Alex Rose atravessa o luto com uma apatia inquieta, como se a pressa fosse uma forma de não parar para sentir. Em “A Lista da Minha Vida”, Sofia Carson interpreta essa jovem adulta diante de um ultimato afetivo e jurídico: a mãe, Elizabeth, vivida por Connie Britton, deixou regras para a herança condicionadas a uma lista de desejos escrita na adolescência. Kyle Allen aparece como Brad, o advogado encarregado de executar o testamento. Dirigido e roteirizado por Adam Brooks, o filme segue Alex no instante em que ela decide se aceita cumprir a lista e arcar com a mudança.
Tudo se acende num vídeo gravado por Elizabeth antes de morrer: para saber o que vai receber, Alex precisa completar, em um ano, a lista anotada quando tinha 13. O pacto empurra e ameaça ao mesmo tempo. Há dinheiro a liberar, mas há também a chance de prolongar uma conversa interrompida, já que cada tarefa abre uma nova mensagem. Adaptado do romance de Lori Nelson Spielman, o enredo põe a saudade para andar em decisões pequenas, sempre batendo no mesmo limite: o tempo que não volta.
Itens da lista como prova pública e rotina
No começo, Alex escolhe o caminho mais curto: atacar metas que pareçam administráveis, sem mexer no que realmente dói. Só que a lista foi escrita por alguém que ainda não tinha medo de se expor. Um dos itens é fazer stand-up, e o filme trata essa obrigação como teste público de voz e presença. O problema não é apenas subir ao palco; é sustentar a própria fala quando a tristeza atravessa a frase. O riso vem do tropeço, mas deixa um silêncio logo depois.
A lista vira calendário. Vira cobrança. Vira desculpa. Alex marca horários, perde horários, remarca. Erra. Volta. Tenta outra vez. Brad reaparece para conferir, registrar, liberar o próximo vídeo. O obstáculo, aqui, é a sensação de que a vida passou a obedecer a cláusulas, e não à vontade. O efeito é uma protagonista que corre para cumprir metas e, quase junto, se retrai, como se o último risco de caneta pudesse apagar a presença de Elizabeth.
Amor verdadeiro, Garrett e o papel de Brad
Entre um item e outro, o filme abre espaço para o conflito mais previsível e mais funcional da história: a busca por “amor verdadeiro”, também colocada na lista. Brad surge como possibilidade desde o começo, porque é guardião das regras e, por isso mesmo, alguém que acompanha Alex de perto. Há ainda Garrett, vivido por Sebastian de Souza, que se aproxima como outra linha de afeto e contraste. O obstáculo é direto: romance pede abertura num período em que ela ainda mede as próprias forças, e qualquer gesto de intimidade parece exigir um fôlego que não está garantido.
Mas a lista não serve apenas para empurrar encontros. Uma das metas tira Alex do circuito habitual, numa viagem a Vermont para encontrar o pai biológico, até então mantido à distância. O obstáculo não mora numa revelação única, e sim no acúmulo de ressentimentos que aparece em respostas defensivas e silêncios longos, além do medo de descobrir que a reconciliação pode ser menor do que a esperança. O efeito é deslocar o centro da história para família e raízes, com segredos familiares entrando no cálculo de cada escolha.
O preço da progressão e a emoção polida
Esse desenho tem um ganho evidente: oferece progressão nítida, item a item, sem precisar de reviravoltas artificiais. Cobra, ao mesmo tempo, um preço. Quando o roteiro resolve cada etapa com eficiência demais, o sentimento pode ficar polido, com lágrimas e risos chegando na marca certa. A relação entre mãe e filha sustenta as cenas melhores, ou melhor, sustenta o que há de mais vivo nelas, porque as mensagens gravadas recolocam Elizabeth na rotina da filha e expõem expectativas, frustrações, carinho e cobrança.
Brooks trabalha com objetivos claros, obstáculos reconhecíveis, passos curtos. A rotina se organiza por prazos e deslocamentos, e isso dá credibilidade ao percurso: ir e voltar pesa, cada trajeto parece um compromisso assumido com relutância. A rua vira prazo. O caminho vira decisão. O item da lista, pendência.
Ainda assim, há momentos em que essa rigidez cede. Quando Alex entende que cumprir uma meta não é o mesmo que mudar de vida, ela precisa escolher se segue apenas riscando itens ou se aceita que um item a transforme. A decisão ganha forma na convivência com Brad, no atrito com o pai biológico, na insistência do humor em expor falhas sem crueldade. A consequência é uma história que alterna comedimento e emoção sem trocar de registro, sugerindo que o constrangimento também pode ser coragem.
Quando o prazo encosta na virada do ano, a lista deixa de ser lembrança e passa a comandar escolhas concretas, sempre acompanhadas pela voz gravada de Elizabeth. Alex segue em movimento, obrigada a medir o que consegue cumprir e o que ainda evita encarar, com Brad por perto, não como recompensa, mas como testemunha. O filme volta ao papel dobrado, ao testamento, ao vídeo que recomeça, e interrompe a frase no instante em que a caneta hesita sobre o próximo item.
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