a trajetória completa do herói mítico. De jovem passou a adulto, de mortal passou a (semi) deus.

Obi-wan Kenobi vaticinou que “a força é poderosa na família Skywalker”. Mas, diferente de Luke, seu pai, Anakin, não é um herói mítico. Sua trajetória não ensina pelos méritos, pelo acúmulo de sabedoria, ensina, sim, pelo exemplo. É um personagem trágico.

O filósofo macedônio Aristóteles, no texto “d’Arte Poética”, estabelece que a tragédia clássica se organiza em seis diferentes elementos que possuem a finalidade de purgar emoções como a compaixão e o terror. Esses elementos são a Fábula, constituída pelo enredo da tragédia, seguida pelo Ethos ou Caráter, o personagem que protagoniza a ação. Em seguida, a Elocução ou dicção, a maneira como a narrativa será contada, a Dianóia, o pensamento, a composição do espetáculo em cena, e a Melopeia, ou canto.

Segundo Aristóteles, a tragédia se estrutura em “prólogo”, “párodos, “episódio”, “estásimo” e “êxodo”. O prólogo apresenta o Ethos, o protagonista, como um indivíduo com potencial para grandes atos, mas, ao mesmo tempo, dono de características indesejáveis. Esses caracteres definem seu modo de agir, sua “dianoia”, que irá determinar o rumo das ações. No decorrer da apresentação do enredo, tais características são colocadas gradativamente à prova. O personagem passa por situações catastróficas que o impedem de alcançar seus objetivos. Para Aristóteles a tragédia precisava ser um espetáculo marcado pela beleza, onde se reunia o canto, a harmonia e o ritmo, para gerar no público identificação com o personagem e depois, por ocasião de sua queda, um efeito de catarse. Essa “empatia”, identificação entre público e personagem é gerada pela “harmatia”, que é a impureza, a falha de caráter que caracteriza todo ser humano. O herói mítico, por almejar algum tipo de perfeição, não gera necessariamente condições para provocar “empatia”.

Na estrutura típica da tragédia sempre ocorre a “peripécia”, a transformação de forma repentina do destino do personagem. Uma mudança negativa que o levará a agonia existencial. Na Grécia Antiga, o protagonista costumava ser também o corifeu, o líder do coro. Nessa condição ele pode fazer uso da estratégia da “anagnorisis”, onde discursa diretamente para o público buscando o reconhecimento e a compreensão da sua falha. Ele aceita e confessa seu erro, buscando redenção. Mas é inútil, o protagonista da tragédia está destinado ao momento da “catástrofe”, o desmoronar de toda a estrutura de seu Ethos. Segue-se o final terrível característico da tragédia. Nele o público realiza sua “catarse”, a purificação da harmatia apresentada no início do espetáculo. Na Grécia do século V a.C. acreditava-se que ao assistir as apresentações das tragédias, o espectador saia do teatro purificado. O teatro grego era por definição um fenômeno religioso.

No “Episódio I — A Ameaça Fantasma”, Anakin Skywalker surge como uma criança generosa e tranquila, mas que guarda em seu âmago algo de sutilmente perturbador. Apenas mestre Yoda, em sua infinita sabedoria milenar, consegue perceber essas falhas, pouco condizentes com o caráter esperado de um padawan, um aprendiz jedi. No “Episódio II — O Ataque dos Clones”, Anakin é um jovem guerreiro descuidado, apressado e voluntarioso. Defrontasse com sua “peripécia” quando massacra cruelmente uma tribo de “homens da areia” que sequestrou sua mãe, em Tatooine. Mais uma vez é Yoda que percebe um tremor na Força. Escuta em seu íntimo almas gritando em agonia. Responsável por um genocídio, fazendo-o com suas próprias mãos, em nome da vingança, Anakin Skywalker deu seu primeiro passo rumo ao Lado Negro da Força. Um jedi nunca se vinga. A vingança é típica de guerreiros sith. No “Episódio III — A Vingança dos Sith”, condecorado como herói de guerra, membro do conselho jedi, Anakin não se dá por satisfeito. Motivado por seu imenso orgulho, e ira interna, mas também por medo de perder o que mais ama, sua esposa, se rede ao inevitável. Deixa-se seduzir pelo Lado Negro da Força. Torna-se Darth Vader, trai e caça seus antigos confrades da Ordem dos Cavaleiros Jedi.

Em um duelo com seu ex-amigo e mestre Obi-wan Kenobi, mesmo sendo muito mais poderoso, é derrotado. Motivado pelo orgulho de sua força, tenta aplicar um golpe impossível e, em meio a um salto, tem dois braços e uma perna decepadas. É deixado para morrer queimado pela lava que brota de todos os lugares do palco do duelo, o planeta Mustafar. Resgatado pelo Imperador Palpatine não morre. É enclausurado em uma armadura negra que se torna ao mesmo tempo sua prisão e o sustentáculo de sua vida. A queda trágica de Anakin apenas começou no instante de sua conversão ao Lado Negro da Força ou com sua derrota no duelo. Estabeleceu-se de fato não com sua morte, mas com sua sobrevivência na forma pálida de um fantasma negro. Apenas uma sombra do poderoso guerreiro que um dia foi. Perdeu sua esposa, seus filhos, seus amigos. Tornou-se um servo.

E na condição de servo de luxo Darth Vader atravessa os episódios IV, V e VI. Enche de terror alguns, não todos, funcionários do burocrático Império. Mas, na prática, é visto como um velho feiticeiro deslocado de seu tempo. Um cão de guarda de seu novo mestre, o Imperador Palpatine.

A filosofia esotérica de Carlos Castaneda inspirou o conceito de Força em Star Wars

Se por um lado a saga “Star Wars”, em sua completude, é a longa história de Anakin Skywalker, cumprida sua tragédia, ele só consegue alcançar a redenção quando se torna coadjuvante de um herói mítico, seu filho. O resultado do combate final entre eles é sintomático. Pode ser compreendido como a vitória de Zeus sobre Saturno. O filho que, por obra da mãe, não foi devorado pelo genitor, que volta para enfrentá-lo. Nesse caso, não para tomar seu lugar, mas para devolvê-lo a sua antiga natureza de “guerreiro pacífico”. Quando liberta Leia Organa, a irmã da qual foi separada ao nascer, e como se Luke a retirasse do estomago de Saturno. O retorno do jedi que dá título ao filme acontece de fato quando Darth Vader tira a máscara e dá a conhecer seu rosto, mas, sobretudo, na última cena da hexalogia quando seu espectro surge ao de Obi-wan Kenobi e Yoda, durante a festa de comemoração pela queda do Império.

George Lucas era um abnegado quando se tratava de desafiar impérios. Seu objetivo ao fazer cinema, e ter gigantesco sucesso financeiro nessa área, era movido, sobretudo, por seu desejo de impor sua visão artística aos estúdios de Hollywood. Quando Luke salta no vazio para fugir da tentação de Vader e Lucas que está saltando no vazio para fugir da tentação do sistema fordista de produção de Hollywood. É sintomático que George Lucas tenha se desligado da associação de diretores quando se recusou a estragar a dramaticidade da abertura do filme colocando os créditos no início da projeção. Se “George é igualzinho a um contador quando se trata de dinheiro” e ache estranho que alguém goste de seu filme de estreia THX — 1138 porque “ele não fez dinheiro algum”, é uma ganância dirigida para comprar sua liberdade criativa. 

Ao mesmo tempo em que a saga “Guerra das Estrelas” é uma retomada de mitos antigos, atemporais, dialoga profundamente com seu tempo. Esses mitos foram recriados com uma máscara cultural contemporânea. Diversas influências político-culturais de Lucas estão presentes na narrativa, explicitamente ou nas entrelinhas.

A origem do conceito da Força talvez seja um dos mais obscuros. Além de Campbell, a maior influência de Lucas na escrita do roteiro do filme foi o escritor místico Carlos Castaneda. Obi-wan Kenobi foi inspirado no xamã Don Juan, personagem de Castaneda, e a “força vital” citada por ele, tornou-se a Força. Influenciado pela cultura oriental, do Yin e Yang, o diretor deu para essa energia um lado positivo, chamado Ashla, e um negativo, chamado Bogan: que se tornaria o Lado Negro da Força. O visual de samurai de Luke Skywalker também é devedor dessa relação. Possivelmente motivado pela admiração que Lucas nutria pelo genial diretor japonês Akira Kurosawa. O mesmo pode ser afirmado acerca do sabre de luz, uma espada oriental estilizada. Há outros detalhes peculiares: Yoda significa “guerreiro” em sânscrito; e o nome Padmé, a mãe dos gêmeos Luke e Leia, significa “lótus”, a flor que encerra muito da simbologia dessa cultura. 

Para além das referências transcendentes “Guerra nas Estrelas” é também um filme sobre filmes. Foi trabalhado para ser uma fantasia na tradição de Buck Rogers, Flash Gordon, uma combinação de 2001 e James Bond. Algumas homenagens são obvias. Por exemplo: a cena na qual Luke Skywalker descobre que a fazendo onde cresceu foi destruída reproduz a fotografia da cena de “Rastros de Ódio”, de John Ford, onde o personagem de John Wayne descobre que a fazenda de sua irmã foi atacada por índios. O enquadramento é, praticamente, o mesmo.

A tradição do faroeste, tão caro aos norte-americanos, é muito presente na saga. A geração de Lucas cresceu assistindo filmes do gênero. Desde as obras-primas de John Ford e Howard Hawks, até os pastiches infantis de Roy Rogers e Rin-tin-tin. Não é novidade que os modernos filmes de ação são adaptações da lógica aventuresca dos faroestes dos anos 1940 e 50. Substituiu-se o cowboy pelo soldado, pelo pária habilidoso, pelo policial que não segue as regras, pelo aventureiro deste e de outros mundos etc. O índio pode ser visto nos vilões russos, nos alienígenas invasores, nos traficantes internacionais etc. Representam, basicamente, algo em que o protagonista pode mirar sua arma. E atingir as dezenas.

A encarnação máxima disso é Han Solo. Seu vestuário, sua atitude, seus reflexos, são os de um cowboy clássico. Há o colete, o coldre destacado, o saque rápido; só falta o chapéu. Curiosamente, foi o chapéu de cowboy que caracterizou o corredor de arrancadas Bob Falfa,  personagem que Harrison Ford interpretou no filme anterior de Lucas, “Loucuras de Verão”, de 1963, passado na década de 1950. E, é claro, o arqueólogo aventureiro Indiana Jones que Lucas iria produzir no início da década de 1980.

No decorrer da construção da mitologia da saga, as referências se refinam. O cineasta Francis Ford Copolla foi o principal incentivador de Lucas em seu início na indústria cinematográfica. “O Poderoso Chefão” é citado em “O Retorno do Jedi”. A morte do gângster espacial Jabba, o Hutt, estrangulado por Leia Organa, é uma citação ao estrangulamento do gângster Luca Brasi no filme de Copolla.

Finalmente, outra inspiração importante para “Guerra nas Estrelas” veio da obra de J. R. R. Tolkien. Lucas não deixou de homenageá-lo. A lua Endor, habitada pelos ewoks, é o nome da Terra-Média na língua dos elfos em “O Senhor dos Anéis. Aliás”, a trilogia de Tolkien, embora esse aspecto seja pouco trabalhado, mais do que uma mera inspiração a mais, pode ser tranquilamente apontada como precursora da obra de Lucas. Dificilmente, a galáxia muito distante de Lucas existiria sem a Terra-Média de Tolkien. Angústia da influência nos moldes de Harold Bloom? Talvez, mas essa é outra história.