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Entrevista infernal com Ozzy Osbourne, o Príncipe das Trevas

Entrevista infernal com Ozzy Osbourne, o Príncipe das Trevas

Missão dada, missão cumprida. Numa noite comprida, desci aos infernos para entrevistar o cantor Ozzy Osbourne. O editor — aquele demônio! — sacou a arma no saloon e me deu um tiro pelas costas, requisitando que eu me virasse nos trinta para conseguir uma entrevista exclusiva com o roqueiro inglês, recentemente desencarnado. Mais sorumbático do que um político com tornozeleira eletrônica, mesmo falecido, juntei os petrechos cristãos dentro de uma surrada mochila — alho, crucifixo e uma foto do Padre Marcelo antes de usar bomba — e vazei para as profundezas do inferno mais rápido do que o evacuar de um ganso.

O autor que escreveu só dois livros, foi assassinado e influenciou Borges, Nabokov e Philip Roth

O autor que escreveu só dois livros, foi assassinado e influenciou Borges, Nabokov e Philip Roth

Bruno Schulz foi morto com um tiro pelas costas numa rua esquecida da Galícia ocupada. Levava nos braços um envelope que talvez contivesse “O Messias”, o romance inédito que nunca será lido. Mas o essencial sobreviveu. Autor de apenas dois livros curtos, ele moldou uma linguagem que se dobra no tempo, que delira em torno da memória e que ecoa em autores como Roth, Tokarczuk e talvez até Borges. Setenta anos depois, sua ficção continua escapando de classificações. Como se fosse feita não para durar, mas para assombrar.

O jantar mais constrangedor da literatura moderna: o dia em que Joyce e Proust dividiram a mesa — e a antipatia em silêncio

O jantar mais constrangedor da literatura moderna: o dia em que Joyce e Proust dividiram a mesa — e a antipatia em silêncio

Em 18 de maio de 1922, em Paris, dois dos maiores escritores do século 20 sentaram-se à mesma mesa — e nada aconteceu. James Joyce, recém-publicado com “Ulysses”, e Marcel Proust, em seus últimos meses de vida, mal trocaram frases. O jantar no Hôtel Majestic, que também reuniu Stravinsky, Picasso e Diaghilev, entrou para a história justamente pelo vazio que deixou. O que poderia ter sido uma conversa entre titãs tornou-se uma anti-epifania literária. Nesta reportagem, o silêncio entre eles é escutado de perto: como gesto, falha, sintoma — e talvez, destino.

A alucinação de Belchior era desaparecer: o disco que previu sua fuga e escreveu seu silêncio, 50 anos antes

A alucinação de Belchior era desaparecer: o disco que previu sua fuga e escreveu seu silêncio, 50 anos antes

Muito antes de deixar os palcos e desaparecer dos holofotes, Belchior já preparava sua saída nas entrelinhas de “Alucinação”. Lançado em 1976, o disco completa 50 anos em 2026 como um marco da música brasileira e como o registro mais íntimo de um artista que não queria permanecer. Esta reportagem percorre sua trajetória desde Sobral até o silêncio final em Santa Cruz do Sul, passando por obras como “Coração Selvagem” e “Todos os Sentidos”. “Alucinação” não foi só ruptura estética, mas profecia pessoal. Belchior cantou sua própria fuga, com clareza desconcertante, quando ainda ninguém estava ouvindo direito.

A escritora que escreveu e publicou sem o marido saber — e deu origem ao Dia das Mães como ato político

A escritora que escreveu e publicou sem o marido saber — e deu origem ao Dia das Mães como ato político

Às vezes é preciso esconder até a própria voz para que ela exista. Em Boston, numa casa elegante de nome histórico, uma mulher escrevia poemas sem dizer. Escondia-os nos bolsos dos vestidos, entre os papéis da casa, como se cada linha fosse uma forma de desobediência, um movimento quase microscópico contra a delicada armadura conjugal. Não era sobre escândalo, nem sobre heroísmo. Era sobre escrever sem pedir permissão. Julia Ward Howe não nasceu para ser invisível, mas aprendeu, cedo demais, que visibilidade feminina era um campo minado. E escolheu, como tantas outras, escrever na sombra antes de ser lida à luz.