Autor: Eberth Vêncio

Besteirada

Besteirada

Tudo em excesso enjoa. Até sexo. No duro. Sem trocadilhos infames, por gentileza. Sexo demais pode acabar em verrugas, enjoos, estrias, filhos e pensões alimentícias. Cuidado! Meninos vestem azul. Meninas vestem rosa. Doidos varridos vestem camisa-de-força. Na medida em que se envelhece, as expectativas de um indivíduo para o Natal vão se arrefecendo, a ponto de se transformar na falta delas.

A Síndrome de Burnout do Papai Noel

A Síndrome de Burnout do Papai Noel

Quem não chora não mama. Mas certas coisas — tenha a santa paciência! — não se pedem. Ainda mais para o Papai Noel. O amor de alguém, por exemplo. Pois é patético mendigar afeto, um sentimento que não se suplica, tendo em vista que deve brotar espontâneo e cristalino como água de mina. Nem todo mundo já teve a oportunidade de conhecer a nascente de um rio, embora, todo riso corra para um mar de lágrimas, sejam elas de tristeza ou de contentamento.

Sem camisinha é mais caro

Sem camisinha é mais caro

O mundo não girava. Capotava. A Caixa de Pandora tinha sido aberta e as pessoas andavam mais alopradas do que nunca. Era Jesus na goiabeira. Terra plana. Movimento antivacina. A avassaladora onda de negacionismo à ciência. E o risco iminente de golpe militar no país. Não me perguntem como, quando, onde e sob que circunstância. Fato é que eu conversava com uma garota de programa chamada Scarlett.

A vida imita a arte. Eu imito Ernest Hemingway

A vida imita a arte. Eu imito Ernest Hemingway

Fazia uma fresca manhã de outono. Estacionaram os idosos em cadeiras de rodas para o tradicional banho de sol. Fazia bem para os ossos. E para o ócio. Mais ignorantes do que a média feminina, os homens quase sempre morriam primeiro. De tal sorte que havia muito mais velhas do que velhos naquele abrigo. Alheios ao mulherio, dois internos conversavam, sob algum grau de incompreensão mútua, tendo em vista que ambos estavam praticamente surdos como uma porta.

Eu escrevo porque escrever não me leva a nada

Eu escrevo porque escrever não me leva a nada

Naquela época, em meados dos anos 1970, a ditadura militar imperava no país e eu ainda não fazia a mínima ideia do que significasse uma vida adulta desvirtuada por sonhos adulterados. Só pensava em brincar, em ir à escola, em escrever historinhas pueris inspirado no acervo precioso de um Monteiro Lobato, com a barriga colada no chão frio que recendia a cera de embalagem econômica. A minha perspectiva de vida, portanto, era tão superficial, rasa e rasteira quanto as pegadas no piso vermelhão da casa de família de classe média em que fui criado.