Onde mais se lê no Brasil? O ranking das 26 capitais: de João Pessoa em 1º a Goiânia em último

Onde mais se lê no Brasil? O ranking das 26 capitais: de João Pessoa em 1º a Goiânia em último

É sempre mais fácil contar os que não leem. São mais visíveis. Estão em toda parte — nos ônibus, nas filas, nas praças de alimentação, nos corredores de escola. Estão parados, deslizando os dedos sobre telas, às vezes entediados, às vezes entretidos, quase nunca em silêncio. Ler, de verdade, é outra coisa. É uma forma de ausência presente. De demora. De desacordo com o tempo. Por isso surpreende tanto quando, de tempos em tempos, uma pesquisa decide ouvir o país para descobrir, não apenas se ainda se lê, mas onde, por quê, em que corpo, em que bolso, em que esperança o livro ainda encontra lugar.

A 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada entre abril e julho de 2024 pelo Instituto Pró-Livro em parceria com a Fundação Itaú e executada pelo IPEC, traça com método e sensibilidade um retrato nu e recente do país leitor. Foram 5.504 brasileiros entrevistados, em 208 municípios, incluindo todas as capitais. O conceito de leitor, aqui, não é indulgente: é considerado leitor quem leu, inteiro ou em partes, ao menos um livro (impresso ou digital) nos três meses anteriores à entrevista. Não é sobre intenção — é sobre prática. A leitura como gesto real.

E o que os dados revelam — com a frieza das porcentagens e a delicadeza das entrelinhas — é um país que lê em silêncio, por dentro. Que resiste. Que, apesar das ausências e da precariedade, mantém vivo o pacto íntimo com a palavra. Capitais como João Pessoa, Curitiba e Manaus aparecem nos primeiros lugares do ranking, acima de centros tradicionalmente associados à produção editorial. É um mapa que desafia ideias prontas. Que rompe com o eixo previsível. Que afirma: o leitor brasileiro não está onde se espera — ele está onde pode.

Essa inversão geográfica não é trivial. Ela fala da escola pública como espaço decisivo. Das mães e professoras como principais influenciadoras. Dos livros que ainda circulam nas mãos, mesmo quando faltam estantes. Fala também do cansaço. Da pressa. Da solidão. Porque ler, em 2024, segue sendo um ato de pausa — e, às vezes, de desobediência. O livro não se impõe. Mas quando chega, ocupa. E, no Brasil, apesar de tudo, ainda chega. Ainda ocupa.


1 → João Pessoa (PB) — 64%

João Pessoa lidera entre as capitais brasileiras: 64% da população com 5 anos ou mais afirmou ter lido ao menos um livro, inteiro ou em partes, impresso ou digital, nos últimos três meses. Esse número reflete um cenário de forte presença da leitura como prática social, apoiado por bibliotecas públicas ativas, incentivo escolar e iniciativas comunitárias que promovem o livro como direito cultural e ponte de mobilidade.


2 → Curitiba (PR) — 63%

Em Curitiba, 63 a cada 100 pessoas relataram leitura recente. Esse índice elevado é sustentado por investimentos duradouros em bibliotecas de bairro, projetos escolares consistentes e uma cultura pública que valoriza o livro desde a infância. A cidade também se destaca por integrar leitura e cidadania no espaço urbano, com eventos acessíveis e bem frequentados.


3 → Manaus (AM) — 62%

Com 62% da população leitora, Manaus mostra força na região Norte. A leitura se espalha por meio de escolas engajadas, clubes de leitura, bibliotecas móveis e ações culturais que resistem às limitações geográficas e estruturais típicas da Amazônia urbana. Esse dado surpreende por evidenciar que o hábito leitor não está restrito aos grandes centros do Sul e Sudeste.


4 → Belém (PA) — 61%

Belém reúne 61% de leitores ativos, sinalizando uma adesão ampla à leitura entre seus moradores. A cidade colhe os frutos de eventos literários robustos, como a Feira Pan-Amazônica do Livro, e de redes escolares que estimulam o contato cotidiano com a literatura. A presença de autores locais e a tradição oral amazônica também ampliam o alcance simbólico do livro.


5 → São Paulo (SP) — 60%

São Paulo apresenta 60% da população com leitura recente, o que reflete sua infraestrutura poderosa de bibliotecas, editoras, escolas e livrarias. No entanto, os altos índices convivem com profundas desigualdades no acesso ao livro, especialmente nas periferias. Ainda assim, movimentos como bibliotecas comunitárias, saraus e clubes de leitura mantêm a cidade entre as mais leitoras do país.


6 → Teresina (PI) — 59%

Em Teresina, 59 em cada 100 pessoas mantiveram contato com livros recentemente. O número evidencia políticas educacionais que vêm sendo fortalecidas, principalmente em escolas públicas, com foco na formação de novos leitores. A leitura aparece como instrumento de ascensão social e resposta à escassez de espaços culturais formais.


7 → São Luís (MA) — 59%

Também com 59% de leitores, São Luís integra a tendência positiva no Nordeste. A leitura por aqui está entrelaçada à tradição oral, às bibliotecas populares e aos saraus periféricos, que resistem mesmo diante da ausência de grandes investimentos. A cultura popular ludovicense sustenta a leitura como expressão identitária e afetiva.


8 → Aracaju (SE) — 58%

Aracaju mostra um índice robusto: 58% dos moradores afirmaram ter lido livros nos últimos três meses. A cidade aposta em alfabetização literária, leitura mediada em escolas públicas e iniciativas da sociedade civil, como clubes de leitura e feiras locais. A prática leitora aparece como um elo entre tradição e inovação.


9 → Salvador (BA) — 57%

Com 57% da população leitora, Salvador firma seu protagonismo cultural também no campo da leitura. O número revela o impacto de projetos como rodas de leitura, poesia falada, slams e bibliotecas vivas. A literatura afro-brasileira tem papel central na formação de identidade e resistência, e está presente tanto nas salas de aula quanto nas ruas da capital baiana.


10 → Florianópolis (SC) — 56%

Em Florianópolis, 56 em cada 100 habitantes leram livros recentemente. A capital catarinense se beneficia de uma estrutura escolar sólida, de centros culturais ativos e da presença de livrarias de rua, além de iniciativas universitárias de formação de leitores. Apesar do bom resultado, o índice ainda fica abaixo da média do estado.


11 → Porto Alegre (RS) — 54%

Porto Alegre apresenta 54% de leitores, sustentando sua reputação como capital literária. O número é sustentado por universidades públicas fortes, tradição editorial, bibliotecas de bairro e movimentos como a Feira do Livro, que há décadas fazem da cidade um polo cultural importante.


12 → Rio de Janeiro (RJ) — 53%

O Rio registra 53% de leitores ativos. A cidade tem uma cena literária vibrante, com slams, feiras, bibliotecas comunitárias e movimentos periféricos que aproximam o livro do cotidiano. Mas também convive com profundas desigualdades no acesso ao acervo, sobretudo nas zonas Norte e Oeste.


13 → Brasília (DF) — 52%

Na capital federal, 52% da população declarou leitura recente, número coerente com o alto nível de escolaridade médio local. Brasília combina escolas bem avaliadas, centros de leitura modernos e o estímulo institucional ao livro, embora a prática ainda não seja homogênea entre diferentes regiões administrativas.


14 → Campo Grande (MS) — 49%

Campo Grande marca 49% de leitores, ligeiramente abaixo da metade da população. O hábito da leitura está presente nas escolas, mas enfrenta dificuldades de continuidade fora do ambiente formal. A ausência de políticas estruturadas e de espaços literários acessíveis contribui para a estagnação do índice.


15 → Cuiabá (MT) — 48%


Com 48 leitores a cada 100 pessoas, Cuiabá evidencia esforços localizados em escolas públicas e projetos universitários. Entretanto, o acesso ao livro fora do espaço escolar ainda é restrito, refletindo em um índice inferior ao desejável para a capital mato-grossense.


16 → Natal (RN) — 47%

Natal apresenta 47% da população com leitura recente, exatamente na média nacional. Há bons projetos escolares e bibliotecas ativas, mas falta articulação entre iniciativas culturais e políticas públicas contínuas para que o livro esteja mais presente no cotidiano dos bairros.


17 → Fortaleza (CE) — 46%

Com 46% de leitores, Fortaleza mantém uma tradição cultural rica, mas enfrenta desafios em garantir o acesso amplo à leitura. A prática está concentrada nos ambientes escolares e culturais centrais, deixando lacunas nas periferias da cidade.


18 → Recife (PE) — 46%

Recife iguala Fortaleza, com 46% dos moradores leitores. A cidade tem história literária marcante, mas o número reflete uma dispersão entre o centro e as margens. Movimentos periféricos têm preenchido esse vazio, mas a estrutura pública ainda carece de investimentos robustos.


19 → Maceió (AL) — 45%

Maceió apresenta 45% da população leitora. O número revela a força de bibliotecas escolares e feiras do livro locais, mas também denuncia a falta de continuidade e de políticas de longo prazo para formar leitores fora do circuito educacional formal.


20 → Palmas (TO) — 44%

Com 44% de leitores, Palmas ainda caminha em direção a uma cultura leitora mais sólida. Capital jovem, tem bibliotecas escolares organizadas, mas carência de bibliotecas públicas e acesso desigual ao acervo, principalmente em regiões mais afastadas.


21 → Vitória (ES) — 43%

Vitória apresenta 43% da população com leitura recente. Apesar da boa estrutura educacional estadual, a capital ainda não reflete essa condição em políticas públicas duradouras voltadas à promoção da leitura. A prática é presente, mas tímida.


22 → Boa Vista (RR) — 42%

Boa Vista atinge 42% de leitores ativos, um número expressivo para uma capital distante dos grandes centros e com limitações de infraestrutura. Iniciativas escolares têm papel central, mas ainda é preciso diversificar os meios de acesso ao livro.


→ Porto Velho (RO), Macapá (AP), Rio Branco (AC) — 41%


Essas três capitais da Região Norte compartilham o mesmo índice: 41% da população afirma ter lido livros nos últimos três meses. O número aponta desafios semelhantes: escassez de livrarias, poucas bibliotecas públicas, distâncias geográficas intensas e limitações estruturais para formação de leitores fora do ambiente escolar.


26 → Goiânia (GO) — 40%

Goiânia ocupa a última posição do ranking, com 40% de leitores. A capital goiana, apesar do acesso razoável à educação e à internet, apresenta um cenário de estagnação no incentivo à leitura. Faltam políticas culturais contínuas que coloquem o livro no centro da vida urbana cotidiana.