Debate civilizado

Debate civilizado

O sujeito vinha dirigindo o seu carro, tranquilamente, pensando na vida, quando o sinal ficou vermelho. Distraído, ele não conseguiu frear e bateu na traseira do carro da frente. Ele não perdeu tempo: saiu rapidamente do seu carro e seguiu convicto, a passos firmes, para tentar colocar a culpa no outro motorista. Já foi falando:

— Você freou de repente! A culpa é sua! Eu sou advogado! Vou te processar!

O motorista da frente demorou para sair do carro e o sujeito continuou:

— Eu vou te botar na justiça! Você está ferrado, seu idiota!

Quando acabou de pronunciar a palavra “idiota”, ele viu a porta do carro da frente finalmente abrir e conheceu por inteiro o seu oponente: Era uma figura enorme, parecia o Arnold Schwarzenegger, só que um pouco mais largo e mais alto, além de careca e com o corpo tomado por tatuagens. Arnold já saiu do carro gritando:

— Seu %$#%¨%  ! A culpa é de quem está atrás! %$%&*&¨%!

O advogado reduziu a marcha e mudou a sua tática:

— Não, você está certo, a culpa foi minha.

 Arnold pareceu não escutar, pois continuou a gritar:

— Seu &¨%$**(***! Vai ter que pagar!

— Calma, amigo. Eu pago tudo.

— Eu não sou seu amigo! Esse conserto vai custar uma fortuna, seu %$%$$%$!

— Eu pago o dobro!

Ao ouvir essa proposta, Arnold calou seus impropérios. Baixou o tom:

— Como assim paga o dobro?

— Pago o dobro do que você gastar, qualquer coisa para a gente não precisar brigar.

Arnold parecia pensar. Depois de um tempo, respondeu:

— O dobro não dá.

— Por que não dá?

— Porque aí você me quebra, pô!

— Como assim? O dobro não é suficiente?

— É mais do que suficiente. Esse é que é o problema.

— Não entendi.

— Olha pra mim. Eu fico 6 horas por dia puxando ferro. Mais 6 horas numa academia de MMA. Eu passo o ano inteiro esperando uma oportunidade como essa…

— Que oportunidade?

— Pô, a chance de encher um sujeito de porrada estando com a razão. Aí você chega e me tira essa oportunidade? Como é que eu vou te encher de porrada se você me pagar o dobro?  A questão é que não vai dar para você sair daqui sem tomar umas porradas. Pega mal para mim.

— E a gente pode pelo menos negociar?

— Negociar o quê?

— Vamos negociar essa porrada. Você me porra, mas não faz muito estrago. Deixa a cara de fora. E a perna também. Sabe como é: Passar um tempo de muleta é um saco.

— Mas se tu sair de cara limpa, a minha rapaziada vai achar que eu estou ficando bundão…

Negociaram. O sujeito pagou o conserto do Arnold e saiu com o braço esquerdo quebrado e algumas escoriações no rosto.

Nada como um debate civilizado para resolver as questões do dia a dia.