Autor: Helena Oliveira

Comédia dramática com Michael Cera e Kristen Stewart no Prime Video é lembrete de que nenhum adulto sabe exatamente o que está fazendo Divulgação / The Wonder Company

Comédia dramática com Michael Cera e Kristen Stewart no Prime Video é lembrete de que nenhum adulto sabe exatamente o que está fazendo

A viagem improvisada no centro de “Sacramento” nasce daquela inquietação que parece brincar com a própria ideia de estabilidade, como se qualquer plano de vida fosse uma tentativa um pouco ingênua de domar o caos. A primeira impressão é a de que Rickey, vivido por Michael Angarano, age como um desses cometas errantes que cruzam a órbita alheia sem pedir licença, arrastando tudo pelo simples prazer de ver o que sobra em queda livre. Glenn, interpretado por Michael Cera, tenta resistir a essa força centrífuga com a mesma firmeza de quem segura um guarda-chuva em meio a um vendaval: ele acredita no gesto, mas sabe que está condenado a se molhar.

Com Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal e Paul Dano, filme é verdadeiro achado na Netflix Jae Hyuk Lee / Netflix

Com Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal e Paul Dano, filme é verdadeiro achado na Netflix

“Okja”, para quem se dispõe a encarar suas contradições com alguma honestidade, funciona como aquele espelho incômodo que insiste em devolver um reflexo mais nítido do que gostaríamos. A história parece simples o bastante para caber numa conversa distraída, mas rapidamente se transforma num pequeno terremoto moral. Tudo começa com Mija, interpretada por Ahn Seo-hyun, vivendo com seu avô numa área montanhosa da Coreia do Sul, em meio a uma rotina ordenada pela relação quase simbiótica com Okja, o superporco que lhe foi entregue anos antes pela corporação de Lucy Mirando, vivida por Tilda Swinton.

Com Anthony Hopkins, filme no Prime Video adapta peça filosófica que vai te deixar pensando por dias Divulgação / Sony Pictures Classics

Com Anthony Hopkins, filme no Prime Video adapta peça filosófica que vai te deixar pensando por dias

O encontro imaginado entre Sigmund Freud e C. S. Lewis em Londres, no dia em que o Reino Unido declara guerra à Alemanha, funciona em “A Última Sessão de Freud” como uma espécie de laboratório ético improvisado. A casa do psicanalista, já marcada pela dor de um câncer que corrói cada gesto e pelas doses de morfina que o mantêm desperto, vira palco de uma conversa que não busca consenso algum. Freud, interpretado por Anthony Hopkins com um rigor quase clínico, recebe Lewis, vivido por Matthew Goode, ainda carregando as cicatrizes da Primeira Guerra e uma fé reencontrada que tenta justificar para si mesmo.

História emocionante sobre amizade em tempos de crise chega à Netflix após brilhar no TIFF e Cannes Divulgação / Dharma Productions

História emocionante sobre amizade em tempos de crise chega à Netflix após brilhar no TIFF e Cannes

Algo me atingiu logo nos primeiros minutos de “Homebound”: a sensação de que Neeraj Ghaywan decidiu revisitar um país inteiro pela fresta mais estreita possível, aquela em que a intimidade e a falha estrutural se encontram. É curioso como certos filmes nascem silenciosos e, ainda assim, conseguem irradiar um desconforto que não se dissipa. Talvez porque acompanhem personagens que carregam o tipo de esperança fraturada que costuma atravessar fronteiras sociais com mais honestidade do que discursos.

Ficção científica com Adam Driver acaba de chegar à Netflix e é o programa perfeito para quem quer fugir da realidade sem precisar pensar demais Divulgação / Sony Pictures Releasing

Ficção científica com Adam Driver acaba de chegar à Netflix e é o programa perfeito para quem quer fugir da realidade sem precisar pensar demais

Uma produção como “65: Ameaça Pré-Histórica” desperta uma curiosidade quase infantil, daquele tipo que mistura expectativa com a suspeita de que algo está ligeiramente fora do lugar. Não é todo dia que Adam Driver atravessa um território primitivo enfrentando criaturas que parecem ter escapado de um manual ilustrado de paleontologia turbinado por pesadelos. Esse encontro entre ficção científica e sobrevivência poderia ter rendido uma experiência devastadora, daquelas que deixam o espectador reorganizando as próprias teorias sobre evolução e acaso.