Autor: Revista Bula

Morreu aos 24. Mas ensinou um país escravizado a ouvir a própria dor

Morreu aos 24. Mas ensinou um país escravizado a ouvir a própria dor

Uma vida breve acende um horizonte inteiro: quando a língua pública encontra sua hora, a juventude vira trabalho coletivo e um país ainda erguido sobre trabalho escravizado passa a ouvir a própria consciência em voz alta. Entre Bahia, Recife e São Paulo, oratória e poesia se confundem em convocação. O corpo cobra pedágio da língua, mas não a interrompe. A morte chega cedo, e mesmo assim a repercussão perdura em escolas, praças, jornais e cenas de hoje, onde versos antigos seguem escavando espaço para o ar que faltava.

Taiguara: a tragédia do homem que quis cantar o impossível e pagou um preço alto demais

Taiguara: a tragédia do homem que quis cantar o impossível e pagou um preço alto demais

A cena abre com um piano fechado, tampo sob flanela escura, poeira correndo lenta. Lá fora, a madrugada não termina; aqui dentro, livros, partituras, um abajur aceso. Taiguara respira baixo, mede o ar, encosta a mão nas teclas mudas. O silêncio parece burocrático, dobrado e datado, como se a música já viesse carimbada. Uma etiqueta prende o país inteiro em poucas linhas. A agulha ainda não desce, mas algo vibra. A beleza quer falar.

Do topo das rádios à solidão de um apartamento no Recife: o ídolo que a música brasileira preferiu esquecer

Do topo das rádios à solidão de um apartamento no Recife: o ídolo que a música brasileira preferiu esquecer

Cronista popular nascido em Pesqueira, ele atravessou rádios, táxis e bares com voz grave e humor fino, unindo poesia e notícia. Doze anos de estúdio ensinaram medida, silêncio e corte; depois vieram doença de rio, cadeira de rodas, hemodiálises, tentativas de retorno e uma cidade que não para. Entre cadernos de bolso e recibos guardados, a biografia revela um país comprimido no acetato e nos papéis.

Aos 47 anos, o tumor interrompeu a vida. Mas a canção se recusou a morrer. Ela já havia virado lenda

Aos 47 anos, o tumor interrompeu a vida. Mas a canção se recusou a morrer. Ela já havia virado lenda

Do apartamento em Copacabana ao palco vigiado de “Opinião”, do cinema de Goiânia ao estúdio dos meses finais, Nara Leão transformou delicadeza em critério. Deu nome inteiro a compositores esquecidos, escolheu sílabas com precisão, sustentou pausas como quem guarda uma promessa. Entre 1964 e 1989, atravessou censura, exílio afetivo, reabertura política e doença, deixando um método simples: ouvir antes de cantar. A sua voz, baixa e firme, ainda ensina atenção; o legado aparece nas contracapas, nas fichas técnicas e nas escutas domésticas.

O poeta maldito que fez o país cantar e morreu esquecido aos 47 anos: a tragédia de Sérgio Sampaio

O poeta maldito que fez o país cantar e morreu esquecido aos 47 anos: a tragédia de Sérgio Sampaio

Entre uma janela mal fechada em Santa Teresa e um palco que ainda ressoa, a vida de Sérgio Sampaio atravessa pensões, estúdios de lâmpada quente e mesas de bar onde o convite cabe no verso de um guardanapo. Há um refrão que o país adotou e há canções guardadas em cozinhas, corredores, fitas. A história corre por dentro de censuras miúdas, de vendas tímidas, de plateias pequenas, e insiste em ficar. Quando a cidade se silencia, a marcha retorna, baixa e precisa, chamando de novo o bloco para a rua.