Autor: Solemar Oliveira

O fim do pai e o começo da voz: o que Natália Timerman e Leïla Slimani têm em comum Fotos / Renato Parada e Francesca Montovani

O fim do pai e o começo da voz: o que Natália Timerman e Leïla Slimani têm em comum

Duas escritoras, dois lutos, duas formas de entender a morte como ponto de virada. Uma encontra na ausência do pai a chave para a origem. A outra, o impulso para se tornar o que ainda não era. Ambas escrevem da margem da dor, mas sem sentimentalismo — com lucidez e desassossego. Quando o pai se vai, algo se desloca: a tradição cede, a identidade emerge, a escrita acontece. E talvez, entre o silêncio herdado e a voz recém-descoberta, o que se forma seja não só literatura, mas lugar para existir.

Cristovão Tezza diante do silêncio: uma literatura à altura do Nobel

Cristovão Tezza diante do silêncio: uma literatura à altura do Nobel

Um pai, um filho, e a ausência de Deus. Cristovão Tezza constrói uma narrativa crua e dolorosamente lúcida sobre o nascimento de uma criança com síndrome de Down — e a transformação silenciosa de um homem diante do acaso. Sem mitos, sem consolo, sem redenção. Apenas a lenta e digna aceitação do absurdo, como em Camus, como em Borges. O que nasce ali não é só um filho: é a consciência. Um romance que confirma Tezza como um dos poucos autores brasileiros à altura do Nobel.

5 melhores poemas de Sylvia Plath

5 melhores poemas de Sylvia Plath

Sylvia Plath não escreveu para agradar. Escreveu como quem sangra devagar, como quem sabe que pensar demais pode ser fatal. Aos 30 anos, deixou poemas que não envelhecem — não por serem eternos, mas por continuarem doendo. Sua escrita atravessa o íntimo com uma frieza quase cirúrgica, e o que parece confissão é, na verdade, lucidez. A beleza ali não está no consolo, mas na precisão. E isso basta para que seus versos sobrevivam — e nos confrontem — geração após geração.

Falas curtas, de Anne Carson — pequenos contos que dizem mais do que romances inteiros

Falas curtas, de Anne Carson — pequenos contos que dizem mais do que romances inteiros

Textos curtos não são textos menores. Quando bem escritos, condensam tensão, estética e pensamento em espaços mínimos — e inesquecíveis. Há quem chame de microconto, outros de lampejo narrativo, mas o que importa é a capacidade de gerar impacto com poucas palavras. Um gesto. Uma ruptura. Um silêncio que ecoa mais do que um grito. Literatura assim não se mede em parágrafos, mas em reverberação. Quando um texto ocupa apenas uma linha e mesmo assim deixa você suspenso — isso não é pouco. Isso é o bastante.

Juventude sem Deus, de Ödön von Horváth

Juventude sem Deus, de Ödön von Horváth

A força de uma ideia pode mover civilizações — ou destruí-las por dentro. Quando um sistema molda a mente de jovens para acreditar que alguns valem mais que outros, o pensamento vira arma, e a educação vira campo de adestramento. Neste romance brutal e engenhoso, acompanhamos um professor diante de uma juventude formatada pela obediência, pela arrogância e pelo medo. Um crime acontece. Mas a origem está muito antes do ato: está no silêncio, no abandono moral, na normalização da violência como reflexo de uma doutrina.