Autor: Giancarlo Galdino

Há uma pletora de revolucionárias conclusões no enredo de “A Elefanta do Mágico”, a animação de Wendy Rogers produzida pela Netflix. Rogers parece saber muito bem a força que existe na imaginação, manifesta com todos os simbolismos em trabalhos como este. Compreende-se perfeitamente certa má vontade ao menor vestígio de histórias fantasiosas, protagonizadas por seres inanimados; entretanto, os comentários ranzinzas de adultos descorçoados, logo cedem espaço à sabedoria das crianças que fomos até ontem — e que, em certa medida, nunca deixaremos de ser.

Fernando Meirelles enxergou na Joana de “Perto do Coração Selvagem” o queixo de Dadinho, autometamorfoseado em Zé Pequeno, e a partir dessa feitiçaria digna de Clarice Lispector, o público depara-se com os segredos por ainda serem revelados de “Cidade de Deus”, romance de Paulo Lins que vira um filme sobre o país que agrupa-nos todos, Clarices, Paulos, Fernandos, numa miséria para muito além do lado oeste da capital fluminense.

Marc Fouchard enumera alguns desses episódios constrangedoramente melancólicos e faz de “O Rei das Sombras” uma boa crônica sobre o atrito a que estamos todos sujeitos no convívio com pais e irmãos, até que deixa inescapavelmente claro que as figuras que protagonizam sua história não são bem o exemplo mais recomendado para se tratar de complicações familiares, por mais delicadas que sejam.

O belga Steffen Geypens usa todos os recursos típicos do suspense — e inúmeros outros — a fim de despertar o interesse do espectador e mantê-lo convenientemente aceso até o desfecho de “O Som do Caos”, hora e meia depois, mas entende muito bem que, como a receita para aborrecer é dizer tudo, deve muito mais sugerir que dar por sacramentadas algumas possíveis verdades insofismáveis desse seu trabalho, tanto no que concerne à forma como ao diz respeito a seu potente conteúdo.