Thriller claustrofóbico canadense na Netflix termina em caos, desespero e puro pesadelo Divulgação / Couronne Nord

Thriller claustrofóbico canadense na Netflix termina em caos, desespero e puro pesadelo

“O Declínio” começa com Antoine, interpretado por Guillaume Laurin, treinando métodos de sobrevivência em casa enquanto registra tudo em vídeos que compartilha com seguidores. A impressão inicial é a de um homem comum tentando proteger a família de qualquer ameaça futura, mas seus hábitos silenciosamente revelam que essa preparação deixou de ser um hobby para se tornar uma obsessão. Ao receber um convite para um curso intensivo de sobrevivencialismo oferecido por Alain, vivido por Réal Bossé, ele aceita com a convicção de quem acredita estar dando um passo importante em direção à segurança absoluta.

Ao chegar à propriedade isolada onde o treinamento será realizado, Antoine se junta a outras pessoas movidas por apreensões semelhantes. Há Rachel, interpretada por Marie-Évelyne Lessard, calma e disciplinada, sempre observando antes de agir. Há também David, interpretado por Marc-André Grondin, cuja postura descontraída tenta suavizar o clima, mas que deixa transparecer desconfiança crescente conforme os ensinamentos se tornam mais rigorosos. Alain, o anfitrião, conduz tudo com autoridade tranquila, como se dominasse cada variação do ambiente. O grupo participa de exercícios de caça, montagem de abrigos, uso de armadilhas e simulações de fuga. Tudo é organizado, quase cerimonial, como se a convivência ali obedecesse a um conjunto rígido de leis não escritas.

A tensão começa a tomar forma quando um acidente fatal ocorre durante uma demonstração. A morte é súbita e absurda, fruto de um erro mínimo que desmonta a suposta competência de todos. É nesse ponto que o discurso de Alain muda de tom. O que antes se apresentava como um espaço de aprendizado transformado em retiro voluntário passa a se revelar como um território onde a preservação da imagem importa mais do que a preservação da vida. Alain insiste que não podem recorrer às autoridades, alegando que a repercussão destruiria o projeto e colocaria todos em risco. O grupo, então, se divide entre os que desejam assumir a responsabilidade e os que preferem esconder o ocorrido.

Antoine, que entrou ali como aluno disciplinado, torna-se um testemunho involuntário do rápido desmoronamento moral de todos. Rachel tenta negociar soluções racionais, enquanto David percebe que as ordens de Alain vão se tornando cada vez mais violentas e desesperadas. O breve senso de comunidade se dissolve, substituído por alianças improvisadas e decisões que mudam de direção conforme a paranoia aumenta. A partir desse ponto, o que era um curso de sobrevivência se converte numa fuga real, marcada por perseguições silenciosas, improvisos apressados e um medo crescente de que ninguém ali será poupado.

A paisagem nevada reforça o estado emocional dos personagens. O frio parece prender seus movimentos, como se a natureza os observasse com a mesma indiferença com que assiste à queda de uma árvore no inverno. A violência que emerge é áspera, mal calculada, sem qualquer sinal de heroísmo. Quando alguém dispara contra outro, não há estilo, apenas desespero. É como se todos percebessem tarde demais que nenhuma técnica de sobrevivência preparada com antecedência oferece proteção contra o comportamento imprevisível das pessoas.

O filme encontra sua força não na violência em si, mas na constatação de que a crença na autossuficiência extrema é incapaz de lidar com conflitos humanos básicos. Antoine, que buscava se fortalecer para proteger a família, descobre que o perigo não está no mundo em colapso, mas na convicção de que o colapso é inevitável. “O Declínio” revela, com clareza incômoda, que a obsessão por prever o desastre frequentemente cria o desastre por conta própria. Não é o apocalipse que destrói aqueles indivíduos, mas a convicção absoluta de que ele já começou.

Filme: O Declínio
Diretor: Patrice Laliberté
Ano: 2020
Gênero: Ação/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.