Myrtle Dunnage retorna a Dungatar como uma sombra do passado. Preferindo ser chamada de Tilly, ela volta à sua cidade natal após cerca de trinta anos e uma série de memórias dolorosas. A pequena cidade fictícia no interior da Austrália, criada pela escritora Rosalie Ham, torna-se o palco para Tilly, que alega estar lá para cuidar de sua mãe doente. No entanto, sua verdadeira intenção é recuperar um fragmento de dignidade, sem importar-se com sua fama como costureira renomada, e liberar as emoções contidas que dão nome ao filme “A Vingança Está na Moda”. Este faroeste estilizado centra-se na tragédia pessoal de uma mulher que oculta suas cicatrizes com tecidos luxuosos, quase como uma alta-costura francesa.
Sob a direção de Jocelyn Moorhouse, as aventuras de Tilly ganham vida. Moorhouse, adaptando o romance “A Modista” de Ham publicado em 2000, enxerga em Tilly uma necessidade urgente de afeto mesclada com uma resistência feroz a tudo e todos, um sentimento que se intensifica quando decide se estabelecer na terra de onde foi expulsa. O roteiro, coescrito com seu marido P.J. Hogan, conhecido pela comédia romântica “O Casamento de Muriel” (1994), incorpora um feminismo assertivo sem perder o charme, abraçando o espírito da época e explorando o poder terapêutico do amor. É uma combinação atraente.
Histórias de vingança feminina têm ganhado destaque na recente produção cinematográfica, como visto em “Bela Vingança” (2020), um thriller com elementos de noir que rendeu a Emerald Fennell o Oscar de Melhor Roteiro Original, e “Mademoiselle Vingança” (2018), uma adaptação de Emmanuel Mouret baseada em “Jacques, o Fatalista, e Seu Amo” (1778), de Denis Diderot. Essa temática de reparação é explorada por cineastas ao redor do mundo, e em “A Vingança Está na Moda”, Moorhouse e Hogan parecem buscar rivalizar com a excentricidade de Tim Burton e David Lynch.
Tilly nunca revela claramente suas intenções ao voltar para Dungatar, e o público se vê encantado por sua aparência impecável, escondendo uma justiça severa e um instinto aguçado para identificar aliados e inimigos em sua jornada. Numa das primeiras cenas, Tilly chega à casa da mãe, Molly, uma mulher doente e desequilibrada, usando um vestido harmonioso em tons claros e escuros e um chapéu elegante, evocando Chanel — embora o sargento Farrat, responsável pela ordem na cidade, acredite ser um Dior legítimo.
Hugo Weaving, como o sargento Farrat, se destaca com uma atuação que vai além do mero alívio cômico, criando uma dinâmica interessante com Tilly, interpretada por Kate Winslet. A química entre os dois é tão intensa que ofusca a performance de Judy Davis como Mad Molly, que é simultaneamente engraçada e trágica.
Após ganhar o Oscar de Melhor Atriz por “O Leitor” (2008), Kate Winslet entrega ao público uma personagem complexa em Tilly, uma figura sombria suavizada pelos figurinos de Margot Wilson. A narrativa segue para um desfecho sangrento similar ao de “Bela Vingança”, mas com um toque de romance. À medida que Tilly se integra à comunidade de pessoas desagradáveis e mesquinhas, ela encontra consolo no interesse mútuo de Teddy McSwiney, interpretado por Liam Hemsworth. Apesar da diferença de idade, o envolvimento amoroso oferece a Tilly uma fuga das amarguras do passado. Se a vingança é o tema dominante, o amor ainda desperta esperanças nas mulheres de todas as idades.
Filme: A Vingança Está na Moda
Direção: Jocelyn Moorhouse
Ano: 2015
Gêneros: Comédia/Faroeste
Nota: 9/10