Seleção Brasileira de Escritoras 2025

Seleção Brasileira de Escritoras 2025

Segundo Nelson Rodrigues, “todo assunto já nasce morto, fora o futebol”. Essa é uma meia-verdade. Peço desculpas ao mestre Nelson, mas uma possibilidade um tantinho mais correta seria: “todo assunto já nasce morto, fora futebol e literatura”. Se seus interlocutores não conversam sobre literatura, sinto muito, mas você sabe, eu sei, e até eles mesmos sabem que não se tratam de pessoas particularmente interessantes. Seja como for, o ideal é unir os dois temas: futebol e literatura.

Em 2026, vai acontecer mais uma Copa do Mundo de Futebol Masculino, e teremos a inevitável enxurrada de crônicas futebolísticas comentando os lances mais peculiares, as partidas mais memoráveis, as idiossincrasias dos craques. Não tem como fugir, para o bem ou para o mal. Então, é melhor pensarmos na Copa do Mundo de Futebol Feminino, que vai acontecer em 2027, no Brasil. E se colocarmos a imaginação para funcionar e escalarmos a Seleção Brasileira Feminina de… escritoras?
Isso mesmo: se todo assunto nasce morto, fora futebol e literatura, nada melhor do que imaginar as páginas de um livro como um gramado e as letras, distribuídas em campo por seus estilos e posicionamentos, como as vozes de algumas de nossas melhores escritoras. No mínimo, teremos muito assunto para discutir nas resenhas.

Lembrando que é tradição que os talentos potencialmente convocáveis para vestir a amarelinha sempre possam formar uma, duas ou três seleções. Qualquer coisa, se sua autora favorita ficar de fora, coloque a culpa na CBF. Isso também é tradição. Nossa Seleção Brasileira de Escritoras vai jogar no esquema tático conhecido como 4–4–2, um dos mais sólidos e eficientes. Teremos duas zagueiras, laterais que defendem e atacam, duas volantes, duas meias de armação e duas atacantes, sendo uma fazendo o pivô e outra de área.

Seleção Brasileira de Escritoras

A goleira — Giovana Madalosso

Giovana Madalosso vai vestir a camisa 1, talvez a posição que carrega mais responsabilidade. Ao longo de uma partida, uma goleira pode acertar diversas vezes, mas, em um único erro, “Tudo Pode Ser Roubado” do time e… adeus taça. Por isso, além de técnica e preparo, toda goleira precisa de sorte. Tradicionalmente, na gíria do futebol, essa sorte de arqueira é chamada de “leiteria”. A maternidade é um dos principais temas de Giovana Madalosso, então ela está escolada nesse quesito. Com certeza saberá explorar “A Teta Racional” para extrair a melhor sorte possível para a Seleção.


Laterais — Tatiana Salem Levy e Carla Madeira

Boas laterais são como “Dois Rios”, precisam percorrer todo o campo, indo e voltando, defendendo e atacando, de modo coeso e sintonizado, para não fragilizar a zaga. Por isso, sendo especialistas em dinâmicas fluviais, Carla Madeira está escalada para vestir a camisa 2 da lateral direita e Tatiana Salem Levy vestirá a camisa 6 da lateral esquerda. “Melhor Não Contar”, mas depende muito do trabalho delas a defesa do “Paraíso” representado por nossa grande área. Por outro lado, se conseguirem atacar de “Véspera”, podem identificar a “Natureza da Mordida” necessária para invadir o campo adversário e fazer passes e lançamentos sob medida para as atacantes. Um bom lançamento é meio gol.


Zagueiras — Martha Batalha e Ana Paula Maia

A zaga de um time precisa ser como uma fortaleza, uma muralha. O adversário não pode pensar que “Nunca Houve um Castelo” defendendo seu gol. A fortificação precisa estar lá, ainda que pareça que as zagueiras estão levando uma “Vida Invisível”. Quando menos se espera, precisam dar o bote e desarmar as atacantes do outro time. Fair Play é desejável, mas, às vezes, é preciso que ajam como “Búfalos Selvagens”, que sejam duras e que batam de verdade, como se estivessem “Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos”. A equipe adversária que, depois da partida, “Enterre Seus Mortos”. Nossa equipe canarinho deve fazer de tudo para receber a “Chuva de Papel” das vencedoras. Contamos com as guerreiras Martha Batalha para vestir a camisa 3, dando o primeiro combate, e Ana Paula Maia para usar a camisa 4 e ter a responsabilidade de ser nossa última linha de defesa.


Volantes — Carola Saavedra e Natalia Timerman

As volantes de um time são as primeiras atletas a estarem “Do Lado de Fora” de nosso lado do campo. Cumprem uma das missões mais complexas do jogo. Não podem deixar “Rachaduras” na defesa, ao mesmo tempo marcando as meias adversárias e armando jogadas de ataque, como se estivessem em um “Mundo Desdobrável”. Para cumprir essas tarefas extenuantes, escalamos Carola Saavedra para a camisa 5 e Natalia Timerman para a 8, certos de que vão aproveitar todas “As Pequenas Chances” que tiverem.


Meias de armação — Marcela Dantés e Andréa del Fuego

Skank já dizia que “o meio-campo é lugar das craques, que vai levando o time todo para o ataque”. As meias de armação precisam ser jogadoras habilidosas, com visão de jogo e criatividade, que tratam a bola e as letras com intimidade. Para cumprir essa tarefa, damos a camisa 10 e a braçadeira de capitã para Andréa del Fuego e a 7 para Marcela Dantés, duas estilistas sofisticadas que voam pelas páginas dos livros e dos campos, embora suas chuteiras não apresentem “Nem Sinal de Asas”. Seus pés ágeis tiram a bola das adversárias como se roubassem doces de crianças que precisassem ir na “Pediatra”, fazendo-as chutar o ar, chutar apenas “Vento Vazio”. Diante de tanto talento, o time adversário se transforma numa mera coleção de “Miniaturas”, vendidas junto com garrafas de refrigerantes.


Atacantes — Fernanda Torres e Aline Bei

Não é novidade que Fernanda Torres está entre as quatro maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, ao lado de Cacilda Becker, Marília Pêra e sua mãe, a imortal Fernanda Montenegro. Contudo, também é preciso reconhecer definitivamente que Fernanda Torres é uma das melhores escritoras brasileiras em atividade. Sua celebridade na atuação não pode obscurecer seu incrível talento literário. Se o gol é o “Fim” de toda jogada, Fernanda é uma de nossas melhores atacantes, é um fenômeno que merece a camisa 9. Para ajudá-la, correndo e fazendo o pivô, Aline Bei, a jogadora dos dribles curtos, usará a 11, fazendo, após cada gol marcado, uma “Pequena Coreografia do Adeus” para mandar as adversárias para casa.


A técnica — Cíntia Moscovich

Como técnica da equipe, Cíntia Moscovich, conhecida por suas excepcionais oficinas de escrita criativa, saberá conduzir esse incrível escrete “Mais ou Menos Normal” com inteligência tática, aproveitando os talentos individuais e o senso de coletividade. Mexeu com uma, mexeu com todas. Com certeza, ninguém vai preferir ter visto o filme do Pelé. No máximo, o filme da Marta ou da Clarice Lispector.


Ademir Luiz

Doutor em História Medieval. Pós-doutorado em Poéticas Visuais e Processos de Criação. Bolsista pesquisador do Instituto Camões de Portugal. Indicado ao Prêmio Capes de teses. Professor universitário, romancista, contista, critico, ensaísta e poeta bissexto. Criador da Teoria do Chaves, o texto mais lido e compartilhado da internet sul-americana.