Tão vastos quanto o silêncio que cerca as galáxias, os enigmas do universo calam fundo na insignificância do homem. Tentamos vencer a morte alimentando a crença de que nossos sucessores serão mais altruístas e mais dignos de estar aqui do que nós, e dessa forma está garantida a continuação de nossa espécie. Renúncias pautam o relacionamento de pais e filhos, premissa a que Scott Beck e Bryan Woods adicionam uma larga dose de fantasia delirante em “65 — Ameaça Pré-Histórica”. Roteiristas dos longas da série “Um Lugar Silencioso” (2018-2024), levados à tela por John Krasinski e Michael Sarnoski, e diretores do aclamado “Herege” (2024), Beck e Woods acertam e erram em diversos pontos, convictos do potencial da história que têm a apresentar, mas são batidos por um opositor inclemente.
Há 65 milhões de anos, civilizações futuristas espraiavam-se por planetas de todo o universo. Num deles, Mills destaca-se como piloto de naves espaciais, e aceitou integrar por dois anos uma expedição pelo cosmo para bancar o tratamento da filha, Nevine. Tudo parece correr bem, mas em determinado ponto da jornada, sua nau atravessa uma violenta tempestade de asteroides e termina caindo. Quase todos os passageiros, mantidos em sono criogênico, morrem, restando somente Koa, uma garota com idade próxima à de Nevine. Beck e Woods alonga-se na aventura de Mills e Koa até o topo de uma montanha, em busca da cápsula de proteção que possibilitar-lhes-á fugir antes que os dinossauros e outras feras do Período Mesozoico os trucidem. Mas nem eles — e tanto menos os titânicos répteis — convencem.
A química de Adam Driver e Ariana Greenblatt não é capaz de segurar a cansativa hora e meia de enredo, disposta em momentos de tensão artificiosa e malfadados esforços por algum providencial respiro cômico. Driver passa longe das boas performances como o vilão Kylo Ren nos mais recentes volumes da franquia “Star Wars” (para não mencionar Charlie Barber, o marido amargurado de “História de um Casamento” [2019], de Noah Baumbach). Preciosismos técnicos feito os enquadramentos sublinhados pela edição de Josh Schaeffer e Jane Tones, ou a fotografia de Salvatore Totino, tampouco aliviam a impressão de que “65 — Ameaça Pré-Histórica” é um trash de noventa milhões de dólares, daqueles que Afonso Brazza (1955-2003) fazia às pencas durante os anos 1980 e 1990 na Brasília da minha infância, quando assisti a “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros” (1993), a joia atemporal de Steven Spielberg, no Cine Karim.
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