Autor: Eberth Vêncio

Bebendo na fonte de Ângela Ro Ro

Bebendo na fonte de Ângela Ro Ro

Não a conheci numa reunião dos alcoólicos anônimos. Não, isso não. Dotado da minha porção mulher que até então se resguardara — como diria Gilberto Gil — marcamos um encontro num bar situado entre Ipanema e Leblon. Só eu compareci. Eu a reconheci de longe, por causa do farol fulminante de seus olhos agateados e uma voz rascante informando ao maître que uma pessoa já não lhe aguardava mais.

Quando o meu amor pela vida estiver secando

Quando o meu amor pela vida estiver secando

Na meninice e na juventude, priorizava o ócio, o lúdico, a poesia, o amor platônico, os sonhos mirabolantes e uma gama de insignificâncias que não enchiam a barriga de ninguém, como diria o meu velho. Como podia uma canção estorvar o meu dia daquele jeito? Nunca fora fluente no idioma inglês. Tirei do bolso e abri a minha própria Caixa de Pandora: o telefone celular.

Entrevista perdida de Raul Seixas deixa claro que ele foi maior do que Elvis

Entrevista perdida de Raul Seixas deixa claro que ele foi maior do que Elvis

A despeito da vigência da mediocridade na seara cultural contemporânea, com a ascensão meteórica de artistas ordinários de última hora, ilustres desconhecidos sem o devido escopo qualitativo que se espera deles, em especial nas redes sociais da internet infestadas pela escumalha de patéticos influenciadores digitais, qualquer pessoa minimamente insana, sensível e desequilibrada saberá dizer quem foi Raul Seixas e conhecerá, ao menos, uma de suas canções.

O amor é um tormento

O amor é um tormento

A manhã se abre entre o pão na chapa e o café amargo, mas a mesa se transforma em espaço de confissão. Orlando revela a agonia do coração materno prestes a romper, aneurisma que ameaça a vida. Maranhão convoca as sombras da própria infância: a mãe perdida cedo demais, a pobreza sem trégua, os abusos silenciados pelo tempo. Entre memórias e dores, ambos constroem uma comunhão rara, marcada pela franqueza crua da existência. No silêncio que sobra, permanece a certeza: o amor é tormento.

O desejo é um cão dos diabos

O desejo é um cão dos diabos

Na Vara da Família, esperava-se silêncio solene, mas o que se ouvia era o barulho de um juiz em apuros sentimentais. Entre perucas andróginas, escapadas nas docas e um assessor fiel demais, a vida de Sua Excelência parecia mais comédia de bastidores do que drama de tribunal. Havia whisky sobre a mesa, culpa nos olhos e chantagem no ar. A cada revelação, menos toga e mais farsa, como se a moral e os bons costumes fossem apenas figurino mal costurado.