Semana passada, eu andei pela primeira vez de graça no metrô. Fiquei muito feliz! É uma das vantagens de ter feito 65 anos. As outras vantagens são… bom, daqui a pouco eu lembro e falo para vocês.
Ah, sim! Lembrei! Pagar meia-entrada no cinema — olha aí outra vantagem de ser velho no Brasil! E ter desconto automático da contribuição sindical na aposentadoria sem ter pedido! Ah, não, isso não é vantagem. Espera aí que, daqui a pouco, eu lembro de outras vantagens.
Pela minha idade, já sou oficialmente considerado velho — quer dizer, sou considerado idoso, que é a palavra oficial para velho. Também tem quem chame velho de pessoa da terceira idade, ou pior, ancião. Tudo isso é ruim, mas nada é pior do que chamar a idade do velho de “melhor idade” — uma das maiores hipocrisias já criadas. Uma pessoa não pode estar na sua melhor idade cheia de dores na lombar ou se levantando cinco vezes para fazer xixi durante a noite!
Mas, apesar de pagar meia-entrada no cinema e no teatro, a verdade é que velho, no Brasil, não tem lugar de fala. Deram para ele apenas lugar de fila — a tal da fila prioritária. Olha aí outra vantagem de ser idoso! O problema é que essa fila não é muito respeitada — tem sempre um monte de gente tentando furar. Agora até as mães de bebês reborn querem entrar nas filas prioritárias! Aliás, o fato de haver bebês reborn e não haver idosos reborn é mais um sintoma do etarismo estrutural que nos assola.
Eu falei de etarismo, pois essa é a palavra usada para designar o preconceito contra os velhos, e eu não entendo por que não escolheram “idosismo”, ou “velhismo”, ou “terceira-idadismo”, ou até “melhor-idadismo”. Qualquer coisa, menos “etarismo”, que acho uma palavra estranha. Tá bom, “etário” se refere à idade, mas, cá pra nós, etário é muito próximo de otário — e isso, para mim, parece uma maneira sub-reptícia de chamar velho de otário! Abaixo o otarismo! Quer dizer, o etarismo!