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50 cidades brasileiras com nomes improváveis e a origem mais provável

50 cidades brasileiras com nomes improváveis e a origem mais provável

O Brasil mantém uma lista oficial de municípios, usada em estatísticas e cadastros públicos. A reportagem partiu desse universo para chegar a 50 cidades com nomes que, para muita gente, soam “inventados” no primeiro contato. O recorte não tenta medir humor nem disputar o troféu de “mais estranho do país”. A seleção se guiou por sinais que aparecem no próprio topônimo: presença de hífen; uso de verbo ou expressão (“Venha-Ver”, “Passa e Fica”, “Varre-Sai”); composição literal (“Arroio dos Ratos”, “Sem-Peixe”); diminutivos (“Tartarugalzinho”); repetições (“Xique-Xique”); e grafias pouco frequentes no português cotidiano, embora muito comuns em topônimos de origem indígena.

A lista final foi organizada por regiões e escrita para uso editorial: em cada item, o município, a UF e uma explicação curta do nome. Como a intenção é entregar “os significados mais possíveis”, as explicações aparecem como a leitura mais provável ou mais difundida — não como “verdade única”. Em toponímia, isso importa: o mesmo nome pode circular com versões concorrentes, uma ancorada em elemento geográfico (rio, serra), outra em planta ou animal, outra ainda na memória comunitária.

Por que alguns nomes viram isca perfeita de curiosidade

Topônimos são peças de cultura material. Muitos nascem de referências práticas do lugar — um rio que batiza um povoado, uma árvore que vira ponto de encontro, um pouso de viajantes, uma fazenda com apelido marcante — e só depois entram em documentos, mapas e leis. Daí a explicação para cidades que carregam palavras do cotidiano ou frases inteiras: o nome começou como fala, apelido ou indicação funcional e, com o tempo, foi fixado no território, repetido em placas, documentos e endereços.

Há também o choque entre o tom do nome e a formalidade do status de município. “Anta Gorda”, “Não-Me-Toque” ou “Ponto Chique” soam informais, mas pertencem à mesma família de nomes descritivos que se espalha pelo país. E nomes longos como “Pindamonhangaba” chamam atenção por preservar formas de línguas indígenas e processos antigos de adaptação fonética ao português. Esse conjunto costuma “viralizar” por um motivo simples: a surpresa é instantânea, e o público corre aos comentários para dizer “isso existe”, “eu moro aí” e “na minha família sempre contaram que…”.

O que dá para afirmar sobre “origem do nome”

Aqui há duas camadas. Uma é objetiva: o município existe e tem grafia oficial (acentos, hífens e espaçamento). A outra é interpretativa: a história do nome pode ser transparente em alguns casos e controversa em outros. Na prática, dá para agrupar origens em cinco grandes famílias: (1) nomes descritivos de natureza e geografia (arroio, rio, planta, bicho); (2) nomes religiosos (santo + referência local); (3) homenagens a pessoas e famílias; (4) nomes que vieram de fazendas, rotas e pontos de parada; (5) topônimos indígenas, em que o significado pode variar conforme a leitura de raízes e a tradição regional.

Por isso, quando o sentido não é consensual, a lista evita cravar tradução única e prefere indicar a leitura mais comum: “origem indígena, interpretação varia”, “apelido popular fixado”, “nome de rio ou localidade anterior”, “homenagem”. Essa redação sustenta a publicação e, ao mesmo tempo, não mascara limites: não transforma memória oral em documento nem escolhe a versão “mais engraçada” como se fosse certeza.


Região Norte


Tartarugalzinho (AP) — diminutivo ligado ao rio/localidade Tartarugalzinho (topônimo associado ao “tartarugal”).


Canutama (AM) — topônimo de origem indígena, ligado a rio/localidade; significado varia conforme a fonte.


Curralinho (PA) — diminutivo de curral, associado a ocupação/fazenda antiga.


Tracuateua (PA) — origem indígena, associada a denominações antigas da área; interpretação varia.


Combinado (TO) — nome ligado a núcleo/projeto de ocupação que ficou conhecido como “Combinado”.


Pugmil (TO) — costuma ser explicado como referência a máquina “pugmill” usada na região.


Chupinguaia (RO) — origem indígena; significado não é consensual em versões populares.


Região Nordeste


Coité do Nóia (AL) — “Coité” (planta/fruto) + “Nóia” (sobrenome/apelido local) como fixação do topônimo.


Chorrochó (BA) — topônimo antigo associado a localidade/rio; origem exata tem versões.


Xique-Xique (BA) — referência ao cacto xique-xique, comum no semiárido.


Uauá (BA) — origem indígena; sentido varia nas interpretações (há leituras ligadas a fauna/insetos).


Jijoca de Jericoacoara (CE) — topônimos indígenas; “Jericoacoara” é frequentemente interpretado como “toca das tartarugas”, com variações.


Russas (CE) — origem discutida; costuma ser associada a designação antiga de pessoas/lugar (há versões).


Choró (CE) — associado ao rio/localidade Choró, com provável raiz indígena.


Tuntum (MA) — associado ao rio/localidade Tuntum; há leituras populares onomatopeicas.


Paudalho (PE) — geralmente explicado como “pau-d’alho”, árvore/planta que teria marcado o lugar.


Xexéu (PE) — referência ao pássaro xexéu.


Solidão (PE) — nome descritivo ligado à ideia de isolamento/sertão.


Piripiri (PI) — geralmente associado a “periperi”, vegetação/capim de áreas úmidas; grafia virou “Piripiri”.


Baía da Traição (PB) — topônimo histórico ligado a narrativas da colonização e a um episódio descrito como “traição”.


Passa e Fica (RN) — expressão popular ligada a ponto de parada onde viajantes “passavam e ficavam”.


São Miguel do Gostoso (RN) — “São Miguel” (referência religiosa) + “Gostoso” (topônimo local antigo).


Pau dos Ferros (RN) — topônimo antigo associado a madeiras e marcas/ferros usados na região (há versões).


Venha-Ver (RN) — expressão popular (“venha ver”) fixada como nome; há mais de uma versão local para a origem.


Tomar do Geru (SE) — junção de “Tomar” (referência histórica) com “Geru” (rio/localidade).


Região Centro-Oeste


Mossâmedes (GO) — geralmente explicado como homenagem ligada ao Barão de Mossâmedes/autoridades coloniais associadas ao núcleo inicial.


Feliz Natal (MT) — associado ao rio/localidade batizada com referência ao Natal (explicação tradicional).


Batayporã (MS) — nome ligado a homenagem a Baťa (colonização/empreendimento) com elemento de formação toponímica regional.


Região Sudeste


Sooretama (ES) — origem indígena; interpretações variam (associação a mata/fauna aparece em versões).


Ressaquinha (MG) — diminutivo com cara de apelido; origem exata tem versões locais.


Sem-Peixe (MG) — nome descritivo, ligado à ideia de curso d’água “sem peixe” ou pouca pesca.


Virginópolis (MG) — formação “-ópolis”; geralmente associada a referência religiosa (Virgem) ou a nome de pessoa/família (há versões).


Cuparaque (MG) — origem indígena; significado não é consensual em versões populares.


Fruta de Leite (MG) — referência a fruta/denominação popular local chamada “fruta de leite”.


Passa Tempo (MG) — expressão/topônimo de pouso: lugar de parada (“passar o tempo”) em versões locais.


Pintópolis (MG) — “-ópolis” com homenagem a Pinto/família Pinto (explicação tradicional).


Ponto Chique (MG) — apelido popular ligado a “lugar bonito” que acabou virando nome oficial.


Varre-Sai (RJ) — expressão popular ligada a ordem/aviso em ponto de parada (“varre e sai”), conforme versões tradicionais.


Vassouras (RJ) — associado a vegetação (“vassourinha”) e/ou produção antiga de vassouras (há versões).


Santa Rita do Passa Quatro (SP) — “Santa Rita” (referência religiosa) + “Passa Quatro” (topônimo ligado a travessias do curso d’água).


Bady Bassitt (SP) — homenagem a pessoa (nome de figura pública), fixada por alteração toponímica.


Pindamonhangaba (SP) — topônimo tupi frequentemente interpretado como “lugar onde se fazem anzóis”, com variações de análise.


Região Sul


Borrazópolis (PR) — sobrenome + “-ópolis”: homenagem a Borraz e formação “cidade de”.


Ariranha do Ivaí (PR) — referência à ariranha + rio Ivaí (topônimo descritivo).


Goioxim (PR) — origem indígena; interpretação varia conforme a fonte.


Rolândia (PR) — homenagem cultural ao personagem Roland/“Roland”, adotada na colonização local.


Anta Gorda (RS) — topônimo descritivo ligado a episódio/tradição local envolvendo anta; nome ficou.


Não-Me-Toque (RS) associado à planta chamada “não-me-toque” e/ou a antiga fazenda/localidade com esse nome.


Putinga (RS) — origem indígena/vegetal em versões; significado não é consensual.


Arroio dos Ratos (RS) nome descritivo do arroio/localidade associado a presença de ratos.