7 livros que irritam profundamente quem finge que é culto

7 livros que irritam profundamente quem finge que é culto

Nem todo mundo que ostenta uma estante cheia de lombadas clássicas é, de fato, um leitor voraz. Em muitos casos, o acervo serve mais como peça decorativa ou símbolo de status intelectual do que como testemunho de jornadas literárias autênticas. E é aí que alguns livros tornam-se particularmente incômodos para quem finge ser culto: eles desmascaram, ironizam, ou simplesmente escapam das fórmulas previsíveis que esse tipo de leitor decorou para parecer sofisticado. Alguns livros não se encaixam nos moldes da erudição artificial e exigem mais do que pose. E isso incomoda profundamente quem só queria parecer inteligente, não pensar de verdade. Há, portanto, livros que são como espelhos quebrados para o leitor de fachada. Ao invés de refletirem uma imagem intelectual polida e admirável, devolvem uma visão desconstruída e, muitas vezes, hostil da própria ignorância. Quem finge ser culto tem, quase sempre, uma relação mecânica com os textos: conhece as obras por sinopses, cita autores por frases soltas, e matraqueia análises disparatadas como lei. Entretanto, certos livros resistem a esse tipo de leitura superficial. Eles não se deixam reduzir a frases de efeito ou interpretações rápidas. São textos que exigem enfrentamento, tempo, dúvidas e, sobretudo, autenticidade.

Um dos principais motivos que levam esses livros a irritarem quem finge ser culto é a ironia. A ironia literária, quando bem feita, desarma a pretensão intelectual. Autores como Machado de Assis (1839-1908), Italo Calvino (1923-1985) ou Vladimir Nabokov (1899-1977) escrevem com camadas de significados que ridicularizam a afetação. “Dom Casmurro” (1899), por exemplo, é um campo minado para leitores apressados: quem tenta resumi-lo ao “Capitu traiu ou não?” demonstra não ter entendido a genialidade do narrador manipulado e manipulador. Esses livros desmontam a ilusão de que a leitura é só absorção de conteúdo — eles mostram que ler também é suspeitar, reler, e admitir que não se entendeu tudo de imediato. O pseudoculto não tolera nada que fuja a seu entendimento muito peculiar do que é uma “grande obra”. Existem livros que rompem com estruturas narrativas tradicionais, não fazem questão alguma de linearidade ou batem na tecla da experimentação. “Ulisses” (1920), de James Joyce (1882-1941), é um clássico: tido por uma das obras-primas do século 20, o grande trabalho de Joyce é também o pesadelo de quem quer parecer culto mas não suporta textos labirínticos, excessivamente imagéticos, vertiginosos. Lê-lo exige paciência, estudo, e uma disposição para perder e se perder.

Obras como “Matadouro-Cinco” (1969), de Kurt Vonnegut (1922-2007), ou “As Vantagens de Ser Invisível” (1999), de Stephen Chbosky, são com frequência descartadas pelos fingidores por não parecerem “eruditas o suficiente”. Contudo, livros como esses falam com milhares de leitores, criam identificação, e muitas vezes tocam em temas complexos como solidão, angústia, saúde mental, guerra. O incômodo nasce do fato de que a leitura escapa do controle, porque instiga, emociona, transforma, sem se preocupar com as aparências. Por outro lado, livros como  “O Menino do Pijama Listrado” (2006), de John Boyne, ou “As Intermitências da Morte” (2005), de José Saramago (1922-2010), não exigem erudição, mas empatia. Esses quatro títulos e outros três figuram nesta lista, a fim de provar que os cultos de vitrine não admitem ser derrotados pela realidade, qual seja, a de que livros acessam os recônditos mais secretos e imperscrutáveis da alma humana. E cada alma é um universo.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.