Os 5 livros que Stephen King daria para Dostoiévski se ele estivesse vivo

Os 5 livros que Stephen King daria para Dostoiévski se ele estivesse vivo

Havia um gesto imaginado: Stephen King diante de Dostoiévski entregando-lhe uma pequena pilha de livros. Não para convertê-lo a nada, mas para provocar. É uma cena improvável e fácil de sustentar por alguns segundos. O escritor americano, marcado por monstros e assombrações, estendendo obras que lidam com outra espécie de sombra. “Meridiano de Sangue”, de Cormac McCarthy, não precisa de fantasmas para ser assombroso. É um romance de violência metódica e seca, que força a olhar o mal sem cortina. King talvez quisesse mostrar ao russo que a brutalidade mais duradoura é aquela que não se explica. Ao lado dele, “2666”, de Roberto Bolaño, estende a sensação de vazio a um território difuso: crimes sem rosto, narrativas que se cruzam e se afastam, um mal que não se anuncia e se infiltra. Dostoiévski, acostumado a mergulhar na consciência de um assassino, encontraria aqui uma multiplicidade de consciências fragmentadas. “Kokoro”, de Natsume Sōseki, seria o contraponto. Quase nada acontece na superfície, mas por baixo a culpa e a solidão corroem com a mesma força de qualquer tribunal ou confissão pública. King, que conhece o efeito do silêncio, entregaria esse livro como sugestão de que o terror também se constrói no não dito. “O Reino”, de Emmanuel Carrère, traria outro tipo de inquietação: fé e dúvida em constante atrito, a investigação sobre a origem de uma crença como se fosse um suspense. “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher”, de Svetlana Aleksiévitch, completaria o conjunto. Não há ficção ali, mas o testemunho cru de quem viu a guerra e guardou na memória imagens que não cabem em discursos oficiais. Seria o presente mais desconcertante: uma prova de que a realidade pode ser mais insuportável do que qualquer pesadelo inventado. A escolha dos cinco não seria um gesto de cortesia, mas de desafio. Um convite para pensar de outro ângulo sobre aquilo que King e Dostoiévski partilham, o interesse pelo que se esconde na alma humana quando ela é posta diante do irredutível.

Revista Bula

A Revista Bula é uma plataforma digital brasileira fundada em 1999, que atua como revista e também como editora de livros. Com foco em literatura, cultura, comportamento e temas contemporâneos, adota uma linha editorial autoral, com ênfase em textos opinativos e ensaísticos. Seu conteúdo é amplamente difundido por meio das redes sociais e alcança milhões de leitores por mês, consolidando-se como uma das referências em jornalismo cultural no ambiente digital. Além da produção de conteúdo editorial, a Bula mantém uma linha de publicações próprias, com títulos de ficção e não ficção distribuídos em formato digital e impresso.