Autor: Helena Oliveira

No Prime Video: Guy Ritchie surpreende com drama de guerra que entende que coragem não mora no front, mas no que se faz depois Divulgação / Amazon Prime Video

No Prime Video: Guy Ritchie surpreende com drama de guerra que entende que coragem não mora no front, mas no que se faz depois

A primeira impressão engana. Quando a narrativa se abre com o barulho seco das explosões e a poeira que insiste em pairar sobre cada movimento, o impulso inicial é esperar mais um desfile de estratégias militares e declarações inflamadas sobre patriotismo. Mas a história logo vira outra coisa. Existe uma pulsação quase clandestina por trás da ação, algo que atravessa o cenário bélico e se infiltra nos gestos, como se o filme dissesse que a verdadeira batalha não tem nada a ver com munição, e sim com a tentativa de não perder a própria consciência no meio do caos.

Sátira com Brad Pitt na Netflix é o diagnóstico de um sistema que prefere repetir erros Divulgação / Netflix

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A confusão calculada que guia “War Machine” começa muito antes de qualquer explosão, discurso militar ou mapa estratégico. Ela se instala naquele instante desconfortável em que o espectador percebe que não está diante de uma narrativa de guerra tradicional, mas de um espelho deformado o suficiente para revelar verdades que, ditas de forma direta, soariam menos convincentes. O filme encontra força justamente nesse estranhamento: a postura rígida de um general que parece ter sido moldado em laboratório, a coreografia involuntária da burocracia militar e a incapacidade de reconhecer que nenhuma engrenagem funciona como os discursos prometem.

Vencedor do Oscar e com atuação impecável de Viggo Mortensen, filme é joia rara no Prime Video Divulgação / Diamond Films

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“Green Book: O Guia” é um daqueles títulos que parecem, à primeira vista, obedecer a um rádio interno que insiste em suavizar tudo o que é complexo, como se o cinema precisasse sempre envolver o espectador em algodão e mantê-lo protegido de desconfortos maiores. No entanto, o que acontece aqui é menos uma tentativa de adocicar conflitos históricos e mais um experimento curioso de aproximação entre duas subjetividades que, em qualquer outra conjuntura, jamais se tocariam.

Últimos dias na Netflix: longa que escancarou o colapso de um país enquanto narrou a história de uma das maiores bandas dos anos 1980

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A inquietação que envolve “Straight Outta Compton” nasce menos da violência explícita ou das tensões sexuais que tantos comentários reducionistas parecem enxergar, e mais da dificuldade coletiva de lidar com um espelho que devolve, sem delicadezas, uma parte pouco conveniente da história recente dos Estados Unidos. A narrativa pulsa com a energia de quem tentava transformar sobrevivência em linguagem e trauma em discurso, mas muita gente insiste em transformar esse movimento em um julgamento moral raso, como se as contradições desses jovens pudessem ser separadas do ambiente que moldou cada um deles.

Filme com Hillary Swank e Clint Eastwood no Prime Vide vai te desmontar emocionalmente sem pedir licença

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A sala escura sempre teve essa capacidade curiosa de revelar fragilidades que ninguém admite carregar no dia a dia. Em “Menina de Ouro”, o que se impõe primeiro não é a dor, a glória ou o sacrifício, mas a estranha familiaridade de três figuras que orbitam umas às outras como se fossem restos de uma constelação antiga, cada qual carregando uma pequena ruína que se tenta manter em pé a golpes de silêncio. É um relato que recusa sentimentalismos fáceis e, ao mesmo tempo, arranca do espectador uma intimidade desconfortável.