Autor: Giancarlo Galdino

O filme mais assistido do momento, no mundo todo, na Netflix Divulgação / Netflix

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Heróis, entretanto, obedecem a outra lógica, até (ou principalmente) nisso: essa é apenas uma das impressões a se tirar de “Bala Perdida 3”, a última sequência de thrillers do francês Guillaume Pierret e continuação de uma história de busca por reparação e muito rancor. Pierret recorre a flashbacks dos dois longas anteriores, também dirigidos por ele, para situar o público no enredo, que continua a seguir a lógica de contrapor bem e mal, enquanto vão surgindo outros elementos que conferem um verniz noir à história, bem ao gosto da tradição francesa. Mas nem tudo sai comme il faut.

O livro que colocou Deus, o diabo e a culpa no mesmo tribunal — e fez do leitor o réu

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Todo escritor fala de si mesmo, em maior ou menor grau, seja lá a que contexto esteja se referindo a narrativa. Dostoiévski foi um homem dado a paixões e cheio de ímpetos. O hábito de ler em voz alta textos de teor niilista, materialista e de natureza iconoclasta em geral acabou por traí-lo. Em 23 de abril de 1849, ele foi encarcerado e posteriormente conduzido à fortaleza de São Pedro e São Paulo. Foi aí que começou a nascer “Os Irmãos Karamázov”.

O livro mais perturbador da história nasceu em 1866 — e ainda assombra leitores em 2025

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Dostoiévski é pop, ou, melhor, Dostoiévski continua pop. De quando em quando, o russo sai do ostracismo a que a ignorância pós-moderna o condena e vira tema de filmes, peças de teatro, letras de músicas, exposições — ainda que nem sempre à altura de seu gênio. Dostoiévski talvez seja dos escritores mais aferrados à dúvida de que se tem conhecimento, e tudo nele remonta a incertezas atávicas, as mesmas que sustentam e arrasam o espírito do homem desde o princípio dos tempos. Obras-primas a exemplo de “Crime e Castigo” podem aparentemente sumir, mas voltam antes do que se espera, ainda mais vigorosas, porque sempre há de existir em alguma parte uma alma que sofre.

O mestre do absurdo: Joaquin Phoenix vive o anti-herói que Camus escreveu antes mesmo de nascer Divulgação / The Weinstein Company

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Girando sobre o eixo da necessidade da fundação de um mundo melhor — sem que se saiba exatamente o que viria a ser isso, nem de que maneira atingi-lo —, “O Mestre” desdobra-se como se quisesse fazer uma denúncia, ao mesmo tempo que é profundo demais para caber em tal rótulo. Diretor meticuloso, Paul Thomas Anderson compõe um drama psicológico sobre um veterano perturbado, voltando sem rumo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), até deparar-se com o líder de uma seita pseudo-filosófica e pseudo-religiosa que o acolhe.

O filme mais assistido do Prime Video no momento — Anna Kendrick e Blake Lively em um jogo de mentiras que corta a respiração Divulgação / Amazon Prime Video

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“Outro Pequeno Favor” tem o condão de equilibrar-se entre o drama, o mistério, a investigação de um crime quase óbvio e uma comédia que não se furta a assumir tons ridículos sempre que pode. Em mãos imprudentes, a audácia decerto degeneraria num arrastar sem fim de cenas que nem teriam graça nem empolgariam ninguém, mas Paul Feig tem tarimba o suficiente para lidar com as complicações de cada um desses gêneros, e em todas as cenas de seu filme é notória a sensação de que os elementos, um por um, encaixam-se de modo a fazer da história uma unidade assombrosamente coesa.