Todo Natal, estúdios produzem remessas gigantescas de filmes festivos. Todos eles tentam capturar a atmosfera mágica, a estética das luzes e histórias inspiradoras, sejam elas de amor, sobre família, amizade ou, simplesmente, sobre fé. A verdade é que poucos deles conseguem se manter firmes na memória coletiva, consolidando-se como clássicos do gênero e marcando épocas. “O Milagre da Rua 34”, “Felicidade Não Se Compra”, “Esqueceram de Mim”, “O Estranho Mundo de Jack” e “O Amor Não Tira Férias” são alguns dos filmes que conseguiram furar a bolha, transcender o padrão e permanecer ao longo de décadas como receitas infalíveis para levar aos lares de todo o mundo a magia do Natal.
Embora a gente assista a dezenas de filmes natalinos durante essa época de fim de ano, poucos são aqueles que permanecem intocados na lembrança, com cenas que ficam gravadas na mente e um sentimento de infância que nunca termina. O gosto é bom: renova as esperanças, faz com que a gente se esqueça das coisas ruins que aconteceram ao longo do ano e nos lembra de que ainda é importante sonhar. “O Expresso Polar” é um deles, embora seja uma animação. Com uma trilha impecável e o desejo de reacender a chama natalina, a animação de Robert Zemeckis com Tom Hanks é uma verdadeira máquina do tempo que nos transporta de volta à infância.
Da página ilustrada ao cinema digital
Inspirado no livro de Chris Van Allsburg, publicado em 1985, “Expresso Polar” teve seus direitos adquiridos por Tom Hanks no fim da década de 1990, quando o ator começou a colocar em ação o plano de transformá-lo em filme, ao lado de Zemeckis e do roteirista William Broyles Jr. Os três contribuíram para a versão final do enredo, que expandiu as 32 páginas do livro para um longa-metragem, acrescentando cenas de ação, novos personagens e ampliando o arco do protagonista. Rodado inteiramente a partir de performance capture, técnica em que atores vestem roupas de captura para que a animação seja criada tecnologicamente a partir de seus movimentos, o longa privilegiou uma estética em que os personagens não fossem nem realistas demais nem cartunescos.
A jornada do Garoto-Herói
O enredo gira em torno do Garoto-Herói, um menino que não acredita em Papai Noel e tenta dissuadir sua irmã de acreditar no “bom velhinho” também. Vigilante durante toda a madrugada para pegar em flagrante quem quer que esteja se passando por Noel, o garoto acaba se deparando com um trem noturno que o convida a seguir até o Polo Norte. Incrédulo, o menino se nega, a princípio, a embarcar na aventura. Mas logo muda de ideia e entra no expresso, encontrando a Garota-Heroína, um garoto mimado e Billy, um menino pobre que deixou de acreditar no Natal por causa de sua vida difícil. As crianças enfrentam diversas complicações ao longo da viagem até o improvável encontro com o Papai Noel. Se tudo não passa de um sonho do protagonista ou não, cabe ao espectador decidir. Mas o enredo deixa claro seu compromisso com a fé no impossível.
O Condutor (Hanks) é quem comanda a jornada. Em uma de suas falas mais icônicas dirigidas ao Garoto-Herói, ele afirma que o mais importante não é o destino final, mas a decisão de embarcar no trem, uma mensagem que convida os espectadores a dar um salto de fé, a acreditar no impossível, como já dizia Antoine de Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos”. O Natal, no fim das contas, não é sobre o Papai Noel existir ou não, mas sobre decidirmos acreditar na magia.
A canção “Believe”, composta por Alan Silvestri para o filme, funciona como o tema central e a locomotiva emocional da história. Vencedora do Grammy e indicada ao Oscar em 2005, ela nos arrebata para dentro da narrativa e nos ajuda, mais uma vez, a acreditar.
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