Autor: Fábio Assis Evangelista

Haverá explosões no laboratório

Haverá explosões no laboratório

Há mais, sempre há mais: ela é daquele tipo que veio feliz de fábrica; já eu vim ao mundo com excesso de algumas arruelas que deveriam ser mais ajustadas para uma sintonia mais afinada da minha melancolia. Vivo com a tarefa do aprendizado diário de como morrer, como escreveu Rilke. Não me entendam mal, não sou infeliz; antes, a certeza da finitude terrena e a minha fé católica me deram certo senso de “carpe diem”, “matamos o tempo e o tempo nos mata”, “ninguém se molha duas vezes no mesmo rio”.

Funcional era só o loft

Funcional era só o loft

Assim encerrei, no meu texto anterior, “Corro Jardins”, a primeira parte da crônica das minhas ilusões e desilusões amorosas. Onde parei? Ah, sim, eu estava cursando Direito e mal notara que R. fora invadindo a minha vida, derrubando muralhas e ocupando torreões. Longos anos passei com R.; o futuro traria, assim pensávamos, casamento e filhos, mas sinto hoje que já àquela época eu e ela víamos que havia alguma engrenagem que não funcionava bem no nosso relacionamento.

Corro jardins alheios

Corro jardins alheios

Acostumei-me, já se notou, com fracassos e vitórias pequenas; na verdade, eu pouco me incomodava com a minha situação amorosa. Por estar acomodado às miudezas cotidianas daquela existência que eu ia gastando, pouco notei como R. foi invadindo a minha vida; quando me dei conta, até as nossas famílias já se conheciam. E então nós nos amamos e depois nos odiamos durante longos anos.