Se você ama “O Profissional”, de Luc Besson, precisa assistir esse thriller de tirar o fôlego que acaba de chegar à Netflix Divulgação / Vision Distribution

Se você ama “O Profissional”, de Luc Besson, precisa assistir esse thriller de tirar o fôlego que acaba de chegar à Netflix

“Roma em Chamas” é um thriller policial cheio de som, fúria, balas cortando o espaço e um olor de pólvora que, claro, não passa para quem assiste, mas hipnotiza aqueles que gostam mesmo de histórias como essa. O filme de Stefano Sollima se vale de todos os recursos visuais disponíveis para destrinchar um tema velho como o mundo, o que Sollima já fizera com grande competência em “Sicario: Dia do Soldado” (2018), a guerra muito particular de um homem contra o narcotráfico depois que o chefe de um cartel acaba com sua família.

Os dois trabalhos do diretor têm óbvios pontos de contato, porém aqui ele vira a chave para e arrisca um palpite sobre como deve ser a vida de um ex-mafioso que permanece no radar de seus antigos companheiros, inspirando uma desconfiança mortal por ter tido a ousadia de abjurar a fé sinistra com que ganhara dinheiro e fama. O roteiro de Sollima e Stefano Bises se fixa nesse argumento um tanto improvável para discorrer acerca do poder da autossugestão e de quão avassaladora é a fome de vingança, especialmente quando há forças influentes demais agindo para que realidades sombrias nunca mudem.

Na abertura, carros numa ponte, na direção contrária de Roma, dão a justa ideia de fuga. A fotografia de     Paolo Carnera captura a angústia daqueles motoristas, malgrado eles não apareçam, e pouco depois, a Cidade Eterna se apaga, como se voltasse aos tempos de Nero (37-68). Nota-se ao fundo um imenso paredão de fogo e suas labaredas que engolem tudo, metáfora para o caos que se apossa de uma terra sem lei que não sabe mais a quem recorrer.

Manuel Coretti, um garoto assustadiço, enfrenta seus próprios dramas, e o espectador sente como se ele também fugisse do calor assassino, mas se deparasse com perigos contra os quais não é capaz de lutar. Diante do grande desafio de sua curta vida, o personagem de Gianmarco Franchini é perseguido por uma organização paramilitar chefiada por Vasco, um policial que enriquece às custas das gordas propinas para fechar os olhos das autoridades às pequenas e grandes transações envolvendo cargas de cocaína e opioides e grupos de extermínio, aquelas sempre ligadas a esses.

Adrian Giannini dá a vida ao lobo em pele de cordeiro de “Roma em Chamas”, mas sempre que entra em cena sabe-se também que só ganha tanto destaque por causa de Daytona, o pai de Manuel, um ex-aliado do gângster que, tudo indica, vai pagar com a própria vida a audácia de ter deixado o esquema. Como já se disse, o incêndio florestal que faz a capital da Itália arder serve apenas de figura de linguagem para que Sollima vá se aprofundando num tópico sem soluções fáceis, mas, como diz o adágio, onde há fumaça há fogo. E onde há fogo há transformação.


Filme: Roma em Chamas
Direção: Stefano Sollima
Ano: 2023
Gênero: Drama/Thriller/Policial
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.