Como fazer uma revolução

Como fazer uma revolução

O espírito revolucionário toma conta do mundo inteiro, senhoras e senhores! Como renomado especialista no assunto, recebi vários e-mails pedindo esclarecimento. Por isso, a fim de ajudar o revoltoso iniciante nessa longa jornada, fiz uma espécie de “FAQ da Revolução” com as melhores perguntas que recebi.

Até a vitória final… sempre!

Quero fazer uma revolução, mas não sei por onde começo. Como faço? (Carlos Marques, Goiânia)

Querido Carlos Marques, o primeiro passo para uma boa revolução é ficar revoltado com alguma coisa. Se você não é revoltado com nada, talvez deva experimentar a música sertaneja, que dá muito mais dinheiro. Pense nisso.

Como eu sei quando a revolução começou? (Vladimir Lenine, Campo Grande)

Vá até a rua. Se o lugar estiver cheio de gente pulando e gritando é porque a revolução começou. Mas confira se não tem um trio elétrico na frente da multidão. Se tiver, não é revolução, é carnaval.

Como eu sei quando a revolução acabou? (Arnesto Guevara, São Paulo)

Arnesto, essa é uma questão complexa. Leon Trotsky, um dos líderes da revolução russa, achava que o troço era igual carnaval na Bahia: tinha hora para começar, mas não para terminar. Para ele, não adiantava ganhar a revolução num país só, o negócio era continuar revolucionando até conquistar o mundo inteiro. Isso irritou bastante Joseph Stálin, que era colega de Trotsky e ditador da União Soviética. Stálin só queria ficar numa boa, mas Trotsky não parava de encher o saco com esse papinho de revolução “permanente”. Aí o Stálin foi lá e matou ele.  

Opa! Mas um revolucionário pode matar outro revolucionário?! (Robespierre da Silva, Sapopemba)

O homo sapiens é o único animal que mata por divergência de opinião, Robespierre. Outros bichos apenas defendem seus territórios e… olha, pensando bem, é exatamente a mesma coisa…

O que eu faço quando a revolução triunfar? (Fidel Castro, Havana)

Quando a revolução triunfar e o inimigo for removido, é preciso implantar um novo regime o mais rápido possível. Desta forma, os revolucionários do futuro também terão a oportunidade de se revoltar.

Vale a pena fazer uma revolução comunista? A China, por exemplo, cresce muito mais que o Estados Unidos, não cresce? (Paulo Guedes, Brasília)

Paulinho, Paulinho… a China só é comunista na cabeça do Olavo de Carvalho. Mas ele também acredita que a Terra é plana…

Mas Terra é plana, não é? (Francisco Bergoglio, Roma)

Depende. Se a empreiteira consegue empréstimo no BNDES, ela vai deixar tudo planinho, planinho. Mas se for para fazer a obra com capital próprio e sem dinheiro público, a Terra vai ter um montão de curvas e ladeiras, que é pra diminuir o custo e aumentar o lucro.

Quero fazer uma revolução, mas tenho preguiça de enfrentar a polícia. Tem jeito? (Felipinho Neto, Osasco)

Sim. Basta abrir uma conta no Twitter e “cancelar” todo mundo que você não gosta. Mas tome cuidado: se seguir só gente que concorda com você, pode sofrer a ilusão de que a revolução já aconteceu e que não há mais nada de errado com o mundo. 

Destruir estátuas na revolução é ok? (Iconoclasta de Souza, Leblon)

Sim. A estátua é um samba-enredo em forma de pedra. Alguns sambas-enredo merecem ser preservados, outros não. Com estátua é exatamente a mesma coisa. Pro Borba Gato, em São Paulo, ninguém dá bola, mas o Cristo Redentor, no Corcovado, é melhor deixar onde está.

A revolução será televisionada? (Projackson Pereira, Barra)

O jazzista Gil Scott Heron acreditava que não, mas ele nunca tinha visto uma novela das nove com a Regina Casé fazendo papel de doméstica. Então a resposta é “sim, a revolução será televisionada”. Mas se não der audiência, a emissora vai cortar alguns capítulos.

Venci a revolução e agora quero ficar numa boa. Corro o risco de virar um reacionário? (Nicolás Maduro, Caracas)

Sim, corre. Como diz o Batman, “ou você morre como o herói da história ou vive o bastante para virar o vilão”. Ou talvez tenha sido o Leon Trotsky. Um dos dois, não sei. No mundo todo, apenas duas coisas conseguiram ser “revolucionárias” e “institucionalizadas” ao mesmo tempo: o Partido Revolucionário Institucional (PRI), no México, e o Chico Buarque, no Brasil.

Eu também venci a revolução, mas a chama da revolta ainda arde no meu peito. O que fazer? (Pocinho de Revolta, São Paulo)

Uma boa revolução é igual um produto “made in Paraguai”: precisa ganhar o mercado externo. Napoleão Bonaparte, por exemplo, foi uma espécie de “revolução francesa” em movimento, removendo velhas monarquias e fazendo novos reis — no geral, parentes dele. Che Guevara trocou um ótimo emprego de banqueiro em Cuba pelas selvas da Bolívia. E o velho Leon Trotsky, já citado aí em cima, levou seu ímpeto revolucionário da Rússia para o México. Ele esperava Diego Rivera sair pra pintar muro e revolucionava a tarde inteira com a Frida Kahlo. Lembre-se: revolução é um estado de espírito, não um estado de coisas.