Autor: Revista Bula

Campos de Carvalho: o homem que riu por último. O escritor que ensinou o delírio a pensar

Campos de Carvalho: o homem que riu por último. O escritor que ensinou o delírio a pensar

Entre o ofício diário e a desobediência da palavra existe um intervalo fértil, região de autores que preferem a fresta ao alarde. No Brasil do século 20, com modernização rápida, censuras e entusiasmos, uma voz escolheu ironia seca e absurdo rigoroso para desmanchar certezas respeitadas. A leitura provoca riso inquieto; a imaginação recusa arranjos fáceis e exige atenção. No centro desse gesto está um autor de obra breve e resistente, mantida por debates críticos, reedições e descobertas tardias, sempre à margem de modismos e pressões de ocasião.

José J. Veiga. O escritor que morreu duas vezes. O cânone o esqueceu. Os leitores o trouxeram de volta

José J. Veiga. O escritor que morreu duas vezes. O cânone o esqueceu. Os leitores o trouxeram de volta

Nasceu em 1915, entre Corumbá de Goiás e Pirenópolis, em Goiás; aprendeu o ofício em rádios e redações, antes de seguir para Londres, onde, de 1945 a 1949, falou ao Brasil pela BBC. Regressou, editou revista popular, cortou frases, ouviu a rua. Preferiu a discrição ao alarde, publicou tarde, manteve ritmo baixo. Em 1997, recebeu o Machado de Assis. Morreu no Rio de Janeiro, em 1999. Ficou a figura do homem atento: voz baixa e trabalho persistente que evitavam palco.

Morreu aos 24. Mas ensinou um país escravizado a ouvir a própria dor

Morreu aos 24. Mas ensinou um país escravizado a ouvir a própria dor

Uma vida breve acende um horizonte inteiro: quando a língua pública encontra sua hora, a juventude vira trabalho coletivo e um país ainda erguido sobre trabalho escravizado passa a ouvir a própria consciência em voz alta. Entre Bahia, Recife e São Paulo, oratória e poesia se confundem em convocação. O corpo cobra pedágio da língua, mas não a interrompe. A morte chega cedo, e mesmo assim a repercussão perdura em escolas, praças, jornais e cenas de hoje, onde versos antigos seguem escavando espaço para o ar que faltava.

Taiguara: a tragédia do homem que quis cantar o impossível e pagou um preço alto demais

Taiguara: a tragédia do homem que quis cantar o impossível e pagou um preço alto demais

A cena abre com um piano fechado, tampo sob flanela escura, poeira correndo lenta. Lá fora, a madrugada não termina; aqui dentro, livros, partituras, um abajur aceso. Taiguara respira baixo, mede o ar, encosta a mão nas teclas mudas. O silêncio parece burocrático, dobrado e datado, como se a música já viesse carimbada. Uma etiqueta prende o país inteiro em poucas linhas. A agulha ainda não desce, mas algo vibra. A beleza quer falar.

Do topo das rádios à solidão de um apartamento no Recife: o ídolo que a música brasileira preferiu esquecer

Do topo das rádios à solidão de um apartamento no Recife: o ídolo que a música brasileira preferiu esquecer

Cronista popular nascido em Pesqueira, ele atravessou rádios, táxis e bares com voz grave e humor fino, unindo poesia e notícia. Doze anos de estúdio ensinaram medida, silêncio e corte; depois vieram doença de rio, cadeira de rodas, hemodiálises, tentativas de retorno e uma cidade que não para. Entre cadernos de bolso e recibos guardados, a biografia revela um país comprimido no acetato e nos papéis.