O ano era 1993 e “A Lista de Schindler”, um dos filmes mais prestigiados da carreira de Steven Spielberg, ainda nem tinha sido lançado. Às vezes, o sentimento, depois de um trabalho bem-sucedido, não é a realização pessoal, satisfação ou alívio por ter cumprido uma missão. Muitas vezes, mesmo quando tudo dá certo, o que toma conta é, na verdade, a sensação de frustração.
O longa-metragem narra a história real de Oskar Schindler, um empresário alemão e membro do Partido Nazista que, durante a Segunda Guerra Mundial, enriqueceu enormemente por administrar uma fábrica com mão de obra judaica. O que se inicia como um oportunismo de mercado termina com uma jornada heróica que salvou mais de mil judeus do Holocausto. Se, a princípio, a ideia era apenas economizar e lucrar ao máximo, Schindler se deu conta, ao longo do processo, de que uma questão moral era ainda mais importante. Passou a contratar judeus para poder contrabandeá-los em um trem que salvasse suas vidas.
Quando você assiste ao filme, se sente imediatamente impactado pela força narrativa e pelo contexto histórico trágico, mas é impossível saber como as pessoas que estavam envolvidas diretamente naquele filme, que passaram anos pesquisando, estudando, vivenciando e tendo contato com pessoas reais que participaram daquele contexto, foram impactadas. Foi o que houve com Spielberg, que passou quatro anos com bloqueio criativo e sem concretizar nada depois de “A Lista de Schindler”.
Spielberg descreveu o processo de criação do filme como “brutal”. Sentiu culpa e achou que era incapaz de conduzir uma história tão importante. Mesmo após o sucesso comercial e crítico dessa produção, o cineasta abriu mão de seu salário e decidiu destiná-lo à Shoah Foundation, uma instituição que ele próprio criou para preservar depoimentos de sobreviventes do Holocausto. Em 1994, venceu sete estatuetas do Oscar por “Schindler”, incluindo seu primeiro como Melhor Diretor. Subiu ao palco, agradeceu e reforçou a importância de manter viva a memória histórica.
“Há 350.000 sobreviventes vivos que ainda podem testemunhar o Holocausto. São 350.000 especialistas que só querem ser úteis pelo resto de suas vidas. Imploro a todos os educadores: não deixem o Holocausto ser uma nota de rodapé na história. Ouçam as palavras, os ecos, os fantasmas”, afirmou durante seu discurso para a Academia.
Ele, que tem ascendência judaica, se sentiu pessoalmente conectado à história e entrou em uma espiral de isolamento, tristeza e dificuldade de trabalhar. Ficou emocionalmente exausto e sofreu com sintomas similares aos do TEPT (Transtorno do Estresse Pós-Traumático). Recebeu apoio do amigo Robin Williams, que o monitorava com telefonemas constantes, e só retornou em 1997, em “O Mundo Perdido: Jurassic Park”.