“Na Mira do Perigo” apresenta Jim Hanson, veterano de guerra que tenta manter um pequeno rancho na fronteira entre Estados Unidos e México enquanto lida com problemas financeiros e luto. Sua rotina se resume a cuidar do gado, rondar cercas danificadas e avisar a patrulha de fronteira sobre eventuais cruzamentos. Esse ciclo se quebra quando ele presencia a chegada de Rosa e do filho Miguel, fugitivos de um cartel que avança pelo lado mexicano e cruza a linha em busca de sobrevivência.
O confronto inicial com os homens armados deixa Jim diante de um cenário que ele não controla mais apenas com telefonemas para as autoridades. A partir do momento em que Rosa é abatida e o garoto fica sob sua responsabilidade, o ex-fuzileiro precisa decidir se recua para a posição de simples informante ou assume a função de escolta improvisada. O filme coloca o protagonista em movimento físico e moral, e o segundo eixo da narrativa se desenha quando ele aceita levar Miguel até parentes em Chicago, enquanto o cartel, liderado por Mauricio, segue a trilha que liga rancho, estradas e postos de abastecimento.
Liam Neeson constrói Jim como um homem marcado pela guerra, pela viuvez e pelo desapego ao convívio social. O personagem bebe, hesita em pedir ajuda e passa boa parte do tempo observando o entorno antes de agir. Jacob Perez dá a Miguel uma combinação de medo e curiosidade que afeta o ritmo da jornada, já que o garoto não entende todas as regras impostas pelo adulto, mas precisa confiar nele para permanecer vivo. Katheryn Winnick interpreta Sarah, enteada de Jim e agente da patrulha de fronteira, dividida entre o dever de seguir procedimentos e o impulso de proteger o único parente que ainda mantém contato.
A partir da partida em direção ao norte, o longa adota uma estrutura baseada em estrada e perseguição. Caminhonetes, postos de gasolina, motéis de beira de estrada e pequenos restaurantes compõem o mosaico de paradas que interrompem a viagem e permitem ao cartel recuperar terreno. Robert Lorenz filma a maioria dos confrontos com geografia clara: as entradas e saídas de cada local são apresentadas antes do tiroteio, e a posição de Jim, dos perseguidores e do menino é sempre identificável. Essa preocupação com clareza espacial ajuda o espectador a acompanhar quem avança, quem encurrala e quem busca rotas de fuga a cada sequência.
O uso da fronteira como cenário reforça a sensação de território sem garantia plena de proteção institucional. Jim conhece parte dos agentes de imigração, mas nem sempre obtém apoio imediato. Em alguns trechos, ele precisa agir antes que qualquer reforço chegue, o que amplia a responsabilidade individual sobre decisões de vida ou morte. A montagem alterna trechos de estrada longa, em que o carro ocupa o centro do quadro, com cortes rápidos para veículos do cartel, ligações telefônicas e checagens de mapas, reforçando a impressão de que cada parada tem custo em minutos que podem permitir aproximação dos perseguidores.
A fotografia se apoia em tons terrosos e na luz dura do deserto para destacar o isolamento de Jim e do garoto. Quando a ação se desloca para interiores, como bares, lojas e motéis, a iluminação mais baixa cria bolsões de sombra em que olhares suspeitos e mãos se aproximando de armas ganham relevo. Essa mudança de contraste funciona como marcador visual de risco, já que encontros aparentemente casuais podem se transformar em emboscadas. A trilha sonora de Sean Callery privilegia cordas e percussão contida, entrando com intensidade maior apenas quando os tiros começam ou quando o carro acelera em direção a uma nova barreira.
As escolhas de roteiro de Robert Lorenz, Chris Charles e Danny Kravitz seguem uma linha reconhecível do cinema de ação com protagonista veterano. Jim não é um super-herói, mas traz consigo treinamento e memória de combate suficientes para calcular tempos de recarga, avaliar a distância de tiro e improvisar coberturas em cercas, valas e construções abandonadas. Em vários momentos, o filme mostra o personagem checando munição, reposicionando Miguel atrás de objetos sólidos ou orientando o garoto a se manter abaixado durante os disparos. Esses detalhes conectam a experiência militar ao esforço de proteção imediata.
O antagonista interpretado por Juan Pablo Raba personifica o lado mais frio do cartel, interessado em recuperar o menino não apenas por vingança, mas para manter a imagem de controle sobre quem tenta fugir. Sua presença em cena é marcada por olhares calculados, ordens diretas e disposição para sacrificar subordinados em troca de avanço estratégico. Essa relação de caçador e presa, reforçada por cenas em que os veículos do cartel se aproximam lentamente do alvo, sustenta a parte de suspense do longa e faz a estrada parecer cada vez mais estreita para Jim e Miguel.
Mesmo apoiado em uma fórmula conhecida, “Na Mira do Perigo” busca tensão em pequenos ajustes de comportamento. Jim começa a viagem tratando Miguel como carga que precisa chegar ao destino, mas, à medida que horas se acumulam e paradas forçadas expõem o medo do garoto, o vínculo entre os dois se torna menos burocrático. Gestos simples, como dividir comida, ensinar a usar um casaco como proteção extra ou permitir que o menino escolha a música no rádio, indicam mudança gradual na forma como o ex-fuzileiro enxerga sua própria responsabilidade.
O filme reserva a parte mais intensa de ação para o trecho final, em terreno mais fechado, onde árvores e construções abandonadas oferecem pontos de cobertura e risco em igual medida. Ali, a habilidade de Jim com rifle e a insistência do cartel convergem em uma série de movimentos de flanco, recuos táticos e tentativas de distração. A violência é direta e coloca corpo, sangue e fadiga no centro das imagens, lembrando o público de que a idade do protagonista já não permite sequências longas de confronto sem consequências físicas.
“Na Mira do Perigo” confirma Liam Neeson como rosto recorrente de um tipo específico de ação centrada em figuras maduras, marcadas por perda e culpa, que encontram em uma missão de proteção uma forma de seguir em frente. O filme não altera o padrão do gênero, mas oferece uma combinação de estrada, tiros e laços improváveis, ancorada em cenário de fronteira que continua a alimentar histórias de risco e deslocamento.
★★★★★★★★★★

