9 autores consagrados que seriam cancelados hoje se publicassem o que escreveram no século passado 

9 autores consagrados que seriam cancelados hoje se publicassem o que escreveram no século passado 

O conceito de cancelamento tornou-se um dos fenômenos sociais mais discutidos no século 21. Trata-se, em linhas gerais, da prática de responsabilizar publicamente figuras de destaque — especialmente nas redes sociais — por comportamentos considerados ofensivos, discriminatórios ou moralmente inaceitáveis. Essa nova forma de regulação da cultura e dos costumes é especialmente sensível às pautas contemporâneas de justiça social, igualdade étnica e de gênero e respeito às minorias. Entretanto, ao aplicarmos um olhar retrospectivo sobre grandes nomes da literatura mundial, surgem questões instigantes. Quantos desses gênios resistiriam ao crivo dos fundamentos morais de hoje? Como alguns dos mais renomados escritores da História seriam recebidos hoje, à luz das atitudes e visões que manifestaram em sua época — muitas vezes impregnadas de racismo, sexismo, homofobia, colonialismo e elitismo? Longe de negar suas contribuições artísticas, deve-se propor um diálogo honesto entre herança artística e intelectual e responsabilidade histórica.

Grandes escritores, como todos os seres humanos, foram produtos de seu tempo, mas também foram formadores de imaginários. E, como tal, suas obras não são neutras. Elas ajudam a construir as bases sobre as quais comportamentos opressivos foram — e ainda são — sustentados. A cultura do cancelamento, embora em muitas circunstâncias impulsiva ou desproporcional, surge do esforço legítimo quanto a reparar desigualdades históricas e construir um panorama cultural mais justo. Não se trata de jogar fora as obras desses autores, mas de lê-las com senso crítico, colocando-as em diálogo com os valores do nosso tempo. Em última análise, reconhecer as falhas dos gênios literários é um sinal de amadurecimento coletivo. Significa que estamos mais conscientes dos impactos das palavras e das ideias. Significa, também, que podemos construir um cânone literário mais plural, inclusivo e ético, valorizando a arte, mas atento ao custo humano que muitas vezes ela perpetrou.

Nove escritores do século passado figuram na nossa lista como gênios cuja pena explicitou sentimentos ignóbeis, uma extensão do que foram em pessoa ou, pior, uma cortina de fumaça colorida por trás da qual escondiam crimes revelados apenas por eles mesmos muitos anos mais tarde, depois de mortos, casos de H.P. Lovecraft (1890-1937), um dos pais do horror moderno, e William Golding (1911-1993), vencedor do Nobel de Literatura de 1983, respectivamente.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.