Um brinde à diversão: novo filme da Netflix vai te servir um prato cheio de ação salpicado de comédia Divulgação / Netflix

Um brinde à diversão: novo filme da Netflix vai te servir um prato cheio de ação salpicado de comédia

Escrito e dirigido por Andy Kasrils, “O Pequeno Roubo do Grande Nunu” é um filme de ação apimentado com comédia e crítica social. Quando o Entregador (Jefferson Tshabalala) vai até Sgodiphola para levar um fogão que acaba extraviado, ele vai até Punchununu (Tony Miyambo), líder de uma gangue local, para reivindicar o eletrodoméstico. Lá ele troca tiros com alguns criminosos e cai nas graças do chefão por ser um excelente atirador.

Durante uma conversa com o chefe da máfia, apelidado de Nunu, o Entregador revela seu passado como soldado, o que explica sua intimidade com armas de fogo. Em um diálogo marcante, Nunu diz ao Entregador que ele consegue fazer seu revólver tocar uma melodia. Em resposta, o ex-soldado responde que ele é um guitarrista profissional. Essa troca de metáforas me lembrou de “Era Uma Vez no Oeste”, faroeste espaguete de Sergio Leone, lançado em 1969 e estrelado por Charles Bronson e Henry Fonda.

O apelido de Bronson no filme é Harmonica, isso porque ele é conhecido tanto pela sua virtuosidade em tocar gaita quanto pela sua rapidez em sacar sua pistola. Kasrils traça esse paralelo entre o Entregador e Harmonica, ambos assassinos profissionais com um histórico misterioso. Mas o filme de Kasrils, embora seja também uma espécie de faroeste da África do Sul, tem muito mais elementos cômicos.

Nunu convence o Entregador de se unir ao grupo para realizar um grande assalto a um carro-forte. Antes disso, o ex-soldado deve ajudar a gangue treinando seus membros em tiro. Sem muito a perder na vida, o Entregador aceita o trabalho, mas há sempre uma desconfiança que paira o relacionamento entre ele e a gangue.

Mas é importante pensar nesses criminosos como parte de uma sociedade precarizada. Eles eram trabalhadores de uma antiga fábrica local que foi fechada e deixou boa parte da cidade desempregada. Nunu os contratou para reerguer sua vila industrial e tirar as famílias da miséria, mas também para marcar aquele território como seu. O plano de Nunu não é apenas o assalto, mas ocupar a fábrica e, literalmente, tomar os meios de produção. Na mente do mafioso e de seus capangas, o que fazem é uma espécie de revolução. Nunu se vê como uma espécie de Messias, que irá salvar seu povo. O grande problema é que ele e seus homens não são pessoas muito inteligentes. Ao contrário do Entregador, que consegue pensar bem à frente de todos.

A situação social serve de pano de fundo, que contorna sutilmente a trama maior, do roubo de Nunu com ajuda do ex-soldado. Tudo ocorre de uma forma bastante atrapalhada e desajeitada. Apesar da inexperiência e lerdeza dos criminosos, é o trabalho em grupo e a irmandade, além da determinação em escapar da pobreza, que possibilita que eles consigam roubar armas e bastante dinheiro.

“O Pequeno Roubo do Grande Nunu” segue do início ao fim em ritmo acelerado e dinâmico. Com vários exageros e cenas pouco críveis, ele nos diverte sem que o levemos muito à sério. Apesar dos personagens bobalhões, é o protagonista, o inteligente e esperto Entregador, que conduz a história sem que ela caia na superficialidade e na ingenuidade.

Um filme que sem dúvidas serve para entreter durante seus 91 minutos, nos mostra um pouco sobre a realidade urbana mais vulnerável da África do Sul e nos faz explorar um pouquinho de temas mais sérios, mas sem forçar demais, o longa de Andy Kasrils é uma obra interessante para conhecer.


Filme: O Pequeno Roubo do Grande Nunu
Direção: Andy Kasrils
Ano: 2023
Gênero: Comédia / Policial / Ação
Nota: 8/10