Meryl Streep e Uma Thurman em um romance delicioso, inteligente e hilário — o filme que vai curar o seu mau humor Divulgação / Universal Pictures

Meryl Streep e Uma Thurman em um romance delicioso, inteligente e hilário — o filme que vai curar o seu mau humor

Rafi é uma mulher de 37 anos que tenta reconstruir a vida após um divórcio recente. Em meio à solidão e à busca por novos rumos, ela se envolve com David, um artista plástico de 23 anos que tenta firmar seu espaço na vida adulta. O relacionamento, marcado pela diferença de idade e de expectativas, ganha contornos inesperados quando a terapeuta de Rafi, Lisa, descobre que o namorado da paciente é seu próprio filho. Em “Terapia do Amor”, dirigido por Ben Younger e estrelado por Uma Thurman, Meryl Streep e Bryan Greenberg, o enredo transforma uma situação improvável em uma reflexão sobre ética e afeto.

A história se apoia na tensão entre o racional e o instintivo. Lisa, acostumada a aconselhar suas pacientes com lucidez e distanciamento, é obrigada a enfrentar o limite entre o profissional e o pessoal. O conflito se manifesta menos em palavras do que em silêncios e olhares, sustentados pela atuação precisa de Meryl Streep. Sua personagem tenta preservar a neutralidade enquanto vê, nas confidências de Rafi, detalhes íntimos da vida do próprio filho. O incômodo aumenta a cada sessão, revelando a fragilidade da fronteira entre o cuidado e a invasão.

Rafi, interpretada por Uma Thurman, é retratada com delicadeza e humor. A atriz confere à personagem uma combinação de vulnerabilidade e força, afastando estereótipos de mulher madura em crise. Sua relação com David carrega espontaneidade, marcada por descobertas e inseguranças próprias de quem se permite recomeçar. Bryan Greenberg, no papel do jovem artista, representa a ingenuidade e a impulsividade do primeiro amor adulto. A diferença de gerações não se reduz à idade: ela traduz modos distintos de lidar com o desejo e a responsabilidade.

Ben Younger opta por uma direção discreta, concentrada nas interações humanas. A cidade de Nova York aparece despojada de glamour, composta de apartamentos modestos, ruas anônimas e cafés silenciosos. Essa escolha reforça a naturalidade das relações e afasta o filme do cenário idealizado das comédias românticas tradicionais. O diretor confia nos diálogos e na observação dos personagens para conduzir a narrativa. Cada gesto parece medido, cada pausa carrega o peso das emoções que não encontram espaço para se expressar.

O roteiro, assinado pelo próprio Younger, evita o moralismo. As personagens são observadas com empatia, mesmo quando erram. Lisa não é retratada como vilã, e Rafi não é punida por se apaixonar. O humor surge de situações constrangedoras, nunca do ridículo. Há momentos de ironia fina, como quando Lisa tenta esconder da paciente que conhece o rapaz, mas o tom permanece contido. A graça está na tensão, não na piada. Essa escolha preserva a credibilidade da história e permite que o público se reconheça nas hesitações das personagens.

A trilha sonora de Alec Puro atua de forma sutil, sem interferir na naturalidade das cenas. Em vez de manipular a emoção, acompanha o ritmo interno das situações. O mesmo vale para a fotografia, que adota tons neutros e iluminação suave, reforçando a proximidade entre realidade e ficção. O filme privilegia o cotidiano, com gestos simples e diálogos realistas. Esse olhar contido sustenta o equilíbrio entre o cômico e o melancólico.

“Terapia do Amor” reflete sobre os limites da intimidade e do sigilo profissional sem transformar o tema em tese. O dilema ético é apresentado como parte da experiência humana, não como exceção. Lisa, ao ouvir a paciente descrever o relacionamento com seu filho, enfrenta o desafio de conciliar afeto e dever. O conflito interno da personagem expressa um paradoxo comum: a dificuldade de separar o que se sente do que se deve fazer. Meryl Streep transforma essa contradição em gesto, olhar e respiração, conduzindo a narrativa com contenção e humanidade.

O filme também aborda o amadurecimento emocional. Rafi representa a busca por estabilidade após uma decepção, enquanto David encarna o entusiasmo de quem ainda experimenta o amor como descoberta. O contraste entre ambos produz momentos de ternura e frustração. Younger retrata essa diferença com honestidade, sem caricatura. O relacionamento dos dois é tratado como experiência de aprendizado, não como conto de fadas. A juventude de David não é apenas um obstáculo, mas um espelho para Rafi refletir sobre o próprio passado e as escolhas que ainda a definem.

Há um tom de melancolia que percorre a narrativa. Mesmo quando o humor predomina, percebe-se a consciência de que o amor pode ser passageiro e imperfeito. Essa percepção aproxima o filme da vida real, em que o desejo raramente se ajusta à moral. Younger prefere o desconforto à idealização, e é dessa tensão que vem sua força dramática. O diretor observa as personagens sem julgamento, deixando que o público acompanhe, com desconforto e empatia, os dilemas que o amor provoca.

Filme: Terapia do Amor
Diretor: Ben Younger
Ano: 2005
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★