Missão dada, missão cumprida. Numa noite comprida, desci aos infernos para entrevistar o cantor Ozzy Osbourne. O editor — aquele demônio! — sacou a arma no saloon e me deu um tiro pelas costas, requisitando que eu me virasse nos trinta para conseguir uma entrevista exclusiva com o roqueiro inglês, recentemente desencarnado. Mais sorumbático do que um político com tornozeleira eletrônica, mesmo falecido, juntei os petrechos cristãos dentro de uma surrada mochila — alho, crucifixo e uma foto do Padre Marcelo antes de usar bomba — e vazei para as profundezas do inferno mais rápido do que o evacuar de um ganso.
Deu para perceber que eu chegara ao meu destino, por causa do calor infernal e do desagradável fedor de peido alemão. Comecei a minha caminhada por aquele ambiente inóspito, medonho e obscuro. Acabei cruzando por alguns conterrâneos endemoninhados que prefiro não nominar nessa crônica para evitar melindres com leitores que nesse instante desperdiçam o seu precioso tempo lendo essas linhas.
Apesar de ser um iletrado em matéria de heavy metal, reconheci o combalido Ozzy Osbourne que estava vestido com uma indumentária preta, óculos escuros de aro redondo, sentado sobre um barril de London Pride, da cervejaria Fuller’s, a degustar um petisco de morcego-a-passarinho. Ele cantarolava “Changes”, a única canção do Black Sabbath que eu conhecia. Venci o medo de escuro, me apresentei ao Ozzy e expliquei que tivera a minha vida ceifada por um lunático para entrevistá-lo nas profundezas. Mais simpático do que um hooligan convertido à igreja anglicana, ele disse puxe um barril, filho da puta, senta e vamos começar logo essa droga de entrevista.
Fiquei sabendo mais tarde, por meio de um padre exorcista, que Ozzy Osbourne tinha respondido os meus questionamentos usando, tão somente, os títulos de canções que ele gravou com os parceiros do Black Sabbath, assim como na sua exitosa carreira solo. Não curtia o som que ele fazia. Ele também não gostava da forma como eu escrevia. Portanto, estávamos empatados. Eis o resultado da nossa resenha no quinto dos infernos.
REVISTA BULA: Olá, Ozzy. Obrigado por aceitar conversar comigo nessas plagas infernais. Como se sente?
OZZY — I don’t know. Paranoid. (risos) Waiting for darkness. Facing hell.
REVISTA BULA: Fizeram um funeral bastante reservado para você. Suponho que os seus fãs devem ter ficado frustrados por não terem tido a oportunidade de um último adeus.
OZZY — Electric funeral into the void. Sabotage. (risos, again)
REVISTA BULA: O mundo do rock ficou perplexo com a sua morte. Ninguém esperava que acontecesse de forma tão abrupta, afinal, há quinze dias você e os seus colegas do Black Sabbath fizeram um show memorável em Birmingham.
OZZY — Megalomania. The ultimate sin. (risos, once more)
REVISTA BULA: Toda uma geração de astros do rock and roll está envelhecendo e… Você sabe… Desaparecendo. Você acha que o rock vai morrer juntamente com os seus principais ícones?
OZZY — You can’t kill rock and roll. Never say die.
REVISTA BULA: Você já afirmou em inúmeras oportunidades que adora os Beatles e que eles foram uma enorme influência na sua carreira. Qual a canção dos Fab Four que você mais gosta?
OZZY — In my life.
REVISTA BULA: É uma linda balada. Do que você mais sente falta no inferno, Ozzy?
OZZY — Dirty women. Am I going insane? (risos, só pra variar)
REVISTA BULA: Muitas pessoas achavam que você era realmente paranoico. Aquela história de arrancar cabeça de morcego com a boca foi uma atitude bastante bizarra, sabe como é…
OZZY — It’s all right. You won’t change me, ordinary man.
REVISTA BULA: Encontrou conhecidos nas profundezas?
OZZY — Mr. Crowley, The Wizard.
REVISTA BULA: Não o conheço. Quem é ele?
OZZY — Patient number 9.
REVISTA BULA: Como ele bateu as patacas?
OZZY — Shot in the dark. Over the mountain.
REVISTA BULA: Quem matou o senhor Crowley?
OZZY — War pigs.
REVISTA BULA: Sinto muito pelo seu amigo, o paciente número nove.
OZZY — No more tears. I don’t want to change the world.
REVISTA BULA: Quais os seus planos para a eternidade?
OZZY — Close my eyes forever under the graveyard and bark at the moon.
REVISTA BULA: Ozzy, o que é a vida?
OZZY — A crazy train straigth to hell. A symptom of the universe. A hole in the sky.
REVISTA BULA: Eu me sinto infeliz. Qual o segredo da felicidade?
OZZY — Changes. Take what you want.
REVISTA BULA: Que tal finalizarmos essa entrevista infernal com uma mensagem?
OZZY — Warning: Today is the end. Mama, I’m coming home. See you on the other side. I don’t wanna stop. Goodbye.