Os 5 livros que Simone de Beauvoir dizia que toda mulher deveria ler

Os 5 livros que Simone de Beauvoir dizia que toda mulher deveria ler

A formação de uma consciência crítica não começa com um tratado, mas frequentemente com uma leitura que desestabiliza. Simone de Beauvoir, filósofa atenta às formas de opressão estrutural, nunca separou a leitura da experiência de pensar. Quando falava sobre os livros que marcaram sua vida, não apontava apenas afinidade emocional, mas implicação intelectual. “Mulherzinhas”, lido na infância, foi decisivo não porque oferecia um modelo, mas porque expunha, ainda que em forma leve, os limites impostos às meninas que sonhavam para além do possível. A figura de Jo March não era apenas carismática. Era epistemologicamente inquietante.

Com “O Moinho à Beira do Rio Floss”, Beauvoir reconheceu em Maggie Tulliver uma jovem cuja inteligência era tratada como defeito, e cuja sensibilidade acabava punida. George Eliot lhe mostrou que a interioridade feminina podia ser escrita com densidade moral. Em “Jane Eyre”, o foco não era a trama romântica, mas a integridade ética de uma protagonista que recusava perder a autonomia, mesmo diante do afeto. A leitura de “Mulheres Apaixonadas”, embora mais crítica, tinha outro peso. D.H. Lawrence oferecia, aos olhos de Beauvoir, um retrato cru das relações de poder travestidas de erotismo. Não era admiração. Era análise. O incômodo também ensina. “Um Teto Todo Seu” representava um gesto intelectual que ela respeitava: Virginia Woolf pensava a exclusão feminina não como acidente histórico, mas como construção estrutural. Era ali, mais do que em qualquer outro título, que Beauvoir via um pensamento paralelo.

Essas leituras não têm valor apenas histórico. Elas ainda são relevantes porque continuam exigindo que se leia de forma atenta, desconfiada e com vocabulário próprio. Beauvoir nunca acreditou que se formasse uma mulher apenas pela leitura, mas também nunca subestimou o papel da linguagem na construção da liberdade. Esses cinco livros, em contextos distintos, acionaram perguntas que ela mesma desenvolveria com rigor filosófico. Quando Beauvoir indicava essas obras, mesmo sem listá-las oficialmente, era como se dissesse que o caminho da emancipação também passa por saber ler o que o mundo quis apagar. A autoridade de sua voz não está apenas em quem ela foi, mas no tipo de leitura que foi capaz de fazer. Isso permanece atual. E necessário.

Revista Bula

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