“Operação Natal” parte de uma premissa simples e deliberadamente exagerada: o sequestro de Papai Noel desencadeia uma missão global que mistura ação, fantasia e espionagem em escala industrial. O roteiro acompanha Callum Drift, interpretado por Dwayne Johnson, chefe da segurança do Polo Norte, obrigado a se aliar a Jack O’Malley, vivido por Chris Evans, um hacker cínico e oportunista que só se envolve por interesse próprio. A narrativa se organiza como uma corrida contra o tempo para impedir que o colapso simbólico do Natal se transforme em um desastre logístico e moral de alcance planetário.
O começo do filme foca nesse conflito. Não há ambiguidade quanto ao objetivo, nem tentativas de inflar o argumento com subtextos artificiais. A ameaça é concreta, o prazo é curto e as regras desse universo são rapidamente estabelecidas. O sequestro de Papai Noel não funciona como alegoria sofisticada, mas como motor dramático eficiente, capaz de sustentar uma sucessão contínua de eventos sem exigir suspensão de descrença além do razoável para o gênero.
Construção do universo e mitologia
O aspecto mais consistente da narrativa está na forma como o filme organiza seu mundo. O Polo Norte opera como uma agência internacional secreta, equipada com tecnologia avançada e hierarquia rígida. Personagens como Nick, o próprio Papai Noel vivido por J.K. Simmons, e Grýla, interpretada por Kiernan Shipka, reforçam a tentativa de integrar mitologias diversas sob uma mesma lógica operacional. O resultado não é profundo, mas é funcional. Tudo obedece a um sistema reconhecível, evitando lacunas narrativas que costumam fragilizar produções desse tipo.
A escolha de mesclar folclore nórdico com estruturas de filmes de ação contemporâneos cria uma identidade própria. Mesmo quando os efeitos digitais oscilam em qualidade, a coerência interna impede que essas falhas contaminem o andamento do enredo. A lógica do mundo permanece estável, o que garante fluidez ao relato e mantém o espectador orientado, ainda que o excesso visual ocasionalmente chame mais atenção do que deveria.
Personagens, conflitos e atuações
Callum Drift é construído como um profissional exausto, guiado por dever mais do que por entusiasmo. Dwayne Johnson atua com contenção incomum para seus padrões recentes, sustentando um protagonista rígido, quase burocrático, que precisa reaprender a confiar. Jack O’Malley, por outro lado, representa o pragmatismo individualista levado ao limite. Chris Evans investe em ironia seca e timing preciso, evitando o humor escancarado e apostando em desgaste moral gradual.
A dinâmica entre os dois segue estrutura clássica de antagonismo funcional. Não há tentativas de subversão desse modelo, mas a progressão é bem dosada. As motivações de O’Malley se transformam de maneira previsível, porém lógica, o que torna sua mudança aceitável dentro das regras narrativas estabelecidas. Personagens secundários cumprem funções claras, sem disputas desnecessárias por protagonismo.
Tom, ritmo e intenção
“Operação Natal” não ambiciona redefinir gêneros nem dialogar com debates contemporâneos. Seu foco está no entretenimento direto, organizado e consciente de suas limitações. O ritmo raramente desacelera, e quando o faz, é para reafirmar vínculos emocionais básicos, sem recorrer a sentimentalismo insistente. A previsibilidade do desfecho não compromete o percurso, porque o interesse do filme reside no trajeto, não na surpresa.
A recepção crítica excessivamente hostil ignora esse ponto central. A proposta nunca foi oferecer densidade filosófica ou reflexão social elaborada. O valor da experiência está na execução competente de uma ideia assumidamente extravagante. Ao aceitar essa condição, o filme cumpre aquilo a que se propõe: uma narrativa de escapismo controlado, tecnicamente organizada e intelectualmente honesta quanto às próprias ambições.
★★★★★★★★★★






