“Borbulhas de Amor” acompanha Sydney Price, executiva americana enviada à França para concluir a compra do tradicional Château Cassell, fabricante de champanhe administrado há gerações pela mesma família. A missão é simples do ponto de vista corporativo: fechar um acordo vantajoso para o grupo financeiro que representa e entregar mais um ativo de luxo ao portfólio da empresa. A viagem, porém, coincide com o período natalino, quando a cidade se enche de luzes, mercados de rua e festas que desaceleram o ritmo de trabalho e abrem espaço para encontros inesperados.
Logo ao chegar, Sydney conhece Henri Cassell, filho do fundador da vinícola e principal voz contrária à venda do negócio. Minka Kelly interpreta a protagonista como uma profissional segura, focada em metas e pouco acostumada a vínculos duradouros, enquanto Tom Wozniczka compõe um herdeiro dividido entre o respeito à tradição e a necessidade de renovar a empresa. Dirigido e roteirizado por Mark Steven Johnson, nome que já assinou outras comédias românticas recentes para o streaming, o longa combina romance e negociação empresarial em um pacote claramente orientado ao público de filmes natalinos.
A partir desse encontro, a narrativa passa a girar em torno de dois eixos: de um lado, a pressão do grupo financeiro para que Sydney conclua a compra; de outro, a resistência de Henri e de parte da família Cassell, que enxergam na transação o fim de um legado construído ao longo de décadas. As reuniões de negócios, as visitas aos vinhedos e os eventos festivos da cidade se alternam, aproximando os protagonistas e consolidando a conhecida oposição entre carreira e vida pessoal. O roteiro não esconde a previsibilidade do arco romântico, mas expõe os conflitos de maneira clara, sempre ancorado em escolhas práticas que afetam o futuro da vinícola.
Johnson mantém o padrão que já havia explorado em produções como “Amor Garantido” e “Amor em Verona”: usa um cenário turístico fotogênico, uma protagonista forçada a sair da zona de conforto e um interesse amoroso ligado ao território, à tradição e a uma forma diferente de enxergar o trabalho. “Borbulhas de Amor” segue essa cartilha ao transformar a região produtora de champanhe em série de experiências: passeios entre parreirais, degustações, jantares iluminados por velas e ruas repletas de decoração natalina. A fotografia enfatiza tons quentes, interiores aconchegantes e luzes de festa, compondo um ambiente que reforça o clima de fantasia romântica e suaviza os embates corporativos.
O desenvolvimento dos personagens, porém, permanece restrito às funções típicas do gênero. Sydney é apresentada como profissional competente que sacrifica vida pessoal em prol da carreira, enquanto Henri aparece como guardião das raízes familiares, preocupado com funcionários, fornecedores e moradores que dependem da vinícola. As motivações de ambos são delineadas de forma rápida, sem grandes nuances, o que reduz o peso dramático das decisões tomadas ao longo da trama. Ainda assim, a química entre Minka Kelly e Tom Wozniczka se sustenta em diálogos leves, trocas irônicas e situações que exploram choques culturais entre a objetividade americana e o tempo mais lento da comunidade francesa.
O elenco de apoio contribui para a atmosfera de comédia, com destaque para Flula Borg, responsável por parte do humor mais escancarado, e para figuras ligadas à administração do Château Cassell, que representam diferentes posições diante da possível venda. Esses personagens orbitam o casal principal, oferecendo conselhos, impondo obstáculos burocráticos e servindo de termômetro emocional para o conflito entre negócio e afeto. Ainda que muitos fiquem limitados a arquétipos reconhecíveis, ajudam a sustentar o ritmo e a preencher o ambiente da vinícola com pequenas intrigas e comentários espirituosos.
Tecnicamente, “Borbulhas de Amor” se apoia em soluções funcionais. A direção aposta em planos gerais que exploram a paisagem de vinhedos e ruas decoradas, intercalados com closes do casal em momentos de aproximação ou desentendimento. A montagem privilegia passagens rápidas entre reuniões, passeios e eventos, reforçando a impressão de agenda cheia e prazos apertados para a negociação. A trilha sonora usa canções natalinas e temas românticos como guia de expectativas a cada reencontro e a cada gesto de hesitação entre assinar o contrato ou salvaguardar a tradição familiar.
O filme não busca renovar o modelo da comédia romântica natalina. Em vez disso, aposta no conforto dos clichês: a cidade encantadora, o casal inicialmente em lados opostos, o evento festivo que funciona como ponto de virada e a decisão final ancorada em uma escolha pessoal que redefine prioridades. Para quem procura surpresas narrativas, “Borbulhas de Amor” oferece pouco além do esperado. Para o público habituado a maratonar produções sazonais da Netflix, apresenta um título reconhecível, com cenário agradável, conflitos claros e um romance que acompanha o ritmo das luzes acesas na vinícola à medida que o Natal se aproxima.
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