Comédia romântica com Jennifer Lopez e Matthew McConaughey traz de volta a sensação de que tudo pode dar certo, no Prime Video Divulgação / Columbia Pictures

Comédia romântica com Jennifer Lopez e Matthew McConaughey traz de volta a sensação de que tudo pode dar certo, no Prime Video

A engrenagem narrativa de muitas comédias românticas gira em torno de encontros fortuitos, mas em “O Casamento dos Meus Sonhos” essa estrutura se revela mais como estratégia de eficiência do que como convite à reflexão. O filme conduz Mary Fiore, vivida por Jennifer Lopez, por uma rotina impecavelmente organizada, na qual ela transforma casamentos alheios em demonstrações de controle absoluto. A personagem opera como peça central de um mecanismo que exige precisão logística, e o contraste entre essa competência e sua vida pessoal quase ausente de vínculos afetivos já introduz uma tensão produtiva: a personagem domina rituais sociais, mas hesita diante da experiência íntima que esses rituais supostamente celebram.

A virada ocorre no episódio em que Mary prende o salto em uma abertura no asfalto enquanto um contêiner desgovernado avança ladeira abaixo em São Francisco. Steve Edison, interpretado por Matthew McConaughey, intervém. O filme aposta nesse instante, tentando convertê-lo em catalisador de transformação emocional. A cena cumpre sua função básica: aproxima dois personagens que, rapidamente, descobrem afinidades e cumplicidades possíveis. No entanto, a revelação de que Steve está comprometido com Fran Donelly, interpretada por Bridgette Wilson-Sampras, desmonta qualquer expectativa de progressão linear do romance e reinstala o conflito sobre bases previsíveis. Mary, responsável por organizar o casamento de Steve e Fran, torna-se simultaneamente agente do enlace e foco de uma ruptura emocional ainda não assumida por nenhum dos três.

A narrativa insiste em retardar confrontos diretos, preferindo obstáculos externos que servem mais como prolongamentos artificiais do enredo do que como dilemas consistentes. Exemplo disso é a presença de Massimo, vivido por Justin Chambers, um pretendente que retorna da Itália com a tarefa implícita de reavivar laços infantis. A intenção é opor segurança tradicional a desejo espontâneo, mas Massimo opera como recurso dramático pouco desenvolvido. A tentativa de seu pai, Salvatore, interpretado por Alex Rocco, de conduzir a filha ao casamento reforça a sensação de que o filme se apoia em convenções familiares para justificar movimentos que não encontram sustentação na psicologia dos personagens.

Ainda assim, algumas passagens ajudam a compreender por que essa fórmula mantém apelo. A sequência inicial, em que Mary administra um casamento com precisão quase militar, esclarece o funcionamento interno de sua profissão sem romantizá-la. O uso de pontos eletrônicos, comandos discretos e ajustes improvisados sugere que esse universo depende muito mais de tática do que de encantamento. Do lado de Steve, o filme estabelece sua sensibilidade como pediatra sem caricatura evidente, o que impede que o personagem se transforme em simples idealização masculina. Mesmo Fran, que poderia facilmente ser escrita como antagonista funcional, preserva certa dignidade e transmite a impressão de alguém que tenta conciliar expectativas sociais com seus próprios limites.

O desenvolvimento avança de forma contida, raramente se arriscando a tensionar a moral subjacente ao triângulo amoroso. A hesitação de Steve em assumir seus sentimentos por Mary e a disposição dela em aceitar compromissos improváveis tornam o percurso emocional menos robusto do que poderia ser. Quando a narrativa finalmente decide confrontar seus impasses, a resolução se apoia em coincidências e gestos tardios que reduzem a potência dramática acumulada. O espectador reconhece as motivações de cada personagem, mas a forma como essas motivações se entrelaçam subestima a complexidade que a própria premissa poderia explorar.

Apesar disso, o filme evidencia competência técnica em alguns aspectos. As sequências de dança remetem a um estilo que dialoga com comédias românticas de meados do século passado, conferindo leveza momentânea à trama. O uso da paisagem urbana de São Francisco adiciona textura às relações, ainda que não interfira decisivamente no rumo da história. O humor oscila entre situações espontâneas e momentos claramente calculados, com alguns tropeços, como a cena em que Steve fica preso a uma estátua, cujo efeito cômico se esgota rapidamente.

O que permanece é a percepção de que “O Casamento dos Meus Sonhos” opera dentro de uma lógica que privilegia simpatia a profundidade. Mary e Steve formam um par que funciona porque ambos carregam traços facilmente assimiláveis pelo público. O filme não busca questionar a estrutura do romance que o sustenta; seu interesse recai sobre a manutenção de um ritmo leve e de um clima afetuoso que evite rupturas mais contundentes. Ainda que não proponha algo além de seu próprio limite, a narrativa evidencia como esse tipo de história continua a gerar identificação: os personagens se movem entre obrigações sociais, desejos contraditórios e a dificuldade de reconhecer afetos que já estavam postos, mesmo antes de serem nomeados. Essa convivência entre controle e vulnerabilidade constitui a camada mais interessante do filme, ainda que explorada com menos firmeza do que poderia.

Filme: O Casamento dos Meus Sonhos
Diretor: Adam Shankman
Ano: 2001
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.