7 livros inclusivos escritos por quem nunca viveu a realidade sobre a qual quer falar

7 livros inclusivos escritos por quem nunca viveu a realidade sobre a qual quer falar

Historicamente, a literatura canônica foi dominada por escritores homens, brancos, europeus ou eurocentrados, com visões de mundo que muitas vezes excluíam ou até estigmatizavam as minorias. Machado de Assis (1839-1908), por exemplo, só recentemente tem sido valorizado como autor negro, após décadas de embranquecimento simbólico. Autores e autoras indígenas, africanos, latino-americanos ou de minorias linguísticas sempre padeceram de algum grau de marginalização ou foram completamente ignorados pelas grandes editoras e academias. Essa exclusão não é meramente simbólica: ela tem implicações reais na formação de identidades, na autoestima de leitores e na maneira como diferentes grupos são percebidos na sociedade. Uma criança negra que cresce sem encontrar personagens como ela nos livros pode internalizar a ideia de que sua existência é secundária ou insignificante. Por outro lado, quando há identificação com os personagens, o impacto positivo na formação subjetiva é profundo e duradouro.

A representatividade na literatura não deve se limitar aos personagens: ela precisa atingir também os autores, os editores, os críticos, os professores. Quando se promove a diversidade de vozes na produção literária, amplia-se o espectro de experiências humanas que podem ser compreendidas, valorizadas e ensinadas. Nos últimos anos, iniciativas como clubes de leitura voltados para autores negros, feiras literárias com foco na literatura indígena e ações de escritores homossexuais têm criado espaços para novas vozes emergirem. Essas ações são fundamentais para corrigir desigualdades históricas e para oferecer ao público obras mais plurais e inclusivas. Ler sobre a experiência do outro permite que o leitor se coloque em diferentes papéis e contextos, vivencie outras realidades e questione seus próprios preconceitos. Nesse sentido, uma literatura inclusiva tem o potencial de transformar consciências, ampliar horizontes e fomentar uma cultura de respeito e convivência. 

O mercado editorial exerce papel de destaque na inclusão literária. É preciso que editoras estejam atentas à diversidade de autores, personagens e temas em seus catálogos. Isso implica não apenas publicar autores marginalizados, mas também investir em sua divulgação, distribuição e reconhecimento. Infelizmente, o racismo estrutural, o machismo e outras formas de opressão ainda se refletem nas práticas editoriais. Autores negros, por exemplo, costumam receber menos visibilidade nos meios de comunicação de massa, menos prêmios e menores tiragens. A inclusão junto às editoras não se dá apenas no momento da publicação, mas em todas as etapas do processo. Por isso, mostra-se inócuo e mesmo contraproducente investir em livros que expõem a realidade e denunciam os problemas de grupos minoritários sob o ângulo de quem sempre esteve por cima. 

Elaboramos uma lista com sete exemplos de enganos, intencionais ou não, que acabaram por perpetuar-se na literatura, fazendo com que temas relevantes como racismo e o assassinato em massa de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) perdessem força porque tratados por autores que muito pouco poderiam contribuir com o debate sério e a proposição de soluções, paliativas ou quem sabe até mesmo revolucionárias, como se observa no clássico “O Sol é Para Todos” (1960), com o qual Harper Lee (1926-2016) ganhou o Pulitzer de Ficção em 1961, ou “O Menino do Pijama Listrado” (2006), do irlandês John Boyne, aproveitado com certo desmazelo pelo cinema no filme homônimo de Mark Herman. Uma literatura mais inclusiva é, portanto, uma literatura mais honesta, sem a obrigatoriedade de cifras milionárias ou galardões.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.