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Hanna: thriller com Eric Bana, Cate Blanchett e Saoirse Ronan cruza espionagem, infância e controle estatal, na Netflix Divulgação / Focus Features

Hanna: thriller com Eric Bana, Cate Blanchett e Saoirse Ronan cruza espionagem, infância e controle estatal, na Netflix

“Hanna” parte de uma situação extrema que já define todo o conflito moral do enredo. Hanna, interpretada por Saoirse Ronan, cresce em isolamento absoluto numa floresta do norte europeu, treinada desde pequena por Erik Heller, vivido por Eric Bana. Ele não é apenas um pai rigoroso: é um ex-agente da CIA que transformou a filha numa arma humana. Caça, luta corpo a corpo, múltiplos idiomas e resistência física fazem parte de uma rotina que elimina qualquer vestígio de infância convencional. O objetivo é direto: preparar Hanna para executar Marissa Wiegler, agente da inteligência americana interpretada por Cate Blanchett, responsável por um passado que envolve a morte da mãe da garota e uma operação obscura do Estado. O roteiro estabelece cedo que não se trata apenas de vingança pessoal, mas de um acerto de contas com estruturas institucionais que fabricam violência e depois tentam apagá-la.

O mundo exterior como ameaça

Quando Hanna deixa a floresta e atravessa fronteiras, o filme muda de registro. A garota entra em contato com a sociedade contemporânea pela primeira vez, e essa passagem não funciona como alívio, mas como tensão contínua. A curiosidade diante de objetos simples, como eletricidade ou televisão, revela o tamanho da lacuna entre sua formação e a vida comum. Ao mesmo tempo, a perseguição conduzida por Marissa se intensifica. Cate Blanchett constrói uma antagonista que evita caricaturas: sua frieza administrativa, o humor seco e a obsessão pelo controle indicam alguém moldado pelo mesmo sistema que criou Hanna. O encontro da protagonista com uma família inglesa durante a viagem reforça o contraste entre normalidade social e disfunção emocional. Ali, o filme expõe que o mundo “civilizado” não é menos violento, apenas mais dissimulado.

Ação como linguagem, não espetáculo

As sequências de confronto são poucas, mas decisivas para o avanço narrativo. O combate no metrô e a perseguição em áreas industriais não existem para inflar adrenalina gratuita, e sim para evidenciar a eficiência quase mecânica de Hanna. Cada luta reforça o paradoxo central: ela é extremamente capaz, mas emocionalmente despreparada. Joe Wright constrói essas cenas com clareza espacial e ritmo calculado, evitando o excesso de cortes que costuma diluir o impacto físico da ação contemporânea. Ainda assim, há momentos em que a estilização ultrapassa o necessário e ameaça transformar tensão em ornamento. Essa escolha cria uma fricção constante entre rigor narrativo e desejo de experimentação, nem sempre equilibrada.

Personagens, ambiguidade e encerramento

Saoirse Ronan sustenta o filme ao unir rigidez corporal e fragilidade emocional, criando uma personagem que nunca se encaixa em rótulos simples de heroína ou vítima. Eric Bana atua com contenção, sugerindo culpa e afeto sem discursos explicativos. Cate Blanchett, por sua vez, encarna Marissa como uma engrenagem humana, alguém que acredita estar apenas cumprindo funções, mesmo quando atravessa limites éticos irreversíveis. Não há sensação de vitória no desfecho, apenas a constatação de que Hanna sobreviveu a um processo que a moldou sem consentimento. “Hanna” encerra sua trajetória como um conto cruel sobre infância, poder estatal e identidade forjada pela violência, deixando a pergunta incômoda: o que resta quando o propósito imposto desde o nascimento finalmente se cumpre?

Filme: Hanna
Diretor: Joe Wright
Ano: 2011
Gênero: Ação/Aventura/Drama/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.