5 livros que, se fossem pessoas, seriam processados — e deveriam vir com o telefone de um terapeuta no final

5 livros que, se fossem pessoas, seriam processados — e deveriam vir com o telefone de um terapeuta no final

Nem todo sofrimento vem com aviso. Alguns se disfarçam de beleza, outros de profundidade — e há os que chegam como quem não quer nada, até você perceber que há uma mão invisível apertando o coração com força suficiente para silenciar qualquer defesa. Certos livros não se contentam em contar histórias. Eles atravessam. Rasgam. Corroem lentamente o que há de tênue entre a empatia e o esgotamento. E, curiosamente, continuam sendo relidos, citados, idolatrados. Talvez por isso sejam perigosos. Talvez por isso sejam geniais.

Há algo de impiedoso em “Lavoura Arcaica”, um sufoco quase litúrgico, um incesto espiritual entre linguagem e loucura. Cada frase pesa como uma maldição antiga — e ao mesmo tempo é impossível largar. “Solenoide,” por sua vez, é uma armadilha metafísica: você entra curioso e sai como quem sobreviveu a um pesadelo em câmera lenta. O narrador não te guia, ele te arrasta. E isso, estranhamente, tem algo de sedutor.

Já “2666” é um labirinto sem saída. Bolaño constrói uma obra que oscila entre o sublime e o grotesco com uma frieza quase patológica. Não há alívio, não há redenção — só um mundo que se desmancha página após página. Em “Derrubar Árvores”, Bernhard atinge o ápice do ressentimento performativo: tudo é escárnio, ruído, repetição — uma festa que poderia ser um velório. E talvez seja. Por fim, “Meridiano de Sangue” é puro apocalipse: o deserto, o homem e a violência num balé bíblico sem redenção possível. Cormac não escreve: ele esculpe o mal com cinzel e fogo.

A semelhança entre esses livros não está no gênero, nem no enredo. Está no tipo de devastação que provocam. São obras que não respeitam o leitor, que não foram feitas para entreter ou consolar. Elas punem — com estilo, com intensidade, com crueldade literária. E, paradoxalmente, é isso que as torna indispensáveis. Ler cada uma delas é como abrir uma ferida e deixá-la exposta ao vento: dói, mas purifica. Quem sai ileso, não entendeu nada. E quem entende, raramente volta a ser o mesmo.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.