Autor: Giancarlo Galdino

Escritores identitários são premiados pelo que representam, não pelo que escrevem

Escritores identitários são premiados pelo que representam, não pelo que escrevem

A piedade nunca foi boa conselheira. Nos últimos anos, um novo critério parece ter se infiltrado silenciosamente nos bastidores dos grandes prêmios literários: o autor deve receber mais importância do que o que é escrito. Em muitos casos, a indústria literária passou a funcionar obedecendo a lógica semelhante à do marketing: quem representa minorias vende, gera manchetes, dá entrevistas, encaixa-se no discurso das novas gerações e, portanto, merece o investimento. Dar visibilidade a autores fora do cânone é fundamental — o que não significa rebaixar o padrão. Premiar alguém apenas por sua identidade é, em última instância, uma forma sutil de tutela.

Ouvir audiolivro é como dizer que foi ao Louvre porque viu fotos no Instagram: pura autoilusão

Ouvir audiolivro é como dizer que foi ao Louvre porque viu fotos no Instagram: pura autoilusão

A regra é clara: se não postou, não viveu — e que caiba no intervalo entre duas notificações. Quem é tão desocupado para conseguir ler um livro da primeira à última página, e, absurdo dos absurdos, sozinho com seus botões fazer um esforço para digerir o que acaba de registrar? Os audiolivros, dizem, são uma forma moderna de preservar-se alguma intimidade com a literatura, mormente num mundo onde tempo é, de fato, dinheiro, mas essa ideia esconde um atravanco monumental: o culto irrestrito à produtividade.

Podcasts são a nova forma de parecer inteligente sem precisar ler nada

Podcasts são a nova forma de parecer inteligente sem precisar ler nada

“A vida é breve, a arte é longa, o tempo é afiado; tentar é arriscado, julgar é difícil”. Nesses cinco apontamentos Hipócrates (460 a.C. — 377 a.C.) foi de uma precisão de bisturi, insinuando ainda que há um atalho entre o tempo cronológico, finito, e a eternidade, que perscruta-nos a todos. Ser culto já foi ter uma noção ainda que elementar dos clássicos, pensamento inovador, capacidade analítica; hoje, saber que influenciador digital procurar e lembrar os episódios que mais viralizaram é o suficiente. Por trás do fenômeno esconde-se uma modalidade bastante peculiar de ignorância, a ignorância autoritária.

7 livros tão bons que até fazem valer a pena perder um sábado de sol

7 livros tão bons que até fazem valer a pena perder um sábado de sol

Bons livros não servem para serem lidos. Bons livros são um maravilhoso paradoxo, a lembrar-nos que sonhos existem para todo aquele que sonha, fechando-nos na certeza de que a vida sem sonho é o pior dos cárceres. Livros jamais roubam dias de sol nem coisa alguma, pelo contrário; neles repousa a eternidade inteira, uma eternidade nem sempre mansa, até violenta, mas reveladora. É o que se verifica nos sete títulos que juntamos, cada qual com sua luz, seu calor, sua pulsão de vida, na perfeição idiossincrásica que despreza o senso comum.

Vale a pena ficar em casa para assistir à nova série do criador de Dawson’s Creek e Pânico Dana Hawley / Netflix

Vale a pena ficar em casa para assistir à nova série do criador de Dawson’s Creek e Pânico

Os Buckley dominam muito mais que o mar e a terra em Havenport, fictícia cidade costeira na Carolina do Norte, e por isso “O Píer” assemelha-se tanto a muito do que já foi mostrado antes. Muita coisa acontece no primeiro dos oito capítulos, mas Siega é hábil em fazer um apanhado do que se irá ver sem que se perca a vontade de esperar que aconteça.