Prepare a pipoca: sequência da comédia romântica turca mais vista de todos os tempos acaba de chegar à Netflix Divulgação / Netflix

Prepare a pipoca: sequência da comédia romântica turca mais vista de todos os tempos acaba de chegar à Netflix

Quando a lua-de-mel acaba e a vida como ela é começa mesmo, tudo pode mudar e o sentimento que se cria indestrutível talvez não resista. Essa é a opinião da personagem central de “Táticas do Amor 2”, comédia romântica dirigida por Recai Karagöz que, ratificando o que se tem apreciado do cinema turco, diz algumas verdades com leveza, malgrado insista-se numa visão meio reducionista do amor e seus derivados. Embora a Turquia precise de constantemente responder a “acusações” de que se permitiu ocidentalizar, no fundo, histórias como essa fazem é deixar ainda mais exacerbado, nem tão com tanta sutileza assim, a necessidade do homem em construir e manter seus vínculos, à custa de autossacrifício, passando por cima de preconceitos com o sinal trocado, pela necessidade de manter-se no jogo corporativo, modernices de toda ordem que, depois de um balanço meticuloso, em que se pesam benefícios e desvantagens de uma e outras posturas, ficam longe de ser essa maravilha toda. Não, definitivamente, casamentos não são contos de fadas, e, no altar, ao se dizer sim para quem se ama, não se dá início a nenhuma outra vida, só tenta-se continuar projetos junto com quem se ama, esperando-se que tudo se ajeite da melhor forma possível. Se no filme inaugural Emre Kabakusak situava o enredo em Istambul e na Capadócia, o roteiro de Karagöz leva Kerem e Asli, os candidatos a marido e mulher de Şükrü Özyıldız e Demet Özdemir, para Turunç e Göcek, balneários turísticos à beira do mar Mediterrâneo emoldurados pelas montanhas Taurus, o que não deixa de ser uma estratégia de aproximar públicos estrangeiros.

Asli observa uma amiga fazer mais uma das tantas provas do vestido que vai usar na noite mais solene que já poderá ter vivido, enquanto aproveita para também dar a noiva seus edificantes conselhos, como se tivesse a certeza de que a felicidade da outra só fosse durar o tempo em que ela estivesse sob aquela armadura de tules e rendas. Por seu turno, Kerem encarrega-se de advertir à parte masculina do futuro casal que o fascinante no amor é não saber de que forma ele pode acabar, insinuando que, uma vez que se admite submeter um relacionamento a um conjunto pré-estabelecido de preceitos e normas, clamando-se, na prática, pela aprovação da Igreja, da comunidade e da justiça terrena, nessa ordem, não há nada mais a ser feito além de se observar, estático e em silêncio, a iminência da ruína. Na verdade, os dois contam as horas para o seu grande dia, e no momento em que se pensa que a trama seguirá nessa direção, o diretor-roteirista dá, ainda no primeiro ato, a guinada que justifica seu filme, com a antimocinha interpretada por Özdemir rejeitando o aparvalhado galã de Özyıldız, principiando, assim, o jogo de gato e rata que tempera “Táticas do Amor 2” com picardia na dose exata, sem pesar a mão e dispondo de elementos técnicos como a fotografia de Olcay Oguz no intuito de manter-se aceso o sinal de alerta e não se avançar para discussões mais profundas a respeito de nada. Nas comédias românticas turcas, a vida é um balão colorido no firmamento todo azul.


Filme: Táticas do Amor 2
Direção: Recai Karagöz
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10