Gilberto Gil, o Super-Homem da música popular brasileira

Gilberto Gil, o Super-Homem da música popular brasileira

Crédito editorial: Benjamin Kralj / Shutterstock.com

É bom ter amigos. Dinheiro emprestado. Um cargo comissionado no governo. Porres homéricos. Diversão com prostitutas. Alguém para trocar a fralda geriátrica, para esvaziar o saco de bostas, para avisar à enfermeira de plantão que o soro da veia já era ou que o coração parou de bater. No meu caso, fui agraciado com um lindo par de ingressos para o show de Gilberto Gil. Foi muita sorte a minha. Os preços estavam impraticáveis. Não gastei nem um puto. Gastar grana gera gastura à minha própria pessoa. Por sinal, ando a latir no quintal para economizar cachorro. Mas, a maturidade e o meu amor pela música dobraram o meu orgulho. Confiante num famigerado tráfico de influências — pequei, sim, confesso que pequei; minha culpa, minha máxima culpa —, solicitei ao meu editor na Revista Bula que cavasse bilhetes para mim. Credenciais da imprensa, ainda que eu não fosse um membro da imprensa.

Sentindo-se prensado, conseguiu as entradas. Mas, não existe almoço de graça. Acabei incumbido de entrevistar o baiano Gilberto Gil nos bastidores, a serviço da Bula, uma das revistas eletrônicas mais desprezadas e odiadas pelos sacripantas das redes sociais na internet. Topei a empreitada, não sou bobo e nem nada. Entrei no camarim carregando uma fedorenta sacola de pequis, com um bilhetinho pregado nele, onde ia advertido que nunca, jamais, nem se a vaca tossisse, Gilberto Gil e seus asseclas deveriam morder o caroço do pequi, sob pena de encherem a língua de espinhos, as minúsculas espículas que ficam no miolo. Chupar, podia. Gil achou a recomendação hilária, perguntou se pessoas hipertensas como ele podiam comer a iguaria, puxou uma cadeira e pediu, com a gentileza de sempre, que eu me sentasse.