Autor: J.C. Guimarães

Inconformismo e negação em Dag Solstad

Inconformismo e negação em Dag Solstad

Autor de extensa obra literária (mais de 30 livros), Dag Solstad publicou aos 47 anos o surpreendente “Romance 11 livro 18”, editado no país por uma pequena editora, a Numa, em 1997. É, portanto, obra de um autor maduro, no pleno domínio de seu metier. A tradução ficou a cargo de uma expert também norueguêsa que se instalou no Brasil, Kristin Lie Garrubo. Podemos, portanto, confiar nas equivalências linguísticas, das quais muito depende o crédito da ficção literária.

Como são iguais os diferentes, numa guerra

Como são iguais os diferentes, numa guerra

Imagine um ser humano normal e adulto, principalmente do sexo masculino e dito “civilizado”. Tire a coleira (a lei humana) de seu pescoço e deixe-o nu, despido de seu terno Armani. Ele se torna um animal pleno, como qualquer outro, apto a matar como um crocodilo do rio Nilo — uma das feras mais primitivas que existem. Esse animal não tem a mínima compaixão com nenhuma outra espécie, e nem mesmo com seu semelhante. Elimina o outro sem considerar sexo e idade: pode ser velho, mulher ou criança.

Tolstói, o autor que escancarou a injustiça dos tribunais e a hipocrisia da igreja

Tolstói, o autor que escancarou a injustiça dos tribunais e a hipocrisia da igreja

Tolstói se empenha em demonstrar o quanto os injustiçados são produtos mais do meio do que da própria vontade. Nesse sentido, há muito de naturalismo em sua visão do homem. É um grande cético quanto à possibilidade, em geral, de o sistema normativo de leis efetivar a justiça. Em parte porque ela é a base da opressão de uma classe sobre outra, não podendo aplicar-se igualmente a todos. Porque, se assim fosse, teria de punir seus cruéis aplicadores. A imagem sutil que criou para esta distinção de classes corresponde aos dois trens que saem em viagem: um lotado de prisioneiros e, logo atrás, outro conduzindo nobres entediados.

A oficina literária de Liev Tolstói

A oficina literária de Liev Tolstói

“Anna Kariênina”, de Liev Tolstói, foge a uma conhecida convenção do romance — ou, por outra, a maioria dos romances fogem ao padrão antessala de “Anna Kariênina”. Pelo menos, segundo alguns entendidos, nas duas ou três primeiras páginas de um romance “é” necessário apresentar a trama e esboçar os personagens principais. Caso contrário o leitor “perde” o interesse e o romance “naufraga” por falta de interesse, e isto é categórico. Oficinas literárias são cheias dessas dicas, feitas por autoridades no assunto: os ficcionistas atuais.