Críticas? Nem aí! Filme de M. Night Shyamalan na Netflix é um balé hipnotizante que deixa você sem fôlego Divulgação / Paramount Pictures

Críticas? Nem aí! Filme de M. Night Shyamalan na Netflix é um balé hipnotizante que deixa você sem fôlego

A luta pela sobrevivência nos cerca em muitas circunstâncias ao longo da vida, impelindo-nos a posturas cada vez mais agressivas, como se a natureza fosse, a um só tempo, uma mestra excessivamente rigorosa e uma inimiga figadal, mas que não se pode eliminar de um só golpe, por guardar para si segredos dos quais depende a perpetuação do homem. Desde o início da prolífica carreira, M. Night Shyamalan parece ter encarnado com gosto uma aura de profeta do caos, e em “O Último Mestre do Ar” o diretor confirma essa vocação apocalíptica em grande estilo ao falar deste mundo como se outro fosse com construções meramente retóricas que a pouco e pouco vão fazendo sentido, mormente para aqueles que já têm uma familiaridade qualquer com a obra de Shyamalan ou, por óbvio, se reconhece no que ele conta. Aqui, os quatro elementos que, segundo Empédocles (495 a.C. – 430 a.C.), filósofo da Grécia Antiga, compõem toda forma de vida e toda matéria, têm seu próprio reino, e os constantes atritos que patrocinam uns contra os outros os enfraquecem a um ponto crítico, sobrando uma ínfima margem para recuo. Esse é o gancho usado pelo diretor-roteirista para levar a narrativa a um terreno onde vários olhos passam a mirá-la, começando, por óbvio, pelos que escondem uma abordagem justificadamente pessimista da humanidade.

Há um século, tudo ia muito bem com o planeta. Os dias eram repletos de prosperidade e equilíbrio, e os habitantes das quatro nações, Água, Terra, Fogo e Ar, entendiam-se como povos distintos entre si, mas irmãos, e não lançavam-se a disputas fratricidas que, cedo ou tarde, haveriam de redundar em chances reais de extinção de tudo quanto vive. Shyamalan explica com método o mote central de seu filme, um desconforto crescente que se vai fazendo notar e espalha-se de um reino para o outro, até que mingue de todo o respeito pelos dominavam a substância que rege sua pátria. Nesse movimento, surge o Avatar, entidade metafísica, mas também humana, que pode dominar os quatro elementos, apaziguar seus reinos e fazer contato com o Mundo Espiritual. Com a orientação dos espíritos, o Avatar preservava a harmonia nos quatro reinos, mas uma hecatombe se abate de modo inclemente sobre esses povos e ninguém tem mais certeza de nada.

A trama simplória, dotada de um conveniente maniqueísmo, faz justiça à fonte de onde saiu. “O Último Mestre do Ar”, adaptação de “Avatar: A Lenda de Aang” (2005), assim como o mangá exibido pela Nickelodeon, acerta ao distribuir este conto de fantasia espantosamente real, entre os irmãos Katara e Sokka, de Nicola Peltz e Jackson Rathbone, guardando o melhor para o desfecho. Noah Ringer personifica o salvador dos quatro reinos com louvável desassombro, bem-vindo contraste com sua figura diminuta, o que é especialmente significativo numa história desse jaez.


Filme: O Último Mestre do Ar
Direção: M. Night Shyamalan
Ano: 2010
Gêneros: Ação/Aventura/Ficção científica
Nota: 8/10