Prepare-se para ver além do brilho: a verdade que ninguém admite sobre esse filme superestimado no Prime Video Dale Robinette / Summit Entertainment

Prepare-se para ver além do brilho: a verdade que ninguém admite sobre esse filme superestimado no Prime Video

A indústria cultural tem um talento peculiar para transformar pequenas ilusões em grandes espetáculos. “La La Land” é exatamente isso: uma vitrine reluzente para a velha fantasia hollywoodiana de que basta dançar sob a luz de postes falsamente românticos para que sonhos se tornem mais reais do que boletos atrasados. O filme se esforça tanto para convencer o espectador de que a vida é uma sequência de números musicais sincronizados com o pôr do sol que quase esquece que o amor, esse intruso inconveniente, não costuma caber em coreografias ensaiadas.

Tento ser compreensiva com histórias que brincam com idealizações. O problema é quando a brincadeira acredita ser algo sublime, revolucionário, profundo. Quando um musical se proclama grande ode ao romantismo moderno, mas sequer possui um romance que sobreviva ao fade out. O casal central parece movido pela necessidade do roteiro, como se amar fosse apenas um requisito dramático para justificar solos de trompete e audições fracassadas. A conexão deles tem a consistência de um cenário de estúdio: basta desligar os refletores e tudo desaparece.

Há uma vaidade curiosa aqui: o filme se autoadmira em cada sequência. “Olhem como sou elegante”, ele sussurra enquanto tenta ressuscitar a era dourada dos musicais com um esmero assumidamente turístico. Mas glamour sem pulsação é o equivalente cinematográfico a um cartão-postal: bonito, mas emocionalmente descartável. A música existe quase como acessório de figurino; aparece quando convém e some quando seria mais difícil sustentar o encanto. Metade do tempo, o filme parece ter desistido de ser musical, como se recordasse tardiamente que também precisava contar alguma história, e aí tropeça.

E já que estamos falando de tropeços: Hollywood, com toda sua vaidade patriarcal, insiste em crer que atores famosos podem substituir artistas que realmente sabem cantar e dançar. A mediocridade performática, especialmente quando alguém tenta parecer um Fred Astaire de internet discada, revela o desajuste entre a ambição do filme e sua entrega real. Os números de dança parecem um ensaio geral mal disfarçado: pouca ousadia, pouca precisão, pouca vida. O cinema musical merece algo além de intenções charmosas.

O mais irônico é que alguns espectadores saem da sessão acreditando ter vivido uma experiência catártica sobre amor e escolhas. Na verdade, o filme lhes vendeu um manifesto sobre egoísmo meritocrático: abandone tudo (inclusive quem você diz amar) para obter reconhecimento, afinal, nada é mais “autêntico” do que abraçar seu destino de estrela, nem que isso transforme a relação em souvenir emocional. Existe uma celebração quase cínica de que o amor ideal é justamente aquele que você não precisa manter, apenas relembrar com nostalgia. O cinema adora essa filosofia porque ela cabe em um plano-sequência.

Há quem afirme que a sequência final é brilhante, um golpe de mestre que transforma o fracasso romântico em lirismo absoluto. Vamos com calma: a tal fantasia funciona como órtese emocional para uma história que não sustenta o próprio coração. O espectador é convidado a suspirar por uma paixão que o filme nunca se deu ao trabalho de construir com densidade. A lágrima, quando vem, é mais pela manipulação do que por empatia.

Pode-se argumentar que a proposta é justamente refletir a distância entre sonhos e realidade. Só que, quando a realidade é esvaziada e o sonho é o único recheio, o que resta senão açúcar artificial? “La La Land” é doce, colorido, fácil de engolir, e tão nutritivo quanto uma sobremesa ultraprocessada: sacia por alguns minutos, e depois deixa aquele vazio difícil de admitir.

Se Hollywood quer nos vender fantasia, sem problemas. O que irrita é quando a fantasia tenta se vestir de verdade emocional. O filme pede para ser amado como clássico, reverenciado como renovação do musical, celebrado como história de amor inesquecível. E falha em todos os objetivos com uma elegância digna de tapete vermelho. Cheio de luzes, sim. Mas isso nunca significou que exista algo realmente aceso lá dentro.

Filme: La La Land
Diretor: Damien Chazelle
Ano: 2016
Gênero: Comédia/Drama/Musical/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★