Baseado no romance homônimo de M. L. Stedman, “Uma Luz Entre Oceanos“ é um épico de Derek Cianfrance que narra um drama pós-Primeira Guerra ambientado na Austrália. Tom Sherbourne, interpretado por Michael Fassbender, é um veterano de guerra traumatizado, aceito como faroleiro em Janus Rock, uma ilha na costa da Austrália Ocidental. A princípio, é incumbido da missão por seis meses, já que o faroleiro efetivo da ilha, o senhor Trimble, está com problemas de saúde. Na cidade de Partageuse, logo que chega para assumir o cargo, conhece a jovem Isabel (Alicia Vikander), com quem passa a se corresponder da ilha.
Meses depois, Tom é promovido a mais três anos no farol, após a notícia da morte de Trimble. Pouco depois, ele e Isabel, já apaixonados, acertam o casamento e a jovem se muda também para o farol. Os dois vivem momentos idílicos na ilha paradisíaca e isolada. Em determinada fala, Tom menciona que o nome “Janus“ faz referência a janeiro, um mês que olha tanto para o futuro quanto para o passado. A ilha, portanto, unia dois oceanos. O do passado e o do futuro. E, de fato, é isso que ela faz. Especialmente depois que Isabel perde dois filhos durante a gravidez e um pequeno barco alcança a ilha trazendo uma criança e o corpo de um homem já morto.
Tomada pelo luto e desesperada por um filho, Isabel convence o marido a não reportar o barco. Ele insiste que o correto a fazer é avisar as autoridades sobre o corpo e a criança, mas a esposa deseja muito um filho. Eles, então, enterram o morto e mantêm a criança como se fosse o último filho perdido de Isabel. Afinal, ninguém poderia saber o que teria ocorrido, já que ambos estavam isolados havia meses.
Anos depois, em Partageuse, eles conhecem Hannah (Rachel Weisz), uma mulher que perdeu o marido e sua bebê depois que eles saíram para um passeio de barco. A embarcação jamais foi encontrada, assim como sua família. Logo Tom e Isabel se dão conta de que se trata do homem que eles enterraram e de sua própria filha, Lucy, que, na verdade, se chama Grace. Embora Isabel acredite que seja tarde demais para trazer verdades à tona, Tom é confrontado pela razão e pela moral a contar toda a verdade. Mas qual o preço terão de pagar por essa mentira? Será que vale a pena colocar toda a sua felicidade e estabilidade como família em risco pela ética?
Com planos abertos, a fotografia de Adam Arkapaw reforça a sensação de solidão e isolamento. Mostrar a ilha tão pequena em meio à grandiosidade do oceano é uma maneira de dizer que Tom e Isabel são frágeis e vulneráveis demais diante do destino que os espera. Nos momentos em que o filme retrata o período pós-casamento de Tom e Isabel, são frequentes os planos fechados e com cores mais quentes, demonstrando intimidade e alívio, ainda que temporários.
Derek Cianfrance tem uma filmografia marcada por histórias que falam de famílias complexas e fragmentadas. Suas narrativas viajam pelo tempo e perpassam passado, presente e futuro. Além disso, seus personagens masculinos são quase sempre lacônicos e introspectivos. Os silêncios são maiores que os diálogos. Esse ar contemplativo coloca personagens e público em dilemas morais, mas sem julgamentos. Ele nos faz pensar em como a vida nos leva por caminhos que, às vezes, são moralmente ambíguos, mas que não possuem mocinhos ou vilões. É apenas sobre escolhas e consequências.
“Uma Luz Entre Oceanos“ é uma narrativa poderosa e que não alivia. Não há promessas de finais felizes ou de conforto emocional. O público fica com uma sensação de desconforto e cheio de pensamentos sobre o que faria ou não no lugar de determinados personagens. É um filme que nos faz compreender mais sobre nós mesmos do que sobre Tom, Isabel ou Hannah. Embora não seja uma obra inesquecível, é uma história que permanece por um tempo no fundo da nossa mente.
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