Autor: Helena Oliveira

Últimos dias na Netflix: longa que escancarou o colapso de um país enquanto narrou a história de uma das maiores bandas dos anos 1980

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A inquietação que envolve “Straight Outta Compton” nasce menos da violência explícita ou das tensões sexuais que tantos comentários reducionistas parecem enxergar, e mais da dificuldade coletiva de lidar com um espelho que devolve, sem delicadezas, uma parte pouco conveniente da história recente dos Estados Unidos. A narrativa pulsa com a energia de quem tentava transformar sobrevivência em linguagem e trauma em discurso, mas muita gente insiste em transformar esse movimento em um julgamento moral raso, como se as contradições desses jovens pudessem ser separadas do ambiente que moldou cada um deles.

Filme com Hillary Swank e Clint Eastwood no Prime Vide vai te desmontar emocionalmente sem pedir licença

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A sala escura sempre teve essa capacidade curiosa de revelar fragilidades que ninguém admite carregar no dia a dia. Em “Menina de Ouro”, o que se impõe primeiro não é a dor, a glória ou o sacrifício, mas a estranha familiaridade de três figuras que orbitam umas às outras como se fossem restos de uma constelação antiga, cada qual carregando uma pequena ruína que se tenta manter em pé a golpes de silêncio. É um relato que recusa sentimentalismos fáceis e, ao mesmo tempo, arranca do espectador uma intimidade desconfortável.

Para maratonar: série que satiriza 30 anos de cultura pop é mais inteligente do que parece e está na Netflix Divulgação / Hulu

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A primeira impressão que “Future Man” provoca é a de uma provocação travestida de comédia juvenil: nada ali parece disposto a se levar a sério, e talvez seja justamente essa recusa obstinada à solenidade que libere a série para algo mais interessante que a simples paródia. Em vez de repetir a ladainha nostálgica que tantas produções tentam vender como homenagem, ela prefere esgarçar cada referência até o limite do absurdo, como se testasse a paciência do espectador e, ao mesmo tempo, sua cumplicidade.

Filme coreano com humor amoral e caos político vira a melhor surpresa do ano, na Netflix Divulgação / Netflix

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A primeira impressão diante de “Good News” é a de um jogo cuidadosamente armado para sabotar expectativas. A narrativa começa como se alguém tivesse decidido transformar um episódio tenso da história recente do Japão numa espécie de farsa controlada, e a ousadia dessa escolha funciona porque o filme entende perfeitamente o terreno frágil em que pisa. Há senso de risco, mas também um prazer quase insolente em testar os limites do riso diante de um evento real que, em 1970, poderia ter terminado de forma trágica.

Romance francês épico inspirado por Orfeu e Eurídice estreia no Prime Video e promete provocar uma saudade que não tem nome Divulgação / Pyramide Distribution

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“Retrato de uma Jovem em Chamas” cria um tipo de fascínio raro: aquele que não começa no enredo, mas na vibração que antecede qualquer palavra. Existe algo quase insolente na forma como o filme se recusa a oferecer pressa ao espectador, como se dissesse que certas experiências não suportam atalhos. A lentidão inicial, tão mal interpretada por quem espera estímulo imediato, funciona como um ritual silencioso para aproximar o olhar daquilo que realmente importa: dois corpos que aprendem a se reconhecer antes de se tocar.