A comédia nada bobinha com Joaquin Phoenix e Emma Stone, na Netflix, que vai desafiar seu cérebro Divulgação / Sony Pictures

A comédia nada bobinha com Joaquin Phoenix e Emma Stone, na Netflix, que vai desafiar seu cérebro

Escrito e dirigido por Woody Allen, “Homem Irracional” é uma dessas comédias que não parecem nada cômicas, até que você perceba uma certa ironia nas entrelinhas. Protagonizado por Joaquin Phoenix e Emma Stone, o longa-metragem narra a estranha passagem de um professor angustiado, Abe Lucas (Phoenix), que chega a uma universidade para lecionar filosofia. Sua reputação ecoou abundantemente pelos corredores e pátios do campus antes que ele estacionasse seu Volvo quadrado em frente a um dos dormitórios pedindo informações sobre onde seria Jessup Hall, o prédio administrativo.

Com 15 quilos a mais para o papel, Phoenix como Abe Lucas ainda evoca um certo charme. Seu personagem, embora seja um acadêmico renomado e carregue um certo status intelectual, leva consigo a reputação de conquistador, um homem que levou dezenas de estudantes para a cama. Outros rumores incluem o fato de ter sido traído e abandonado pela esposa e de ter perdido o rumo após a morte de seu melhor amigo de infância, um jornalista, durante a cobertura de uma guerra.

A fama de Abe Lucas exerce um certo fascínio sobre Jill Pollard (Emma Stone), uma aluna inteligente e ingênua, que desenvolve uma amizade com o professor e se apaixona por ele por causa de seus diálogos “profundos” e “complexos”. Abe Lucas é mais uma caricatura de um intelectual romântico e torturado por uma angústia existencial, que constantemente cita Dostoiévski, Kierkegaard, Kant e Simone de Beauvoir, oferecendo ares de insuportável pedância e genialidade incompreendida, quando está mergulhado em superficialidade e futilidade.

Jill faz o papel da adolescente tonta que se vê irrevogavelmente devota da imagem que criou de um homem que se supervaloriza, mas que tem alguma camada de intelectualidade, já que seus estudos reverberam entre a comunidade acadêmica.

Obcecada, ela passa a maior parte do tempo conversando com Abe Lucas e, quando não está com ele, está falando sobre ele. Apesar disso, ele resiste às investidas da estudante e começa a se encontrar secretamente com outra professora, Rita Richards (Parker Posey), uma mulher casada e entediada, que sonha em deixar o marido e se mudar para a Espanha.

Até que uma conversa despretensiosa desperta um desejo obstinado, sombrio e latente em Abe Lucas. Quando ele escuta uma desconhecida contar a amigos, em uma cafeteria, sobre um juiz corrupto que dará a guarda de seus filhos ao ex-marido e pai desnaturado das crianças, Abe acredita que poderá fazer justiça com as próprias mãos. Como um vigilante oculto, desconhecido dos envolvidos na questão, ele decide assassinar o magistrado, acreditando estar cometendo o crime perfeito.

Depois de praticar o homicídio, Abe Lucas se sente finalmente vivo e livre de todas as suas dores existenciais. Se sentindo um defensor dos fracos e oprimidos e vingativo contra os maus, ele realmente acredita que fez a coisa certa. No entanto, os desdobramentos mostrarão que ele foi mais desleixado com o plano do que imaginava, trazendo à tona seu crime por todo o campus.

“Homem Irracional”, na Netflix, está longe de ser um filme perfeito. Sequer um dos melhores de Woody Allen. Mesmo assim, um filme mediano de Woody Allen é bem superior à maioria das coisas que são lançadas por aí. Com atuações extraordinárias, direção metódica e todas as características que se tornaram marca registrada de Allen, “Homem Irracional” vale o momento.


Filme: Homem Irracional
Direção: Woody Allen
Ano: 2015
Gênero: Comédia/Drama
Nota: 8/10