7 livros que são mais perigosos que uma ligação do ex às três da manhã

7 livros que são mais perigosos que uma ligação do ex às três da manhã

Livros, como a humanidade vem aprendendo há séculos, são objetos contundentes. Seu silêncio nas prateleiras das bibliotecas ou ao lado da cama, esconde algo poderoso: as ideias. E ideias, quando bem articuladas, dinamitam certezas, transformam nossa visão de mundo e fazem barulho e estrago. Leituras explodem por semanas, meses, anos, às vezes para sempre, lembrando-nos de nossa vulnerabilidade: somos frágeis, sós, clamamos por salvação, e pega-nos de surpresa um livro, obrigando-nos a confrontar realidades e sentimentos que julgávamos mortos. Narrativas bem-estruturadas, personagens humanos, demasiado humanos, revelações inauditas são devastadoras porque tocam-nos em nossas fraquezas mais secretas e aviltantes.

Ler é uma busca renhida por autoconhecimento — que pode muito bem degringolar em perdição. Entra-se numa história ansiando validar juízos de valor e encontrar refúgio para nossos medos, porém quase sempre o que se consegue é ainda mais dúvida e assombro, numa prova bastante objetiva de que a verdadeira arte existe é para incomodar. A filosofia que existe nos livros é  perigosa, bem como os romances, que abordam jeitos inconvencionais e mesmo ilícitos de amar. “Lolita”, de Vladimir Nabokov (1899-1977), é um exemplo cruel e sofisticado de como a linguagem pode seduzir o leitor a ponto de fazê-lo esquecer que está diante de um criminoso. Nabokov não só fere suscetibilidades como evidencia como é fácil manipular as percepções. Dá-se um alerta involuntário acerca do encantamento predatório. Amar é também uma forma de maldição.

Há algo de íntimo e clandestino no ato de mergulhar em páginas de que ninguém mais se ocupa. Livros são perigosos porque perturbam, especialmente quando jogam por terra nossas certezas. Depois de uma leitura transformadora, acabam-se as desculpas para se persistir em opiniões cruéis e comportamentos equivocados. Obras a exemplo de “Lolita” remetem quem as lê a um tempo muito diverso deste, no qual havia lugar para considerações não só politicamente incorretas, mas repulsivas. Contudo, não é o caso de proibir Nabokov e queimar numa imensa fogueira os volumes de seu romance afrontoso, pelo contrário. Há que se reservar espaço nas reflexões contemporâneas para uma análise desapaixonada do que o autor quis dizer, e por essa razão é que seu trabalho mais célebre é lembrado aqui, junto com outra meia dúzia de publicações malditas ou “tóxicas”, como se fala hoje. É preciso antes conhecer o mal para evitá-lo.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.