O filme escondido no Prime Video que vale mais do que metade do catálogo Divulgação / The Weinstein Company

O filme escondido no Prime Video que vale mais do que metade do catálogo

Durante décadas, os arcos dourados do McDonald’s foram mais do que um símbolo de fast food: tornaram-se uma marca indelével da cultura americana, tão presente nas memórias afetivas quanto nos debates sobre capitalismo selvagem. Mas antes de se espalhar pelo mundo como um império alimentar, o McDonald’s foi apenas uma ideia, revolucionária, simples e, sobretudo, americana. “Fome de Poder”, filme dirigido por John Lee Hancock, mergulha nesse nascimento turbulento e fascinante, revelando não só a gênese do modelo de negócios que mudaria os hábitos alimentares globais, mas também o retrato vívido de um homem obcecado por sucesso. Ray Kroc, interpretado com brilho por Michael Keaton, é mais do que o típico vendedor com ambição: ele é o próprio espírito do chamado “sonho americano”, um espírito que, como o filme sugere, muitas vezes encontra sua realização às custas da ética, da lealdade e de quem cruzar o seu caminho.

Longe de se contentar com os moldes tradicionais dos filmes biográficos, “Fome de Poder” injeta ritmo e tensão ao acompanhar a ascensão de Kroc, de um vendedor de máquinas de milk-shake à figura central de uma transformação empresarial global. Hancock orquestra essa trajetória com um olhar clínico para as engrenagens do sistema capitalista, enquanto Keaton domina a tela em uma performance magnética, equilibrando carisma e frieza com impressionante nuance. Ao lado dele, Nick Offerman e John Carroll Lynch emprestam profundidade aos irmãos McDonald, personagens que, embora idealistas e visionários, acabam vítimas de um jogo para o qual nunca estiveram preparados. A beleza do filme está justamente nessa ambiguidade: ele não exalta nem demoniza Kroc, mas o observa com a lente precisa de quem compreende a complexidade de um sistema que recompensa a persistência com poder, e a falta de escrúpulos com império.

Ainda que “Fome de Poder” transite por um território temático já explorado, o sucesso comprado à custa da moralidade, como em “O Lobo de Wall Street” ou “A Rede Social”, a força da narrativa está menos na originalidade estrutural e mais na maneira como manipula o espectador a torcer por um homem que, aos poucos, revela sua face mais calculista. Se por um lado o filme pode parecer convencional na forma, sua relevância reside na fricção entre memória e crítica: ele resgata a nostalgia de uma América dos anos 1950, mas a subverte ao mostrar que, por trás da promessa do hambúrguer rápido e barato, havia uma engrenagem de ambição desmedida. É essa tensão que torna o filme instigante, uma aula de capitalismo, publicidade e manipulação. No fim das contas, “Fome de Poder” é menos sobre uma rede de lanchonetes e mais sobre a fome que move o mundo: a fome por conquista, domínio e permanência.

Filme: Fome de Poder
Diretor: John Lee Hancock
Ano: 2016
Gênero: Biografia/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Fernando Machado

Fernando Machado é jornalista e cinéfilo, com atuação voltada para conteúdo otimizado, Google Discover, SEO técnico e performance editorial. Na Cantuária Sites, integra a frente de projetos que cruzam linguagem de alta qualidade com alcance orgânico real.