Autor: Giancarlo Galdino

O filme que vai dividir famílias: e se o governo decidisse quem pode ter filhos? Magnus Jønck / Magnolia Pictures

O filme que vai dividir famílias: e se o governo decidisse quem pode ter filhos?

No mundo ideal, famílias só começariam depois de observados alguns passos elementares. A estranheza de “A Avaliação” não é tão diferente de muitos filmes sobre o futuro de nossa espécie, salvo por incluir na equação a inexorabilidade dos avanços da ciência, uma bênção e um flagelo a depender de quem os conduza. Fleur Fortuné acerta em cheio ao mirar os eternos desejos e insatisfações humanos, busca que nem sempre termina bem. O ótimo texto dos roteiristas John Donnelly, Nell Garfath Cox e Dave Thomas acha eco numa das grandes agonias da contemporaneidade, majorada por nosso ímpeto profano de emular a onipotência divina.

Por que mulheres inteligentes estão obcecadas por romances tóxicos em filmes como: Má Influência Divulgação / Netflix

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Há uma tragédia em “Má Influência”, mas bem que poderiam haver mais. O filme da espanhola Chloe Wallace segue a tendência das histórias que começam como comédias (quase) românticas e evoluem para thrillers que flutuam entre a tensão sexual e a prevalência de índoles diabólicas, eivando de maldição aqueles em que tocam. O roteiro de Wallace e Diana Muro está assentado no fluxo de consciência de uma vilã que só se revela na undécima hora, cereja de um bolo meio insulso que só faz voltar a receitas já testadas antes.

O livro que antecipa o vício dos cassinos online — e já destruiu milhões de leitores por dentro

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“O Jogador” é uma história sobre amores efêmeros e pequenas vinganças. Dostoiévski conheceu de muito perto o inferno de ter se tornado presa da jogatina, e neste suspense psicológico de sua fase intermediária tenta conduzir o leitor pelo dédalo de emoções contraditórias que o assaltaram durante uma viagem à Europa Ocidental. Para evitar problema com a lei, situa seus personagens na cidade fictícia alemã de Roletemburgo, trocadilho óbvio para designar um lugar corrompido pelo tilintar das fichas e pelo sobe e desce do baralho, expediente que faz a desgraça de todos eles.

O livro mais misterioso da literatura brasileira — e que virou refúgio secreto de quem pensa demais

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Publicado em dezembro de 1943, dezesseis anos antes da ida de Clarice para a Zona Sul carioca — para onde fora levada quando decidira se separar do marido —, “Perto do Coração Selvagem” escrutina as primeiras descobertas de Joana, muitas, claro, afeitas à paixão e ao sentimento amoroso mais elaborado, e à medida que o livro se agiganta e Joana torna-se mulher, o leitor percebe quão ingênua, quiçá tola, era a protagonista. Em seu romance inaugural, Clarice já demonstrava a incontrolável vontade de rever a condição feminina a partir de pontos de vista que deveriam ser óbvios, mas provam-se reveladores, empenhados num mergulho corajoso na dialética das emoções humanas.

O filme mais assistido do momento, no mundo todo, na Netflix Divulgação / Netflix

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Heróis, entretanto, obedecem a outra lógica, até (ou principalmente) nisso: essa é apenas uma das impressões a se tirar de “Bala Perdida 3”, a última sequência de thrillers do francês Guillaume Pierret e continuação de uma história de busca por reparação e muito rancor. Pierret recorre a flashbacks dos dois longas anteriores, também dirigidos por ele, para situar o público no enredo, que continua a seguir a lógica de contrapor bem e mal, enquanto vão surgindo outros elementos que conferem um verniz noir à história, bem ao gosto da tradição francesa. Mas nem tudo sai comme il faut.