7 romances que Nietzsche chamaria de confessionais (e leria duas vezes)

7 romances que Nietzsche chamaria de confessionais (e leria duas vezes)

Friedrich Nietzsche (1844-1900), o filósofo da transvaloração de todos os valores, da afirmação da vida e da crítica extremada à velha moral, mantinha uma relação complexa com a literatura e a arte. Embora conhecido principalmente por sua filosofia, Nietzsche era também um leitor voraz e um entusiasta da força que a literatura pode exercer sobre a alma humana. Quando fala-se de romances que o alemão chamaria de confessionais, está-se diante de obras que, mais do que simples narrativas, funcionam como uma espécie de exposição visceral, honesta e crua do ser. São livros que Nietzsche, dada sua paixão pela franqueza e pela bravura de enfrentar-se a si mesmo, decerto leria duas vezes, com olhos para a ética filosófica e para a estética literária. O que faz dado romance ser “confessional” na rigorosa acepção nietzschiana? E por que tais romances merecem uma releitura atenta do pensador que enaltecia a verdade trágica e a força oculta no existir de cada um?

Para Nietzsche, a vida autêntica é aquela que busca a verdade sofregamente, mesmo que vá descobrir incômodo, mágoa e dor. O filósofo preza a sinceridade a todo custo, arranca as máscaras de que os indivíduos valem-se na sociedade e não tem pejo de matar sonhos que exalam moralismo. Dessa forma, romances confessionais não são meras biografias ou relatos íntimos de uma pessoa, mas manifestos de coragem, em que o narrador ou protagonista entrega-se em suas vulnerabilidades, dúvidas, obsessões e dores, sem filtros ou arroubos de autocomiseração. Essas obras confrontam o leitor com o abismo da existência humana, os paradoxos, as paixões que erguem e derrubam, os conflitos entre o desejo e a moral de verdade, entre o eu idealizado e o de carne e osso. São livros que não confortam e, pelo contrário, insistem em revelar o que temos de mais profundo e tétrico.

Nietzsche certamente teria admirado obras como “Os Cadernos de Malte Laurids Brigge” (1910), de Rainer Maria Rilke (1875-1926), em cujas páginas o eu-lírico do personagem central revela seu desassossego, suas aflições e sua procura por sentido em linguagem poética e arrebatadora. Rilke não se limita a contar uma história, mas lança-nos para dentro do fluxo tortuoso da consciência de um homem que sofre. Outro romance que Nietzsche poderia chamar de confessional é, por óbvio, “Uma Confissão” (1882), por meio do qual Liev Tolstói (1828-1910) expõe o martírio espiritual que o levou a uma crise no auge de sua fama como escritor. Ali, tem-se a voz de um homem amargurado, consciente de suas misérias, lúcido nos monólogos que tece consigo mesmo. Evidentemente, “Os Cadernos de Malte Laurids Brigge” e “Uma Confissão” entram na lista da vez, com sete romances que passariam no padrão Nietzsche de qualidade por se recusarem a falsificar experiências, declinando da consolação fácil e exigindo que o leitor descubra-se, vendo-se como é.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.