Crônicas

Elogio das pessoas imperfeitas deste mundo

Elogio das pessoas imperfeitas deste mundo

Acontece em todas as festas. Depois dos risos, dos perfumes recendendo, das chegadas pirotécnicas, dos abraços e dos beijos em boa dose, depois das fotografias e de todo o protocolo festivo, chega o instante estranho em que o volume da música diminui, os convivas populares desaparecem e ali permanecemos apenas nós, as pessoas imperfeitas deste mundo. Agora somos nós e nossos defeitos.

Chico Buarque 70 anos: a entrevista que faltava

Chico Buarque 70 anos: a entrevista que faltava

Chico estava muito bem humorado, afinal de contas, era um churrasco em comemoração aos seus 70 anos, e havia um sem número de amigos esparramados por todos os lados, exceto eu, um enxerido enviado especial da Revista Bula. Notei que ali no banco de reservas, enquanto Chico tratava o estiramento muscular, seria o momento ideal para iniciarmos a entrevista. O ídolo concordou. Brindamos com canecos de chope — aliás, um dos melhores anti-inflamatórios que se tem notícia no Rio de Janeiro, além da própria paisagem — e começamos o bate-papo. Vocês vão notar que a poesia não diz tudo, mas explica muita coisa.

A inveja é um tapa na cara

A inveja é um tapa na cara

Além de pegar a gente pelo pé, a inveja tem cara pra tudo. Cara de pau, de múmia, de paisagem, de quem-não-tá-nem-aí para as demandas do vizinho. Cara de quem só vive lá em cima, no alto do Himalaia — quase perto do olimpo. Cara de nariz em pé e torcicolo na ativa. Quem nasceu pra rei nunca esquece a majestade. Nossos tetravôs já sentenciavam. Quem se acha não se perde, nem fica dando bobeira ou ouvidos tortos para os Zé Manés plantados em cada esquina.

A esperança é um ato de resistência. Resista

A esperança é um ato de resistência. Resista

Você que de quando em vez chora à noitinha, na solidão da alcova. Você que se arrebenta no cumprimento das obrigações. Que perde um tempo danado desviando das porradas de todo dia. Você que tem medo do arrependimento um minuto depois de tomar uma decisão. Você que esconde seu pavor de morrer só, de não ter onde cair morto, de lhe faltar um gato para puxar pelo rabo.

Quando a vida marca gol contra o que você faz?

Quando a vida marca gol contra o que você faz?

Difícil responder de imediato. Sobretudo quando os imprevistos puxam o tapete da gente. As pegadinhas do acaso nos deixam de mãos nuas. Nossas pretensas certezas vão de repente para o ralo. Tudo pode acontecer a qualquer hora. Mas a gente nunca acha que o destino, ou o que seja, armará feio para o nosso lado. É o outro quem se arrebenta, machuca, quebra a cara, a coluna, fica em coma, adoece inexplicavelmente. É o outro quem morre.