O que a etiqueta carioca diz sobre chegar na hora

O que a etiqueta carioca diz sobre chegar na hora

Eu sou uma pessoa que chega cedo. Se alguém marca um compromisso para as 16 horas, eu acredito que o encontro vai acontecer as 16 horas. Por mais que eu viva no Brasil, nasci aqui e vivi toda a minha vida por aqui, eu tenho esse hábito totalmente estranho ao nosso país: a pontualidade. Não sei de onde tirei isso, ninguém nunca me ensinou que se deve ser pontual, ao contrário, o certo aqui é chegar no mínimo uns quinze minutos depois para não pagar o mico de ser o primeiro a chegar. E eu ainda moro no Rio de Janeiro, aonde chegar na hora é tido até como falta de educação. A etiqueta carioca considera de bom tom chegar pelo menos com uma ou duas horas de atraso.

Mas eu faço pior do que chegar na hora. Eu chego antes! Preocupado em não atrasar, eu acabo saindo cedo de casa e invariavelmente chego uns 10 ou 15 minutos antes da hora marcada, ou seja, pelo menos uma meia-hora antes do HBC — Horário Brasileiro de Compromissos. Porque ninguém vai chegar na hora, mas no mínimo uns quinze minutos depois do horário marcado. Eu sei, eu sou um babaca! Mas e aí, o que fazer? Ora, só resta fazer hora! Mas como gastar o tempo? Eu normalmente dou voltas no quarteirão, entro em alguma loja e finjo estar interessado em algum produto, paro em bancas de jornal para ver as revistas, o que hoje em dia é difícil porque as bancas de jornal só vendem balas e chocolates. Enfim, arranjo coisas sem sentido para fazer até o horário marcado. O problema é que quando a gente está fazendo hora, o tempo não passa. Dou a volta no quarteirão andando bem devagar, esperando que passem uns dez minutos, mas apenas dois minutos se vão e ainda tenho que esperar pra caramba. Então, me sento em algum lugar no local do compromisso e saco o meu celular para ficar nas redes sociais ou para jogar paciência, uma das atividades que mais tenho feito por conta dessa minha mania de chegar cedo.

E aí, quando o amigo chega, quinze ou vinte minutos depois da hora marcada, respeitando o HBC, ele me pergunta:

— Chegou há muito tempo?

E o que eu sempre respondo?

— Acabei de chegar!